Comparação

Comparação. (do lat. cum e par, um ao lado de outro). Operação mental que consiste em discernir, simultânea ou alternativamente, duas ou mais coisas, colocando-as, mental ou fisicamente, de par a par, com o intuito de registrar e descrever o que tenham de comum ou de semelhante, de diferente e distinto. Pode realizar-se entre duas entidades atualmente reais, simultâneas no espaço e no tempo, próximas ou de uma representação e um fato exterior, ou entre meras representações. Em todas estas operações a mente discerne ou busca discernir o que os fatos, postos par em par, tenham de semelhante ou de diferente.

As comparações podem cingir-se não só ao campo físico como também ao noético, ao axiológico, etc. Duas coisas, em face uma da outra, em relação, se tomadas quantitativamente, uma será maior do que a outra, esta menor do que aquela ou de igual tamanho. Serão iguais ou desiguais. Mas tal se dará no emparelhamento (de par) de ambas, independentemente de nós, mesmo que ninguém perceba essa relação. A esta relação de comparação, que também devemos considerar qualitativamente, nenhuma consegue escapar.

Nessa comparação podem ser diferentes, isto é, uma di-fere da outra (de di, igual a bis, dois que levam a dois, que são dois, pois o que difere de outro, leva a outro, são dois e não o mesmo, não se repetem), ou não diferem, e são iguais. Dois objetos comparados são distintos por serem dois, mas são diferentes se suas notas permitem que se diga de um, o que não se diz totalmente do outro. Assim, dois objetos podem ser distintos e diferentes ou diversos.

Devemos considerá-la como: a) meramente real, independente de nós: a que se dá nas relações entre as coisas, e b) através da intuição que se realiza pelo nosso relacionamento com o relacionamento das coisas.

As coisas, pertencentes ao mundo objetivo, têm posicionalidade no tempo e no espaço, e elas têm, por sua vez, estrutura, a qual implica a primeira. Os objetos ideais, enquanto ideais, têm posicionalidade no tempo psíquico, onde se estruturam como esquemas num eu de posicionalidade tempo-espacial. Os objetos têm posicionalidade no tempo e no espaço. Os esquemas abstratos, como meramente ideais que são, estão incluídos em esquemas abstratos de temporalidade e de espacialidade (ideais também), sem existência no mundo exterior, enquanto tais, mas com referência ao objeto, pois se nem o esquema abstrato de nada pode excluir a objetividade para ser pensado, muito menos as ideias de possíveis.

No complexo tempo-espacial temos a pluralidade de tensões. Considera-se que não rege para os objetos ideais nem o tempo nem o espaço (por exemplo, os números). Mas esses objetos ideais não são subsistentes de per si, como separados na ordem universal, que os contém em potência ou em ato.

O mundo das ideias platônicas não é, como frequentemente se julga, algo que se desse topicamente fora deste, em sentido espacial. As ideias não têm topicidade, mas têm a significabilidade das coisas que as apontam como símbolos que são estas. Por isso uma ideia, a de bem por exemplo, pode ser captada por vários atos de pensar, sendo ela sempre o mesmo pensamento, desde que não consideremos o que há de hilético, de empírico, de fático, que a ela se junta na experiência individual. Os objetos metafísicos não são entidades que se possam hipostasiar como subsistentes de per si, mas como subsistentes na ordem do ser (ontológico). Elas constituem a idealidade real do ser e são afirmadas pela realidade ideal deste. (1)

(1) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.