Dilema

Dilema. a) É um raciocínio fundado sobre uma premissa disjuntiva, em que, partindo de qualquer dos extremos, infere-se a mesma conclusão. A premissa pode ser formulada em forma categórica ou hipotética. Não se deve confundir o dilema com a disjuntiva. No dilema há uma alternativa numa das premissas, ex.: a ou b é verdadeiro; se a é verdadeiro, k também o é; se b é verdadeiro, também o é; logo, k é verdadeiro. Este é um ex. de alternativa categórica.

Eis um ex. de alternativa hipotética:

Se a é verdadeiro, b ou c é verdadeiro.

Se b é verdadeiro, k é verdadeiro;

Se c é verdadeiro, k é verdadeiro;

Logo, se a é verdadeiro, k é verdadeiro.

Emprega-se, também, o nome de dilema para todo raciocínio deste tipo, em que a alternativa compreenda mais de dois casos.

b) Costuma-se empregar este termo para significar uma conjuntura difícil, da qual não é possível sair-se senão por um de dois modos, como, por ex., ante duas proposições contraditórias.

c) Emprega-se, também, para referir-se a uma antinomia ou a uma oposição mútua de duas teses filosóficas, em que a aceitação, ou o repúdio de uma, leva à negação ou à afirmação da outra, quando nenhuma das duas pode ser refutada com o auxílio dos princípios estabelecidos pelos lados que a sustentam. Mais ou menos nesses termos é o enunciado que Renouvier dá do dilema metafísico.

Chamam-se falsos dilemas os fundados em divisões mal construídas, que colocam o pensamento numa alternância, quando há um terceiro termo não considerado. Temos um exemplo no falso dilema: ou capitalismo ou comunismo, quando há outras possibilidades, que não são nem um nem outro. (1)

Dilema de Eutífron. Dilema examinado no Eutífron, um dos diálogos de Platão. As coisas piedosas são piedosas porque os deuses as amam, ou os deuses as amam porque são piedosas? O dilema suscita a questão da possibilidade de conceber os valores como resultado da escolha de uma mente qualquer, mesmo que essa mente seja divina. Na primeira opção, aquilo que é bom e tem valor é criado pela escolha dos deuses. Mesmo que isso seja inteligível, parece tornar impossível o ato de louvar os deuses, já que assim é vagamente verdadeiro que eles escolhem o que é bom. A segunda opção nos obriga a supor uma fonte de valores situada aquém ou além da própria vontade dos deuses, pela qual estes possam ser avaliados. A elegante solução de Tomás de Aquino consiste em afirmar que o modelo do bem é a natureza de Deus, sendo por isso distinto de sua vontade, embora não distinto de si mesmo. 

O dilema surge seja qual for a fonte de autoridade que se aceite. Preocupamo-nos com o que é bom porque é bom, ou nos limitamos a chamar de boas aquelas coisas com que nos preocupamos? O dilema também pode generalizar-se de forma a afetar nossa compreensão da autoridade de outras coisas, como a matemática, por exemplo, ou as verdades necessárias. Essas verdades são necessárias porque decidimos que elas o são, ou decidimos que elas o são porque são necessárias? (2)


(1) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.

(2) BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Consultoria da edição brasileira, Danilo Marcondes. Tradução de Desidério Murcho ... et al. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.