Sensação

Sensação. É por intermédio do sistema nervoso que o ser vivo toma contato com o meio ambiente. Segundo os psicólogos é a sensação o elemento mais simples da consciência. Ela é "a repercussão na consciência de uma impressão produzida no corpo", mais acentuada nas regiões em que a inervação é mais rica, como são as dos órgãos dos sentidos. O fator exterior que a provoca é chamado de excitação.  É um estado psicológico, em que se encontra o psiquismo ante um complexo processo de fatos mais elementares. Nela reconhecemos: 1) certa qualidade pode ser auditiva, táctil, visual, etc., certo caráter específico; 2) certa intensidade mais intensa, menos intensa; 3) certo tom afetivo agradável ou desagradável, em graus maiores ou menores. Duvidam os psicólogos das chamadas sensações indiferentes; 4) certo conteúdo representativo é uma informação, mais ou menos nítida do mundo exterior.

A tensão vital, ao encontrar uma resistência exterior, que se manifesta na forma de excitação, sofre uma mudança na sua direção, uma discontinuidade. Os nervos periféricos são atingidos segundo a qualidade da resistência exterior, se auditiva, se visual, etc. a mudança de estado desses nervos periféricos é correspondente à intensidade da excitação. A sensação pode ser favorável ou não ao organismo, portanto agradável ou desagradável, que é o seu caráter afetivo. Ela fornece imediatamente uma informação sobre o que produziu a excitação. É através dos órgãos dos sentido, que tomamos conhecimento do mundo exterior. Classicamente são: a vista, o olfato, o ouvido, o gosto e o tato. Entretanto os psicólogos acrescentam quatro ou cinco a mais. São os sentidos internos. As sensações de fadiga, de tensão muscular, as câimbras nos dão as sensações de nossos músculos, como os estados de depressão e de sobreexcitação nos dão a de nossos nervos, a fome, a sede, náuseas, mal-estar nos indicam a sensação de nosso tubo digestivo, como as sufocações, a dispneia dos órgãos respiratórios, as palpitações e as angústias, dos órgãos de circulação. As mudanças de temperatura de nossos órgãos internos nos são reveladas pelas sensações de febre, que são diferentes das que são proporcionadas pelo mundo exterior ao nosso corpo. São conhecidas pelo nome genérico de cenestesias. No caso de hipnose alguns doentes descreveram nitidamente suas sensações, bem como as regiões onde as sentem, sem terem o menor conhecimento de anatomia. Essa percepção dos órgãos internos é a autocospia.

Um excesso de atenção pode aumentar a sensibilidade. Os neurastênicos prestam tamanha atenção a essas sensações, que as aumentam exageradamente de intensidade. As sensações quinestésicas (formada dos termos gr. kinesis, movimento, e aísthesis, sensação, sensação do movimento) são as que nos indicam as diversas posições do nosso corpo: se estamos ou não com os braços estendidos ou em ângulo reto; as pernas abertas ou fechadas; se os dedos se dobram ou não sobre a palma da mão, sem que tenhamos realmente sensação de qualquer contato. Se movimentamos nossos membros, sabemos logo, sentimos se estão em movimento; fatos que levaram alguns psicólogos a falar de um sentido muscular. Estas sensações são importantes para a fundamentação da noção de espaço, da noção das extensões, como também para a formação da maestria dos movimentos. São as sensações cenestésicas.

A sensação térmica.  Aceitava-se que era o tato que proporcionava as sensações do calor e do frio, assim como as de pressão e de dor. Os psicólogos decompuseram o sentido do tato e verificaram não ser a pele sensível em todas as partes, oferecendo variações quanto à sensibilidade do frio e do calor, pois há partes que sentem mais e outras menos. Desta forma, não é apenas uma questão de pressão, do contato, mas um verdadeiro sentido térmico (de thermos, gr., calor). As sensações de frio e de calor são variáveis, de acordo com a temperatura da pele. As partes do corpo variam de temperatura. O nariz e as mãos são mais frios do que o tronco; a boca é mais quente do que as partes exteriores do corpo. Uma pessoa que tenha feito exercícios fortes sente calor devido à circulação mais rápida do sangue, e esse calor se irradia pela pele, dando a impressão de abafamento.

O sentido da orientação. O ouvido, internamente, é um órgão complexo. Além de uma parte enrolada sobre si mesma chamada caracol; tem três canais semicirculares, onde se alojam saquinhos chamados outrículo e sáculo que contêm, cada um, um corpo de nome otolito, composto de finos cristais calcários. Não conheciam os cientistas quais as suas funções. Foi com surpresa que comprovaram que as lesões neles feitas, não prejudicavam em nada a audição, mas produziam vertigens, quedas, transtornos nas atitudes, na emissão dos sons, nos movimentos Isto os levou a considerá-los como órgãos do sentido da orientação, pois termina no ouvido um nervo sensitivo que se une ao auditivo, mas independente. Segundo Ebbinghaus: "se com os olhos fechados, giramos muitas vezes seguidas, tendo como base o calcanhar, e nos detemos subitamente, teremos a impressão sensível, vivíssima, de girar em sentido contrário ao precedente. Esta é uma sensação dos canais semicirculares. Deve-se ao anel do líquido no canal horizontal que, no começo da rotação do corpo, havia ficado um tanto pegado às paredes deste, e segue girando um momento quando nos detemos bruscamente, o que produz uma excitação contrária à precedente nos órgãos terminais de um nervo que penetra nesse líquido. Se girarmos rapidamente, num círculo bastante grande, como ocorre com os cavalinhos num carrossel, ou quando se descreve uma curva, o corpo tem a impressão de inclinar-se para fora. Se subimos rapidamente um elevador, ao deter-se este, bruscamente, temos a impressão de descer. São sensações dos órgão otolíticos"... são verdadeiramente graves os transtornos que se verifiquem nesses órgãos. Certas fobias, como agorafobia (fobia das multidões), muitas vezes têm esta causa. (1)

(1) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.