Argumento: Mãos Sujas, Desígnio, Montão...

Argumento das Mãos Sujas. Justificativa usada com frequência para ações incorretas, segundo a qual se não formos nós a fazê-las, alguém a fará (e ficará com a recompensa). Por exemplo, se não vendermos armas a um regime perverso, ganhando a vida assim, alguém o fará; portanto, é melhor que nós mesmos o façamos. (1)

Argumento do desígnio. Argumento segundo o qual o mundo (onde "mundo" significa todo o universo) se assemelha o bastante a uma máquina ou a uma obra de arte ou de arquitetura, para ser razoável supor a existência de um arquiteto cujo intelecto é responsável por sua ordem e complexidade. Este é declaradamente um argumento por analogia: sustenta-se que, já que o universo é semelhante em alguns aspectos a um relógio, por exemplo, então o universo provavelmente também é, tal como o relógio, o produto de um desígnio. O argumento foi usado pelos estoicos e teve uma grande aceitação no século XVIII, mas foi atacado de forma esmagadora por Hume, nos Diálogos sobre a religião natural, e por Kant, na Crítica da razão pura. O argumento nos convida explicitamente a fazer uma regressão ao infinito, já que o universo e um arquiteto parece ser um exemplo de organização ainda mais maravilhoso, o que deve nos levar a postular um arquiteto de arquitetos. Se considerarmos natural que um arquiteto possa "existir por si" (ver perseidade), devemos nos questionar por que o universo também não pode "existir por si". O argumento do desígnio também suscita problemas morais: já que a natureza da divindade é evidenciada pela sua criação, não podemos atribuir a Deus mais interesse na bondade ou na justiça do que a que  encontramos no curso normal das coisas (ver também problema do mal). A teoria da evolução pela seleção natural veio destruir a eficácia de um dos principais exemplos, frequentemente apresentado, de desígnio da natureza: o da adaptação dos órgãos e capacidades animais ao seio meio ambiente. (1)

Argumento de Montão. Com este nome faz-se referência a duas argumentações, uma de Zenão de Eléia, outra de Eubúlides de Megera. O argumento de Zenão de Eléia dirige-se contra a fidedignidade do conhecimento sensível e, em particular, do ouvido: se um alqueire de trigo faz barulho ao cair, cada grão e cada partícula de grão deveria produzir um som ao cair, o que não ocorre. O argumento de Eubúlides consiste em perguntar quantos grãos de trigo são necessários para formar um monte; bastaria só um grão? Bastariam dois? etc. Como é impossível determinar em que ponto começa um monte, aduz-se esse argumento contra a pluralidade das coisas. 

Argumentos da Ilusão.  Os argumentos da ilusão tomam como premissa tanto a existência, como a possibilidade das ilusões, e indicam a possibilidade da ilusão total, ou então o ceticismo quanto ao próprio conhecimento. Assim, os sentidos às vezes nos enganam e podem fazê-lo em todas as ocasiões; logo, argumenta-se, talvez os sentidos nos enganem sempre ou, em qualquer caso, nunca devemos confiar implicitamente neles. Em algumas de suas formas, os argumentos são sem dúvida inválidos: assim, mesmo que os sentidos possam nos enganar em qualquer ocasião, não se segue que possam nos enganar em todas as ocasiões. Qualquer moeda pode estar viciada, mas daqui não podemos deduzir que é possível que todas as moedas estejam viciadas, uma vez que a existência de moedas viciadas supõe a existência de moedas não-viciadas. (1)

(1) BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Consultoria da edição brasileira, Danilo Marcondes. Tradução de Desidério Murcho ... et al. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.