Destino

Destino. O problema da natureza e do sentido do destino foi amplamente tratado pelos filósofos antigos, especialmente durante o período helenístico-romano. Estoicos, platônicos, epicuristas, ecléticos etc exprimiram opiniões sobre o destino (se ele existe, o que é, como se pode saber se é ou não compatível com a liberdade etc.). 

O termo latino factum significa, ao que parece, "o predito" (por oráculo), o conjunto das "coisas ditas" (fata) acerca do futuro. O "destino" é definível como "a sorte" que "cabe" a cada coisa (e em particular a cada homem) na medida em que seja em princípio cognoscível ou enunciável por meio de oráculos, da intuição e até da reflexão racional. 

A significação de destino é extremamente complexa. Há que diferenciar destino e acaso, o destino e o determinismo, o destino a predestinação. 

Entre os filósofos contemporâneos que abordaram a noção de destino figura Splenger. De acordo com esse autor, a ideia de destino opõe-se radicalmente ao princípio de causalidade. O destino é para Spengler um símbolo que se refere ao Universo-história e cuja compreensão é intuitiva, ao passo que a causalidade se refere ao Universo-Natureza, é lógica e racional. O destino está relacionado com a vida; a causalidade, com a morte. (1)

Destino. Significa, na história das religiões e na linguagem popular, uma força superior e irresistível, que rege o curso dos acontecimentos e da vida dos homens. Ao destino ninguém fugiria. Em geral, considera-se como um ser superior exterior ao homem pessoal ou impessoal. A ideia de destino exprime, de forma popular e mitizada, a experiência humana da incapacidade de dominar os acontecimentos da vida e de a construir por si. Destino é, pois, uma ideia prevalentemente religiosa e exprime a consciência confusa que o homem tem da sua dependência em relação ao mundo em que vive e às forças estranhas que o subjugam. Só muito recentemente se tornou tema de reflexão filosófica, sobretudo no âmbito da cultura germânica, com Splenger, Max Scheller e, sobretudo, com M. Heidegger. Se nas religiões o destino significa supressão de liberdade, em filosofia a sua limitação intrínseca. O Cristianismo opõe ao fatalismo das religiões e à angústia existencial a doutrina da Providência, segundo a qual Deus, tendo sob domínio absoluto o mundo e os homens os rege conforme às próprias leis e, portanto, governa o homem livre segundo a lei da liberdade mas é a mão amorosa de Deus Pai que governa, com respeito pela liberdade das criaturas que Ele mesmo criou, os caminhos dos homens. (2)

Destino. Concatenamento supostamente necessário de fatos e suas causas; fatalidade: quis o destino que ruísse o prédio. 

Fil. Emprega-se esta palavra em três sentidos: 1.º No de poder, causa, ou princípio ativo pelo qual certos acontecimentos seriam previamente determinados, suceda o que suceder, e seja o que for que façam os seres dotados de inteligência a fim de os evitar (acepção relacionada com a ideia de fatalismo); 2.º no conjunto da vida de um ser, ou seja a série de acontecimentos que a compõem, na medida em que estes, contingentes ou não, são considerados como resultantes de forças exteriores e distintas da vontade desse ser; 3.º, no de finalidade de um ser ou seja aquilo para que ele foi feito (neste último sentido diz-se também destinação). Nos inícios de reflexão do homem acerca do que o rodeia, o destino aparece como uma lei misteriosa e inflexiva que domina e envolve tudo. Na imaginação dos poetas e dos sábios, o destino foi perdendo pouco a pouco à proporção do que ia ganhando a crença na responsabilidade do homem e na sua capacidade de modificar as realidades ambientes. Os estoicos pode dizer-se que fizeram da doutrina do Destino um dos fundamentos do seu sistema; e que eram, afinal de contas, materialistas, proclamando a necessidade das leis do Mundo físico. As ideias cristãs fizeram depois assimilar o Destino à Providência. A combinação das noções cristãs e das estoicas encontram-se no fundo das discussões relativas à predestinação. No século XVIII, a palavra "destino" toma frequentemente o sentido materialista que teve na filosofia antiga. 

Questões: há um destino (ou destinação) do homem nesta vida? Há um destino (ou destinação) do homem para além desta vida? (3)

Destino. a) No sentido geral significa a fatalidade, à qual estão sujeitas todas as pessoas e as coisas do mundo. Aponta a necessidade futura, ou seja, o que vem a acontecer não poderia não acontecer. Deste modo, desaparece a contingência para afirmar-se apenas a necessidade. O destino seria, assim, uma lei férrea, que dirige toda a atualidade e as atualizações, e predeterminaria o curso inalterável dos acontecimentos. A sua aceitação decorre da negação da contingência. Como consequência, a personificação do destino torna-se inevitável. Pois ele seria algo fora do cosmos, ordenando-o, e independente deste, pois este, no seu suceder, depende daquele, que não depende do suceder das coisas. Inevitavelmente tende a confundir-se com a divindade, porque se aquele, que o aceita, negar-lhe a divindade, seria considerá-lo como determinado por um super destino, um destino que destinaria um destino. E a primeira lei ordenadora, que é a lei do destino, teria de emanar de um ser livre e absolutamente livre, e primeiro, e absolutamente primeiro e todo-poderoso. Identificar-se-ia com o que se concebe por Deus. Deste modo, a aceitação do destino leva a identificá-lo com a divindade. Deus pre-ordenaria, de modo inevitável e inalterável, o curso dos acontecimentos. Colocado neste âmbito, passa o destino a ser tema de teologia.

b) O termo, contudo, tem outros empregos. Assim é usado para indicar aqueles fatos ou acontecimentos, que são inevitáveis; também para indicar a direção dos acontecimentos, como destina-se a ..., e ainda para apontar o que segue ao acaso, como se vê na expressão sem destino. Usa-se, também, para indicar a sorte de alguma coisa, o destino deste objeto. São termos sinônimos: fado, moira, fatalidade, fatum. Vide Azar. (4)

(1) MORA, J. Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola, 2004.

(2) Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia. 

(3) Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.

(4) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.