Anfibologia

Anfibologia. Etimologicamente, "dicção ambígua". O mesmo que ambiguidade. É o que apresenta duas faces, dois sentidos. Emprega-se em gramática para designar os equívocos de sentido provenientes de construção defeituosa da frase ou do uso de termos impróprios. Aristóteles cita anfibologia como um dos seis vícios que podem produzir a falsa aparência de um argumento. (1)

Anfibologia (amphibologie). Ambiguidade faltosa (porque poderia e deveria ser evitada) ou engraçada (se for deliberada e picante) no discurso. Por exemplo, neste diálogo imaginário, que nos divertia em criança:

"— Papai, não gosto de vovó!

Fique quieto e coma o que está no seu prato!"

Kant chama de "anfibologia transcendental" o erro de raciocínio que consiste em confundir o objeto puro do entendimento (o númeno) com o objeto da sensibilidade (o fenômeno). É o erro comum e simétrico de Leibniz, que "intelectualiza os fenômenos", e de Locke, que "sensualizara todos os conceitos de entendimento". Era confundir a sensibilidade e o entendimento, em vez de utilizá-los juntos - o que supõe distingui-los - no conhecimento. 

A anfibologia é portanto uma ambiguidade erudita, ou o nome erudito de uma ambiguidade. Duas razões para evitar, salvo para dar boas risadas, a palavra e a coisa. (2)

Anfibolia. Do grego amphibolos, fala incerta. Uma frase cuja estrutura gramatical permite diferentes interpretações, e.g., "Ela o viu com binóculos" (era ele que estava com binóculos? Ou foi ela que usou binóculos para o ver?). Para Kant a confusão entre um objeto do entendimento puro e a aparência é uma anfibolia transcendental. (3)

Anfibolia Transcendental. Nome dado por Kant em sua Crítica da Razão Pura a uma espécie de anfibolia natural, fundada segundo ele nas mesmas leis do pensamento, e que consiste em confundir as noções do entendimento puro com os objetos da experiência, em atribuir a estes últimos caracteres e qualidades que pertencem exclusivamente àqueles. Cai-se nesse erro quando, para exemplificar, se faz da identidade que é uma noção a priori, uma qualidade real dos fenômenos ou dos objetos que a experiência nos faz conhecer. (4)


(1) ENCICLOPÉDIA LUSO-BRASILEIRA DE CULTURA. Lisboa: Verbo, [s. d. p.]

(2) COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário Filosófico. Tradução de Eduardo Brandão. 2. ed., São Paulo: Martins Fontes, 2011.

(3) BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Consultoria da edição brasileira, Danilo Marcondes. Tradução de Desidério Murcho ... et al. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

(4) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.