Humanismo

Humanismo. Do latim humanistas. Atitude filosófica que faz do homem o valor supremo e que vê nele a medida de todas as coisas. 

Movimento intelectual que surgiu no renascimento. Lutando contra a esclerose da filosofia escolástica e aproveitando-se de um melhor conhecimento da civilização grego-romana, os humanistas (Erasmo, Tomás Morus etc.) se esforçaram por mostrar a dignidade do espírito humano e inauguraram um movimento de confiança na razão e no espírito crítico. Por uma espécie de deslocamento, o termo "humanismo" tomou dois sentidos particulares: a) na filosofia, designa toda a doutrina que situa o homem no centro de sua reflexão e se propõe por objetivo procurar os meios de sua realização; b) na linguagem universitária, designa a ideia segundo a qual toda formação sólida repousa na cultura clássica (chamada de humanidades).  (1)

Humanismo. Historicamente, é antes de mais nada uma corrente intelectual do Renascimento (os chamados humanistas: Petrarca, Pico della Mirandola, Erasmo, Budé...), baseada no estudo das humanidades greco-latinas, que desembocou numa certa valorização do indivíduo. Mas a palavra, em filosofia, tem um sentido muito mais amplo: ser humanista é considerar a humanidade um valor, o valor supremo, mesmo. Resta saber se esse valor é um absoluto, que se dá a conhecer, a reconhecer, a contemplar, ou se é relativo à nossa história, a nossos desejos, a certa sociedade ou civilização... No primeiro caso, fala-se de humanismo teórico, o qual pode ser metafísico ou transcendental, mas tende sempre a se tornar uma religião do homem; no segundo, de humanismo prático, que não aspira a nenhum absoluto, a nenhuma religião, a nenhuma transcendência: é tão-somente uma moral ou um guia para a ação. O primeiro é uma fé, o segundo, uma fidelidade. O primeiro faz da humanidade um princípio, uma essência ou um absoluto; o segundo vê nela apenas um resultado, uma história, uma exigência. (2)

Humanismo. Abordagem filosófica baseada na suposição de que a humanidade é a coisa mais importante que existe e que não pode haver conhecimento de um mundo sobrenatural - caso ele exista. (3)

Humanismo. Conceder importância superior ao que é humano e não a questões divinas ou sobrenaturais. (4)

Humanismo. Historicamente, é o movimento europeu (a partir do século XIV na Itália, final do século XV e século XVI na França) que redescobriu as obras e os textos da Antiguidade, opondo-se, em decorrência disso, à escolástica da Idade Média. Cristão (para conciliar a Bíblia e a literatura antiga) ou "paganizante" (aproveitando os modelos antigos para colocar em questão os valores do cristianismo), essa corrente principal desenvolve o espírito de crítica, favorece a libertação da filosofia da teologia e lança-se em busca de uma sabedoria (cf. Montaigne) que possa unir o gosto da erudição e o amor da vida (cf. Rabelais) para exaltar a dignidade do homem. 

Do século XVI ao final do século XVIII na França, o humanismo é o produto do estudo das "ciências humanas" (textos literários e filosóficos) e corresponde a via clássica, recusando qualquer excesso e privilegiando o "bom gosto", assim como as características de civilidade atribuídas ao "gentil -homem". De um modo geral, hoje é possível designar de humanismo qualquer atividade ou teoria que afirma que a dignidade humana é o valor supremo e deve portanto ser tão favorecida quanto defendida dos ataques procedentes dos  poderes políticos, econômicos, religiosos (embora se possa falar de um humanismo cristão), etc. Nesse sentido, o humanismo encontra-se em tendências filosóficas muito diversas (personalismo, existencialismo sartreano ...), mas é possível constatar sua ineficácia flagrante na história das sociedades. Além disso, tal concepção parece implicar uma definição preliminar do homem, o que pode acarretar paradoxalmente a exclusão de certos seres humanos da humanidade no sentido nobre. Assim, consegue-se compreender porque o humanismo tradicional foi atacado com violência por filósofos como Marx ou Nietzsche em nome de uma concepção diferente do que pode ou deve ser o homem. Por isso o marxismo, por exemplo (mas também o freudismo, o pensamento de Heidegger, etc.), pode ser indiferente qualificado de anti-humanismo — pelo fato de recusar a situação à qual o homem chega historicamente — e de humanismo — pelo fato de propor um devir mais digno para o ser humano. (5)

