Argumento, Argumentação

Argumento. Raciocínio mais ou menos desenvolvido que tende a provar ou refutar uma proposição ou uma tese. Chama-se mais precisamente argumento em forma aquele que é conforme as regras da lógica formal, e argumento ad hominem o que incrimina o indivíduo e não suas ideias. (1)

Argumento. O argumento é ou um raciocínio destinado a provar ou a refutar uma proposição, ou uma razão isolada apresentada a favor ou contra uma tese. Aargumentação é ao mesmo tempo a maneira de expor uma série de argumentos e a série que decorre da exposição. Contrariamente à demonstração, que é uma dedução de que se segue racionalmente uma conclusão, enquanto consequência necessária, a partir do simples enunciado de premissas abstratamente dadas, a argumentação quer convencer e persuadir recorrendo a múltiplos argumentos que não são independentes do contexto em que se utilizam. Enquanto uma demonstração apresenta provas necessitantes, uma argumentação apresenta raciocínios a favor ou contra uma afirmação; não é, pois, uma prova que produza racionalmente a adesão, é um conjunto de técnicas suscitando razoavelmente a convicção. Em Aristóteles, às demonstrações correspondem as provas analíticas, que estabelecem como de premissas verdadeiras decorre necessariamente uma conclusão verdadeira; às argumentações correspondem as provas dialéticas, que intervêm nos discursos destinados a persuadir um auditório mais ou menos extenso agindo sobre ele, e que ele estudou na sua Retórica, nas suas Refutações Sofísticas e nos seus Tópicos. (2)

Argumentum ad... A classificação tradicional das falácias do raciocínio descreve muitas delas como envolvendo um "argumentum ad...". Entre outras: a. ad ignorantiam: argumentar que uma proposição é verdadeira porque não se mostrou que é falsa, ou vice-versa; a. ad baculum (literalmente,argumentar com porrete): defender uma conclusão destacando as terríveis consequências de não acreditar nela (supostamente uma falácia, mas o pragmatismo insiste que considerações similares subjazem todos os processos de formação de crenças); a. ad hominem: atacar uma pessoa para tentar refutar o que ela defende (ou, menos comum, elogiar uma pessoa para apoiar o que ela defende), ou, em geral, argumentar contra a posição particular de uma pessoa de uma maneira que pode ou não ser convincente, mas que nada adianta para aqueles que não têm a mesma combinação específica de crenças que a pessoa visada; a. ad misericordiam (apelo à compaixão): um argumento que apela à comiseração das pessoas; a. ad populum: que recorre aos preconceitos das pessoas; a. ad verecundiam:  valer-se de uma autoridade fora de sua área legítima; apelar ilicitamente à reverência e ao respeito.

Apesar de os processos de argumentação poderem cair nestes e em outros erros, é difícil separar os usos adequados e inadequados de argumentos que podem ser descritos dessas formas. Por exemplo, o apelo à compaixão, às crenças populares ou à autoridade podem, em certas circunstâncias, ter bastante legitimidade. Com exceção do argumentum ad hominem, esses termos não costumam ser usados. (3)

Argumento. a) Na lógica é a proposição que se enuncia em favor de uma tese. Veja-se demonstração e a distinção entre esta e argumento.

b) Na matemática, no cálculo dos functores, o determinante, o que determina, é o functor, e o que é determinado, é o argumento.

c) Na logística a proposição que determina é o functor e a que é determinada é o argumento. Em ambos os sentidos determinar tem um sentido muito amplo; assim, na proposição chove e neva, e determina ambas partes, chove, neva.

d) São Boaventura dá-lhe quatro acepções, empregadas na escolástica: 1) equivalente a raciocínio (ratiocinatio); 2) síntese de pensamento; 3) meio no qual consiste toda a força demonstrativa; 4) proposição que contém a razão suficiente da ilação.

e) Na lógica matemática é ato do termo definiens, capaz de ser substituído por uma função lógica. (4)


(1) DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.

(2) THINES, G., LEMPEREUR, A. Dicionário Geral das Ciências Humanas. Lisboa: Edições 70, 1984.

(3) BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Consultoria da edição brasileira, Danilo Marcondes. Tradução de Desidério Murcho ... et al. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

(4) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.