Cosmo, Cosmologia, Cosmogonia, Cosmovisão

Cosmo. Do grego kosmos. 1. Palavra grega que significa “ordem”, “universo”, “beleza” e “harmonia” e que designa, em sua origem, o céu estrelado enquanto podemos nele detectar certa ordem: as constelações astrais e a esfera das estrelas fixas. Por extensão, designa, na linguagem filosófica, o mundo enquanto é ordenado e se opõe ao caos.

2. Na física aristotélica, domina o modelo de um cosmo finito, bem ordenado. Tanto a concepção aristotélica quanto a escolástica do mundo valorizam o mundo “supralunar” cujos objetos incorruptíveis (planetas, Sol e estrelas fixas) são organizados numa ordem eterna e perfeita, por oposição ao nosso mundo “sublunar” desordenado, submetido à corrupção e ao “fluxo do devir”. Os movimentos dos objetos do mundo supralunar são uniformes, circulares (o círculo é a figura perfeita) e eternos. Mas os objetos do mundo sublunar traduzem uma “intenção de ordem”, pois uma pedra lançada ao ar, por um movimento “violento”, busca seu lugar “natural”.

3. Com a revolução científica e mecanicista do séc. XVII, já anunciada por Copérnico, altera-se totalmente a imagem aristotélico-ptolomaica de um mundo fechado, eterno e finito, que é substituída pela concepção de uma causalidade cega num espaço geometrizado. Doravante, não é mais a Terra, mas o Sol, que se encontra no centro do mundo.(1)

Cosmogonia. Teoria sobre a origem do universo geralmente fundada em lendas ou em mitos e ligada a uma metafísica. Como não houve testemunhas, as teorias da formação do mundo assentam-se na (cosmogonias religiosas) ou no cálculo (cosmogonias astronômicas). (2)

Cosmologia. Do grego kosmos, mundo, e logos, ciência, teoria.  Conjunto das teorias científicas que tratam das leis ou das propriedades da matéria em geral ou do universo. Toda cosmologia supõe a possibilidade de um conhecimento do mundo como sistema e de sua expressão num discurso. Por isso, a imagem do sistema do mundo é determinante para toda filosofia que se pretende sistemática. O postulado de uma totalização do mundo, pelo saber, revela-se indispensável a uma eventual totalização do próprio saber. (1)

Cosmo – do grego kosmos significa ordem, oposto ao Caos (kaos), desordem.

Cosmovisão (Visão Geral de Mundo). Da soma geral dos conhecimentos, os filósofos organizaram, sistematicamente ou não, uma espécie de panorama geral de todo o conhecimento, formando uma totalidade de visão, uma coordenação de opiniões entrelaçadas entre si.

Com essa sistematização lhes é possível formular, não só uma opinião geral de todo o acontecer, mas também compreender e relacionar um fato individual com a visão geral formulada do todo. (3)

Cosmovisão, além de significar uma visão ou concepção de mundo, expressa também uma atitude frente ao mesmo. Portanto, não é uma mera abstração, já que a imagem que o homem forma do mundo possui um fator de orientação e uma qualidade modeladora e transformadora da própria conduta humana. Implícito em toda cosmovisão há um caminho de ação e realização”. (4)

O Materialismo, o Espiritualismo e o Idealismo são cosmovisões. O que caracteriza essas diversas cosmovisões? Primeiro, um anelo de saber integral; segundo, a apreensão da totalidade; terceiro, a solução de problemas do sentido do mundo e da vida.

Além das cosmovisões fornecidas pela ciência e pela filosofia, podemos também enumerar as determinadas pela psicologia, pela raça, pela classe social, pela cultura histórica, bem como as fornecidas pela biologia, pela matemática, pela física. (3)

Cosmologia. a) Nome dado por Wolff à disciplina que estuda as leis gerais e a constituição do universo, quer sob o ponto de vista experimental, como sob o metafísico.

b) Para Kant, Cosmologia racional é o conjunto dos problemas referentes à origem e natureza do mundo. São esses problemas que engendram as antinomia kantianas.

Objeto da Cosmologia É do objeto da metafísica examinar e discutir a existência ou não de diversos tipos de realidade. Se um cosmos (do gr. khosmos, universo organizado, em oposição a khaos) tem realmente uma ordem, se é um e único, se há vários, se entre eles há pontos de contato ou não, se forma uma unidade ou uma pluralidade, se essa unidade é homogênea ou o produto de uma pluralidade, heterogênea portanto, que se unifica, etc. Perguntas que cabem à metafísica responder.

Desde logo se vê que, para enfrentar tais temas em suas raízes, fundadas em muitas disciplinas científicas, não podemos prescindir dos estudos que a ciência oferece. E esta é a razão porque as posições de divórcio da filosofia e da ciência não se sustentam mais, senão para os que fazem literatura da filosofia que, por deficiência de um método, capaz de unir as elevadas intenções uma e de outra, não compreendem a cooperação que deve haver e há em todo saber epistêmico, em benefício do próprio homem.

Não pode, por sua vez, o cientista impedir que os problemas filosóficos lhe invadam o campo de estudos. Todas as grandes dificuldades, todas as aporias de cada ciência, vão verter sobre o campo da filosofia. E o cientista quando investiga, quando oferece hipóteses, quando penetra no terreno do desconhecido, usando do conhecido, realiza filosofia. E no conjunto das grandes interrogações ressalta as que se endereçam aos problemas do nosso cosmos.

Cosmologia é a disciplina filosófica que usa métodos metafísicos para estudar os magnos problemas que surgem da visão do cosmos. Entre os gregos, o problema cosmológico foi colocado desde as origens, como na filosofia hindu, chinesa e egípcia. Podemos considerá-la como: a) cosmologia científica — a que estuda as diversas hipóteses sobre a ordenação do mundo; b) cosmologia filosófica (especulativa e metafísica) — a que examina tais hipóteses e estabelece especulações fundadas apenas em métodos metafísicos. Esta classificação, porém, é mais arbitrária que real, pois as diferenças entre as duas não é tão grande que se possa, com nitidez, fazer uma separação. São como dois círculos intersecantes, cujos centros quase se confundem, pois a cosmologia realizada por cientistas ou por filósofos não pode deixar de penetrar no terreno que lhes são próprios. Costumam também os filósofos especificar o conceito de cosmologia como sendo a parte da metafísica, que tem como objeto determinado o estudo da natureza e da origem do mundo.

Poderíamos, para distinguir a cosmologia científica de a filosófica, indicar que a primeira, em suas observações, pode comprová-las, empregando até certo ponto os métodos da ciência, enquanto a metafísica baseia-se nos métodos filosóficos para estudar o cosmos. As verdades ontológicas, lógicas e formais, que a filosofia estabeleça, não podem prescindir de, e devem buscá-las, tanto quanto necessário, as verdades materiais que a ciência estabelece. Só dessa soma poderá surgir uma verdade concreta. A cosmologia pretende explicar e não descrever, como o faria a cosmografia. Portanto é a ciência filosófica que estuda a origem, determinação, significação e destino do mundo. (5)

(1) JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

(2) GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.]

(3) SANTOS, M. F. dos. Filosofia e Cosmovisão (Introdução à Filosofia e Visão Geral de Mundo). 2. ed., São Paulo, Logos, 1955, p. 123. 

(4) CREMA, Roberto. Introdução à Visão Holística: Breve Relato de Viagem do Velho ao Novo Paradigma. 2.ed., São Paulo: Summus, 1989, p. 17.

(5) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.