Humanismo. Uma ampla e secular antropologia filosófica e filosofia social. Rejeita crenças no sobrenatural e convida a seu exame crítico; advoga códigos morais e programas políticos que enfatizam a livre investigação, os direitos e o bem-estar humanos; e promove a separação entre a Igreja e o Estado. A ética humanista afirma que as morais não são dadas por Deus, mas feitas pelo homem, e que a maior obrigação de uma pessoa não é para com divindades imaginárias, mas para com seus semelhantes. O humanismo secular tem sido com frequência encarado como u ma doutrina puramente negativa concentrada na negação do sobrenatural. Não é bem assim, como poderá evidenciar qualquer boa amostragem de literatura humanística. De fato, o humanismo secular é uma cosmovisão positiva composta de cinco teses principais. Cosmológica: Tudo o que existe é, ou natural, ou obra manual ou do humano. Epistemológico: É possível e desejável descobrir a verdade acerca do mundo e de nós próprios apenas com a ajuda da experiência, da razão, da imaginação, da crítica e da ação. Moral: Cumpre-nos sobreviver neste mundo, o único que é real, pelo trabalho mais do que pela prece, e desfrutar a vida, bem como ajudar os outros a viver em vez de condená-los. Social: Liberdade, igualdade e fraternidade. Política: Ao mesmo tempo em que defendemos a liberdade do culto religioso e da fidelidade política, devemos trabalhar para a consecução e a manutenção de um Estado laico e uma ordem social democrática plena. Entretanto, nem todo humanista atribui o mesmo valor a todos os cinco componentes. É típico que, enquanto alguns deles acentuam os componentes intelectuais, outros enfatizam os sociais. O que é igualmente justo, pois prova que, longe de ser uma seita ou um partido, o humanismo secular é um amplo guarda-chuva que abriga tanto os ativistas sociais quanto os livres-pensadores. (6)

Humanização. Nascemos homens ou mulher; tornamo-nos humanos. Esse processo, que vale tanto para a espécie como para o indivíduo, é o que podemos chamar de humanização: é o devir humano do homem – o prolongamento cultural da hominização. (2) 

Humanismo. a) Posição que considera o bem humano como principal.

b) Os estudos dedicados aos temas e assuntos clássicos em oposição aos eclesiásticos. Humanista era sinônimo de pessoa com saber enciclopédico (conhecedor de Humanidades).

c) Sentido de máxima valorização religiosa do homem. Neste sentido é conhecido também por humanitarismo. Vide Filantropia.

d) Doutrina de Schiller que parte do postulado de Protágoras, que afirma que "o homem é a medida de todas as coisas, que são e das que não são", tendendo assim, a considerar toda a realização cultural do homem como genuína e só humana decorrendo pois, exclusivamente, da sua esquemática, condicionada pragmaticamente.

e) Doutrina ética que afirma que o homem deve cingir-se em sua atuação ao que é humano. (7)


(1) JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

(2) COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário Filosófico. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

(3) VÁRIOS COLABORADORES. O Livro da Filosofia. Tradução de Rosemarie Ziegelmaier. São Paulo: Globo, 2011.

(4) LEVENE, Lesley. Penso, Logo Existo: Tudo o que Você Precisa Saber sobre Filosofia. Tradução de Debora Fleck. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013.

(5) DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993. 

(6) BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang) 

(7) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.