Efeito

Efeito. (do lat. ex-factum, effectum, o feito ex, para fora) - a) O que é feito, o que é produzido por uma causa.

b) Na expressão "com efeito", quer dizer, fato real. Vide Causa.

Análise: É o correlativo de causa. Vindo do latim ex-factum, effectum, o que é feito para fora, o que se dá fora de suas causas. Efeito não é algo total e absolutamente outro, pois nele fluem o ser da causa, sem o qual não poderia ser. Se examinarmos os efeitos verificaremos que eles se apresentam de dois modos que merecem distinção. O fogo, por exemplo, aquece a chaleira de água diretamente. Do alto de uma casa cai um vaso que mata um cão. O primeiro efeito é distinto de o segundo, pois o primeiro sobrevêm da determinação da causa, enquanto o segundo não provém da determinação da causa. O primeiro é chamado de efeito per se (per si) e o segundo de efeito per accidens. O vaso per se cai, e o cão per se passa, mas a conjunção: o vaso cair sobre o cão é algo que acontece acidentalmente, porque não é determinado por nenhuma causa, porque o andar do cão não é feito pelo cair do vaso. Muitas vezes os efeitos por acidente são confundidos com os efeitos per se, e levam a julgamentos falsos. Inúmeras superstições surgem dessas falsas apreciações. Algo que acontece acidentalmente é considerado como um efeito per se, como se uma causa o ordenasse, quando no efeito por acidente há apenas a conjunção fortuita de efeitos que dão surgimento a um novo fato, com suas características próprias. Toda vez que temos o exame de um efeito devemos verificar se é per se ou per accidens; pois segundo a sua espécie, podemos esclarecer a matéria em exame.

O ser humano não se espanta quando assiste ao suceder dos efeitos per se, porque sente e percebe que são eles determinados diretamente por uma causa; mas quando em face de acontecimentos, que são efeitos per accidens, cuja conjunção dá surgimento a um fato insólito ou inesperado, a razão humana por não encontrar a razão determinante e intencional do efeito per accidens, estaca e vacila em suas interpretações. Compreende-se que surja, aqui, a ideia de Tyknê grega, que corresponde à Fortuna dos romanos, ao Fado, ao Destino dos ocidentais; um ser que é personalizado como tendo dado uma intenção a vários efeitos per se para que eles produzam um efeito per accidens. Como pode o homem manobrar efeitos per se, para que de sua conjugação surja um efeito per accidens, imagina que há uma inteligência que coordena a conjunção dos efeitos per se, para que surja um determinado efeito per accidens. Assim quando alguém vê, subitamente, brilhar no chão uma pedra e apanhando-a verifica que é um diamante, diz-se que afortunadamente encontrou um diamante. A esse acontecimento, que não oferece uma imediata determinação a uma causa, e que é um efeito per accidens, é dado como produzido por uma inteligência à qual cabe coordenar as conjunções de efeitos per se para produzirem efeitos per accidens. É o Fado, o Destino, a Fatalidade, a Tyknê, a Fortuna, a Fada, o Fatum dos romanos...

A tragédia está no acontecimento fortuito, produto de uma conjunção de efeitos per se, que realizam um efeito per accidens. Quando alguém entregando-se ao vício decai pouco a pouco, tal acontecer é dramático. É o drama (em grego, ação), que sucede dentro de uma ordem de determinações. Mas, quando Édipo, levado por uma conjunção de efeitos per se, acaba por matar o próprio pai, desposar a mãe e ser rei, é trágico. (1)

(1) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.