Coisa

Coisa. Tanto no discurso comum quanto no filosófico, esse termo tem dois significados fundamentais: 1.º genérico, designando qualquer objeto ou termo, real ou irreal, mental ou físico etc., de que, de um modo qualquer, se possa tratar; 2.º específico, denotando os objetos naturais enquanto tais.

1) No primeiro significado, a palavra é um dos termos mais frequentes da linguagem comum e também é amplamente empregada pelos filósofos. Coisa pode ser o termo de um ato de pensamento ou de conhecimento, de imaginação ou de vontade, de construção etc. Pode-se falar de uma coisa que existe na realidade como também de uma coisa que está na imaginação, no coração, nos sentidos etc. Assim, pode-se dizer que, nesta acepção, coisa significa um termo qualquer de um ato humano qualquer ou, mais exatamente, qualquer objeto com que, de qualquer modo, se deva tratar. É o significado contido na palavra grega pragma

2) No seu significado mais restrito, a coisa é o objeto natural também chamado de "corpo" ou "substância corpórea". O uso do termo nesse segundo significado é até certo ponto recente. (1)

Esquema gráfico

Coisa em Si Ding an Sich. Coisa que existe independentemente do cognoscente. Sin noumenon (2)

Coisa. (do lat. res, do verbo reor, ser pensado, o que é objeto de pensamento, o que pode ser pensado). a) Designa o que, filosoficamente falando, é a substância, mas geralmente sem incluir as noções extremas de substância espiritual ou de substância universal (no sentido de Spinoza), conservando sempre um sentido mais concreto e individual. Por outro lado, se estende também a coisas inexistentes, possíveis ou imagináveis. As coisas reais são consideradas como elementos separados e dotados de uma existência estática e de qualidades fixas. Neste sentido, a coisa se opõe ao fato ou acontecimento, que é um elemento quinético (kinesis) e fica absorvido no processo total do desenvolvimento do mundo. A coisa assim entendida muitas vezes aceita, como sinônimo, o termo objeto, mas este sempre guarda relação com a consciência e se define em sentido estrito, como tudo o que é ou pode ser conhecido, sejam coisas, sejam acontecimentos.

b) A teoria do conhecimento que trata do mundo dos objetos, como do seu próprio domínio, serve-se do conceito de coisa como uma espécie de postulado, um substratum absolutamente fixo, ao qual podem ser acrescidos todos os atributos que a percepção descobre, como inconsistentes e relativos. A coisa oferece-se, então, como a coisa em si. Em Kant, a coisa em si é exatamente o mesmo que ele chama noumenon (númeno), como oposto ao phainomenon (fenômeno). Phainomenon é o que se apresenta à nossa percepção sensitiva. O noumenon é o que não pode ser representado, que é livre de todos os elementos sensitivos, o objeto do pensamento puro em uma intuição racional; uma coisa, portanto, que só pode ser pensada, que figura como limite do mundo dos fenômenos e sugere a ideia de um mundo possível de realidade mais além. Se este mundo das coisas em si de fato existe, não podemos dizer coisa alguma. Mas, a coisa em si, como mera possibilidade teórica, reaparece em Kant como postulado positivo da razão prática, intimamente ligado com a consciência do dever.

c) Na ética a coisa se opõe à pessoa. Ela não pertence a si mesma como a pessoa, e até pode ser possuída por uma pessoa. Não pode figurar como sujeito de algum direito. (3)

Coisa em si. (do al. Ding an sich selbst). Usada por Kant para referir-se ao que a coisa é em si mesma, independentemente do nosso conhecimento, fora da nossa mente. Para ele, conhecemos dela apenas o fenomênico, o que aparece, e não o que ela é em si mesma (ansich selbst), que chama também de númeno, em oposição àquele objeto não dos sentidos, mas apenas do entendimento, que só pode ser dado por uma intuição intelectual e não sensível. Para Kant, ela pode ser pensada por nós de modo indeterminado, não porém determinado em sua essência, em sua totalidade. A sua posição em face do realismo é fenomenalista. (3)


(1) ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.

(2) BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)

(3) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.