Estética

Estética. Com Alexander Baumgarten a palavra estética (derivada do grego aisthesis, sensação) tomou o sentido de "teoria do belo". Desta forma, a interrogação que surge em primeiro lugar é saber qual a essência do belo, que é o seu objeto.

Platão e Aristóteles identificaram o belo com o bom. Na Idade Média, o belo   ficou em plano secundário. Com Baumgarten ele é tomado como uma espécie de perfeição, porém confusamente concebida. Com Kant é que se pode estabelecer a distinção entre estética subjetiva e estética objetiva, cuja divisão marca a predominância da ideia fundamental. Para a estética subjetiva, que é uma estética psicológica, o belo está no homem, é o subjetivo. O belo não está nas coisas, está no homem. É ele que o empresta ou dá às coisas. E como a natureza humana é mais ou menos homogênea em todos os homens, estes podem sentir igualmente a beleza, quando a imaginação se harmoniza com o entendimento. Então chamamos esse objeto, que consegue provocar tal estado, de belo. É à forma do objeto que o nosso juízo estético se refere, porque é ela que suscita em nós o jogo harmônico do entendimento e da imaginação. Mas essa forma não foi feita com o fim de que a encontremos bela. A forma do objeto não é uma finalidade para Kant. É nossa subjetividade que realiza essa harmonia que permite que o chamemos de belo. Após Kant, a estética subjetiva o concebeu como uma vivência.

No entanto, poder-se-ia fazer a seguinte pergunta: se o belo é um ato subjetivo, como se explica que só alguns objetos o provoquem?

Nesse caso, é preciso admitir que o objeto tem em si alguma coisa que provoca a emoção estética do belo, do contrário todos os objetos seriam capazes de provocar essa vivência. Logo deve haver no objeto alguma coisa. E segundo os que defendem a estética objetiva há uma vivência do belo, mas o belo não é uma vivência. O que quer dizer que ele está no objeto. A estética objetiva já está estabelecida em sua orientação: ela o procura fora do sujeito, no objeto, portanto. A estética objetiva pode ser estética formal ou estética material. A primeira, esboçada por Herbart, e continuada por Zimmermann e outros, estabelece a existência de certas ideias e certos conceitos gerais que são belos. E quando o objeto concorda com essas ideias, com o formal, é ele belo. Neste caso, belas são as ideias.

A estética material pode ser apócrifa ou autêntica. É apócrifa, quando o belo é explicado por dados extra-estéticos. Assim procede o religioso quando afirma que a beleza do mundo está na revelação do Absoluto que o criou, ou Hegel que, para definir a beleza, parte das Ideias Absolutas, que são para ele o único real. Desta forma, o belo é a manifestação sensível da Ideia. A estética material apócrifa põe outra coisa para explicá-lo. Se ele é o revelar-se do Absoluto, então tudo seria belo.

A estética material autêntica vê no fenômeno do belo algo que é sui generis, que é típico, e que não pode absolutamente derivar de qualquer outra coisa conhecida. Assim, o belo é algo tipicamente belo. Inúmeros autores como Geiger, Dessoir e outros, procuram esse algo original que é a razão do belo. Entretanto não conseguiram achar a essência desse algo original. No entanto, com Geiger, inicia-se uma tendência para considerar o valor como esse algo originário do belo. Surge, assim, uma estética dos valores, como estética material autêntica.

Quanto à essência do belo aceita-se que é apreendido imediatamente, sem necessidade de um conhecimento, nem de reflexão. Ante uma obra de arte sentimos o belo, apreendemo-lo sem necessidade de raciocínio, e quando olhamos demoradamente uma obra, que ainda não nos provocou essa emoção, esperamos até que, quando menos se espere, ele nos surja. Por isso o belo se nos apresenta como algo original, como algo de um tipo peculiar. Ele não é isto nem aquilo, é o belo. Como só algumas coisas nos parecem belas e outras não, há de haver nele alguma coisa de objetivo, e não apenas subjetivo. Surge, aqui, uma questão que merece atenção: ela afirma que o belo é supraindividual. Uma coisa doce é agradável ou não a cada indivíduo; é relativa a cada indivíduo. O belo não é relativo; é belo. Independe do indivíduo, por isso nem todos dele entendem, e eis por que há os entendidos.

Não se pode dizer que o belo do quadro esteja nas tintas, na tela e na moldura. Este algo não está no quadro, é um valor estético. E é chamado valor porque não é um ente físico. As obras de arte têm relações com os valores estéticos. O valor não vale para alguém ou para alguma coisa, o valor vale. Intuímo-lo por uma intuição não sensível; portanto, direta. Há termos que expressam valores como: sublime, vivo, trágico, simples, graça, tensão, ritmo, unidade, multiplicidade, elevação, amplitude, etc., quase todos eles tirados de experiências sensíveis e expressam valores estéticos.

Os meios de expressão do belo, na obra de arte, são diversos, como palavras, sons, cores, etc. Esses meios servem para expressar valores estéticos. E devem ser considerados apenas meios. Quando um artista os transforma em fins, temos uma obra de arte inautêntica, o que é comum encontrar-se até nas obras de arte de grandes artistas. (1)

(1) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.