Filosofia Oriental

Filosofia Oriental. Por "filosofia oriental" entende-se, em sentido muito amplo, a filosofia ou, melhor, o "pensamento" — antigo e moderno — de todos os países do Oriente; portanto, o pensamento elaborado em várias regiões da Ásia Menor, na Síria, na Fenícia, no Irã, na Índia, na China, no Japão e em outros países desta vasta zona geográfica. Às vezes também se incluem na filosofia oriental o pensamento egípcio antigo e ainda na filosofia árabe e judaica, embora o mais comum seja excluir estas últimas (assim como a chamada "filosofia síria") por sua estreita vinculação com a história da filosofia ocidental, da qual acabam fazendo parte. Mesmo com essa restrição, a definição ostensiva de "filosofia oriental" apresenta vários inconvenientes. Um dos maiores problemas é que quando se tenta desenvolver seu conteúdo é preciso abandonar frequentemente o tipo de pensamento propriamente filosófico e se referir antes ao pensamento religioso ou até mesmo às formas mais gerais da cultura correspondente. Quando essa referência constitui o horizonte cultural, histórico ou espiritual dentro do qual pode ser inserida a filosofia, a desvantagem a que aludimos não é considerável, mais ainda, tal referência pode ajudar a compreender melhor o pensamento filosófico que se trata de esclarecer. Porém, quando o horizonte em questão substitui a filosofia de modo excessivamente radical corre-se o risco de perdê-la de vista completamente. Para evitar isso, propôs-se um conceito mais restrito de "filosofia oriental". Essa proposta consiste em circunscrevê-la às seguintes manifestações: cosmologia iraniana e diversos elementos religiosos e religioso-filosófico vinculados a ela (particularmente o zoroastrismo); filosofia indiana, filosofia chinesa e filosofia japonesa. De modo mais estrito ainda pode-se restringir o mencionado conceito às maiores dessas filosofias: a indiana e a chinesa. Essa é a posição por nós adotada aqui. Ao contrário do termo "Oriente", que designa um conglomerado mais amplo e variado de elementos culturais e espirituais (como quando dizemos, por exemplo: "Platão e o Oriente"), a expressão "filosofia oriental" ainda designa um conjunto mais amplo, mas mais fácil de observar e perfilar; não apenas geograficamente, mas também intelectualmente. 

A característica que mais nos interessa é a determinada pelo tipo especial de saber. O saber que se manifesta na filosofia oriental tende a ser um saber de salvação. Os outros saberes — culto e técnico — não são esquecidos de modo algum, mas se desenvolvem e prosperam em função daquele outro saber primário. Essa salvação pode ser entendida, por sua vez, ou como salvação do indivíduo em um todo cósmico, ou como a integração do indivíduo em um todo social: a primeira é típica da filosofia indiana; a segunda, da filosofia chinesa. O individualismo, o intelectualismo e o voluntarismo da filosofia ocidental não são esquecidos, mas reduzidos ao mínimo (abafados) na filosofia oriental. 

Diferença entre a filosofia indiana e a filosofia chinesa. Enquanto esta última manifesta uma frequente tendência prático-ética e prático-social, a outra tem um caráter mais especulativo e, ao mesmo tempo, mais inclinado a elaborar todas as técnicas filosóficas necessárias para levar seus propósitos especulativos a bom termo. Há, contudo, um elemento comum, a forma humana no qual encarna o saber filosófico: trata-se do "sábio" (não, portanto, do filósofo stricto sensu, do "raciocinador", do "intelectual" ou do "técnico da inteligência"). Comparativamente ao ocidental, enquanto o intelectual do Ocidente o faz por afã de objetividade, o sábio do Oriente o faz com o fim de reintegrar-se mais completamente ao que considera ser a Realidade verdadeira. 

Relação entre filosofia oriental e filosofia ocidental. 

1) a presumida falta de relação entre a filosofia oriental e a filosofia ocidental  baseia-se: a) O pensamento oriental tem como bases principais a tradição religiosa, a concepção de mundo, os problemas de comportamento social etc., mas não a pura razão teórica surgida na Grécia. b) O pensamento ocidental tende  — salvo em alguns representantes — não tanto para o universal como para o superficial; ele se desenvolve na pura razão raciocinante ou em um puro empirismo circunscrito ao mais imediato, tende para o método e para o aperfeiçoamento das técnicas, com esquecimento crescente dos motivos cósmicos e, sobretudo, da tradição. O pensamento oriental, por outro lado, dirige-se para os últimos motivos. Daí a sua superioridade (Schopenhauer, Deussen, R. Guénon) e até a possibilidade de que somente ele mereça verdadeiramente ser qualificado de filosofia. 

2) As diferenças existem. 2a) Somente quando não se concede a devida atenção à comunidade de pressupostos ou 2b) somente quando não se leva em conta o efetivo trabalho filosófico realizado pelos filósofos orientais.

3) Oriente e Ocidente não são nem iguais nem distintos. São como dois jorros procedentes de um manancial único. A máxima diferença entre Oriente e Ocidente foi produzida na época moderna a partir de Galileu e Descartes, mas o futuro pode reduzi-la. 

4) É difícil falar de uma filosofia Oriental e de uma filosofia Ocidental; é mais plausível falar de filosofias orientais e de filosofias ocidentais. Além disso, o que pode ser adequado nas comparações quando se toma como exemplo a Índia, pode não sê-lo ao se tomar a China (ou Japão) (1)

(1) MORA, J. Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola, 2004.