Faculdade

Faculdade (faculté). Uma potência inata ou a priori: por exemplo, a potência de sentir (a sensibilidade), de pensar (a inteligência, o entendimento), de desejar, de querer, de imaginar, de se lembrar... A dificuldade é ligar a pluralidade dessas faculdades, que parece um fato de experiência, à unidade do espírito ou do cérebro, sem a qual não haveria experiência alguma. A neurobiologia, nesse domínio, tem sem dúvida mais a nos ensinar do que a filosofia. A "doutrina das faculdades", como se dizia, cedeu lugar às ciências cognitivas. (1)

Faculdade. Quando foram estabelecidas certas "divisões da alma" propôs-se aquilo que depois foi chamado de "a doutrina das faculdades" (ou potências). Isso ocorreu com as "divisões" propostas por Platão, por Aristóteles e pelos estoicos. Platão distingue a potência (ou espécie) racional, a concupiscível e a irascível (mais ou menos equivalentes a razão, desejo e vontade). Aristóteles distinguia duas partes fundamentais em toda alma: a vegetativa e a intelectiva. Os estoicos distinguiam o princípio diretivo (hegemônico)de caráter racional, os sentidos, o princípio espermático e a linguagem. Santo Agostinho distinguia memória, inteligência e vontade (faculdades da alma que "correspondiam" às propriedades divinas).

Um dos problemas suscitados pelos escolásticos ao tratar a questão da essência da faculdade foi o de se as faculdades são ou não são distintas da alma. Muitos autores admitiram, se não uma completa, ao menos certa distinção real (aliqua distinctio realis). Nem tudo o que se diz da alma pode, segundo eles, ser dito das faculdades, e vice-versa. A razão da distinção é a seguinte: as faculdades ou potentiae agendi podem ser consideradas acidentes de uma substância que, como tal, subjaz a todos os seus acidentes, modos ou manifestações. Deve-se observar que quando se afirma essa distinção fala-se da "essência da alma" e da "essência das faculdades"; dizer simplesmente "distinção entre a alma e suas faculdades" não expressa com clareza suficiente o problema determinado. (2)

Faculdade. (do lat. facultas, que, por sua vez, vem de facul = facile, que significa facilmente). a) Faculdade é a facilidade (possibilidade, capacidade, poder) para fazer alguma coisa.

b) Na psicologia tomou o sentido de potências pertencentes à essência da alma, ordenadas dinamicamente para a sua atuação. São forças endereçadas às atividades anímicas. Assim, a memória, o sentimento, a afetividade, a vontade, o entendimento, etc., são faculdades da alma. Não são elas partes da alma, como afirmam alguns, pois esta, para os escolásticos, é simples e espiritual. Não há distinção real-real entre as faculdades.

c) Na moral e no direito diz-se que é facultativo o que é permitido, o que não sendo obrigatório pode ser feito ou não.

d) Entendem-se também por faculdade as atribuições de alguém no cargo que ocupa, que podem ser usadas dentro do âmbito que as mesmas atingem.

e) Emprega-se o termo na pedagogia para nomear um setor do ensino universitário, que se caracteriza pela disciplina que ministra. (3)


(1) COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário Filosófico. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 

(2) MORA, J. Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola, 2004.

(3) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.