Contradição

Contradição.  A contradição é um fato da vida, de modo que é melhor encará-la e combatê-la quando ela aparece. Além disso, as contradições desempenham importante papel nas provas por reductio ad absurdum (redução ao absurdo).  

Nas ontologias dialéticas, como as de Hegel e Marx, a 'contradição' denota entidades, feições ou processos mutuamente opostos. Em tais teorias contradições ônticas, ou seja, oposição ou rivalidade são consideradas como sendo a fonte última de toda mudança, em particular do progresso social. Qualquer caso de cooperação (deliberada ou voluntária), como nos casos das sínteses químicas e das coligações políticas, contradiz esta assunção geral. 

Teoria das ações. Duas ações são tidas mutuamente contraditórias (ou, melhor, mutuamente opostas) se não puderem ser realizadas ao mesmo tempo, ou se as suas consequências isoladas forem mutuamente exclusivas. Exemplos: andar e deitar, construir e destruir a mesma coisa, competir e cooperar com respeito a mesma coisa. (1)

Contradição. Conjunção de uma proposição com sua negação. Nas obras de Hegel e Marx o termo é usado de maneira mais ampla. Uma contradição pode ser um par de características que produzem conjuntamente uma tensão instável num sistema político ou social: uma "contradição" do capitalismo pode consistir em fazer surgir expectativas nos trabalhadores às quais o sistema não pode corresponder. (2)

Contradição. Dizer uma coisa e sua negação. A rigor, há apenas contradição no discurso, nunca no real (se o real fosse contraditório, já não seria possível pensá-lo). "círculo quadrado" é uma contradição. (3)

Contradição, Princípio de não-. O princípio de não-contradição estipula que duas proposições contraditórias não podem ser verdadeiras simultaneamente: a conjunção "p e não-p" é uma contradição e, como tal, necessariamente falsa. Resulta daí que a verdade de uma proposição basta para provar a falsidade da sua contradição. Podemos acrescentar: "e vice-versa". É o que postula o princípio do terceiro excluído (p ou não-p: duas proposições contraditórias não podem ser, todas as duas, falsas), que se distingue do princípio de não-contradição mas que lhe é logicamente equivalente. 

O princípio de não-contradição é evidentemente indemonstrável, já que toda a demonstração o supõe. Mas a mesma razão o torna irrefutável (só se poderia refutá-lo supondo-o antes: se sua refutação o anula, anula-se a si mesma). Em se tratando da verdade, toda discussão intelectual o supõe, mostra Aristóteles (Metafísica), e só pode avançar se se submeter a ele. (3)

Contradição. a) É a ação de afirmar algo contrário ao anteriormente afirmado. A contradição dá-se na oposição do sim e do não e consiste na relação que existe entre a afirmação e a negação da presença de um atributo na mesma coisa, no mesmo tempo, e sob a mesma espécie. A oposição que há é a de presença e a de privação. Por haver-se esquecido este aspecto fundamental da contradição, é este termo tão mal empregado na filosofia, porque na verdade há contradição quando simultaneamente se afirma a presença e a ausência de um atributo, na mesma coisa e ao mesmo tempo. Assim há contradição quando se diz que, simultaneamente, A é B ou A não é B; ou seja, quando se afirma a presença do atributo B, e ao mesmo tempo a sua ausência em A. Só há realmente contradição quando um atributo afirmado como presente e como ausente é dado como simultâneo, pois se se afirma ora a presença, ora a ausência, não há propriamente contradição.

b) Quando se diz que uma proposição é verdadeira e ao mesmo tempo que é falsa, há contradição. Na lógica, entre as oposições, a contraditória é aquela que existe entre a universal afirmativa e a particular negativa, e entre a universal negativa e a particular afirmativa, desde que estas proposições tenham os mesmos termos. Assim quando se diz: "todos os homens são mortais" e "alguns homens não são mortais", há contradição. Também há num termo, numa proposição, quando os elementos são incompatíveis, contraditórios.

c) Há contradição no estado de espírito que afirma contradições e, também, no ato de contradizer (espírito de contradição).

d) Filosoficamente deve-se evitar a confusão entre contradição e contrário, a fim de que este termo tenha um sentido unívoco para evitar equívocos. (4)


(1) BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)

(2) BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Consultoria da edição brasileira, Danilo Marcondes. Tradução de Desidério Murcho ... et al. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

(3) COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário Filosófico. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

(4) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.