Paradigma

Paradigma. Modelo ou exemplo. Platão empregou esta palavra no primeiro sentido (cf. Tim., 29 b, 48 e etc.), ao considerar como paradigma o mundo dos seres eternos, do qual o mundo sensível é imagem. Aristóteles utiliza esse termo no segundo significado (An, pr. II, 24, 68 b 38), sobre o que v. Exemplo .

[Exemplo. Em Aristóteles, o exemplo é uma indução aparente ou retórica, que parte de um enunciado particular passando por um enunciado geral em que a primeira premissa é generalizada. Na Lógica medieval, por simetria com entimema, "exemplo" é usado para designar uma generalização indutiva que parte do particular e termina no particular omitindo a premissa universal.]

Com Kuhn (Estrutura das Revoluções Científicas), o conceito de paradigma assume um significado epistemológico e é usado em diversas acepções (M. Masterman  identificou vinte e duas), integráveis, como afirmou o seu autor, em dois significados básicos. O paradigma é em primeiro lugar uma "constelação de crenças comungadas por um grupo", ou seja, o conjunto das teorias, dos valores e das técnicas de pesquisa de determinada comunidade científica. Entendido dessa maneira global, ou seja, no sentido de "tradição pragmática", o termo paradigma pode ser substituído por "matriz disciplinar". Matriz porque "composta de elementos ordenados de vários gêneros, cada um dos quais exige maior especificação". Disciplinar porque "se refere à posse, comum aos que estão engajados na pesquisa, de uma disciplina específica". Em segundo lugar, o paradigma é o exemplar das soluções concretas para os quebra-cabeças que constituem  a organização típica da ciência normal, ou seja, da "pesquisa estavelmente fundada em um ou mais de um resultado atingido pela ciência do passado, resultados aos quais determinada comunidade científica, por certo período de tempo, atribui a capacidade de constituir o fundamento da sua práxis ulterior".  (1)

Paradigma. Um termo polissêmico que designa "modelo a ser imitado", "abordagem padrão", "orientação teórica", "estilo de pensamento" e outras coisas mais. Exemplo: até o nascimento da física dos campos e a biologia evolucionária, a mecânica era considerada como paradigma de todas as ciências. Hoje em dia, cada ciência tem vários paradigmas. Definição: Um paradigma é um corpo B de conhecimento básico juntamente com um conjunto H de específicas hipóteses substantivas, uma problemática P, uma meta A e uma metódica M: P = <B, H, P, A, M>. Uma generalização do conceito de abordagem. Um deslocamento de paradigma, ou mudança de perspectiva, acontece quando uma mudança radical ocorre nas hipóteses específicas, na problemática, ou em ambas. Exemplos: platonismo --> aristotelismo, ética kantiana --> utilitarismo, economia clássica --> economia neoclássica, modernidade --> pós-modernidade. (2)

Paradigma. Conforme usado por Thomas Kuhn em The Structure of Scientific Revolutions (1962), um conjunto de crenças científicas e metafísicas que constituem um quadro de referência teórica dentro do qual podem ser testadas, avaliadas e, se necessário, revistas teorias científicas. A tese principal de Kuhn, na qual a noção de um paradigma exerce um papel central, estrutura-se em torno de um argumento contra a ideia da lógica empirista de mudança de teorias científicas. Os empiristas concebiam a mudança de teoria como um processo contínuo regular e cumulativo, no qual fatos empíricos, descobertos através da observação ou experimentação impõem revisões em nossas teorias e assim aumentam o nosso conhecimento cada vez mais do mundo. Dizíamos que, em combinação com esse processo de revisão, há um processo de redução interteórico que nos permite entender o macro em termos do micro, e que em última instância visa à unidade da ciência. Kuhn sustenta que essa ideia é incompatível com o que de fato acontece, caso após caso, na história da ciência. A mudança científica ocorre por "revoluções", nas quais um paradigma mais antigo é derrubado e substituído por um quadro de referência incompatível ou até incomensurável com tal paradigma. Consequentemente os "fatos" empíricos alegados em apoio da teoria mais antiga tornam-se irrelevantes para a nova. As questões levantadas e respondidas no novo quadro de referência transcendem as do antigo. Efetivamente os vocabulários dos dois quadros de referência constituem linguagens diferentes, que não são fáceis de intertraduzir. Esses episódios de revolução são separados por longos períodos de "ciência normal", durante os quais as teorias de determinado paradigma são polidas, refinadas  e elaboradas. Às vezes tais períodos são chamados de períodos de "solução de quebra-cabeças", pois as mudanças devem ser entendidas mais como um brincar com detalhes das teorias para "salvar os fenômenos" que como passos que nos aproximam mais da verdade. 

Diversos filósofos queixaram-se de que a concepção do paradigma de Kuhn é demasiado impreciso para realizar a tarefa para a qual ele a previu. (3)

Paradigma. 1. Segundo Platão, as formas ou ideias são paradigmas, ou seja, arquétipos, modelos perfeitos, eternos imutáveis dos objetos existentes no mundo natural que são cópias desses modelos, e que de algum modo participam deles. As  noções de paradigma e de participação, ou seja, da relação entre o modelo e a cópia, levam, no entanto a vários impasses que são discutidos por Platão sobretudo no diálogo Parmênides (128-134)

2. O filósofo da ciência Thomas Kuhn utiliza o termo em sua análise do processo de formação e transformação das teorias científicas da — "revolução" na ciência — considerando que "alguns exemplos aceitos na prática científica real — exemplos que incluem, ao mesmo tempo, lei, teoria, aplicação e instrumentação — proporcionam modelos dos quais surgem as tradições coerentes e específicas da pesquisa científica"(A estrutura das revoluções científicas). Esses modelos são os paradigmas, por exemplo,  a astronomia coperniciana, a mecânica de Galileu, a mecânica quântica etc. Assim, "um paradigma é aquilo que os membros de uma comunidade compartilham e, inversamente, uma comunidade científica consiste em indivíduos que partilham um paradigma" (4)

(1) ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.

(2) BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)

(3) AUDI, Robert (Organizador). Dicionário de Filosofia de Cambridge. Tradução de João Paixão Netto, Edwino Aloysius Royer et all. São Paulo: Paulus, 2006. 

(4) JAPIASSU, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 3.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1996.