Inconsciência

Inconsciência. Apesar de sua base etimológica precisa e clara, enquanto negação da consciência, torna-se contudo extremamente difícil definir o inconsciente. Pode-se, também, definir a inconsciência com relação ao ser: que não possui qualquer consciência (átomo); que é pouco ou nada capaz de debruçar sobre si próprio, e (relativamente) que não tem consciência de tal fato particular: "uma alma inconsciente das suas verdadeiras crenças".

Muitos são os psicólogos que negam a existência de fenômenos psicológicos inconscientes, pois alegam que, sendo a consciência própria do pensamento, o que não é consciência, deixa de ser psicológico.

Crítica - Uma análise dos fatos da vida mostra-nos, patentemente, o quanto o inconsciente penetra e intervém no que fazemos. O pianista, ao executar um trecho da música não é consciente de todos os seus movimentos; o mesmo acontece com o operário ou o artista. Mozart declara ter ouvido todo um acorde, antes de compor uma melodia — o consciente, nesse caso, estaria ligado ao trabalho de coordenação. (1)

Figura ilustrativa (2)

Inconsciente. Como adjetivo,  é tudo o que não é consciente: por exemplo, a circulação do sangue ou as trocas elétricas entre os neurônios são processos inconscientes, como a quase totalidade de nosso funcionamento orgânico. "Não sabemos o que pode o corpo", dizia Spinoza. É que o essencial do que ele pode é inconsciente. 

Como substantivo, é tudo o que poderia ser consciente, de direito, mas que não pode sê-lo, de fato: o recalque e a resistência se opõem. O inconsciente é, então, um inconsciente físico, como diz Freud, e é esse paradoxo que o define: é como um espírito sem espírito, um pensamento sem pensamento, um sujeito sem sujeito. Impossível? Não se pode dizer que sim. Quem sabe o inconsciente não é a verdade do espírito, de que a consciência seria a ponta extrema, sempre ameaçada, ou o pico , sempre a ser conquistado. Se o pensamento se pensasse a si, seria Deus. O inconsciente é o que nos separa disso. 

Evitemos pois adorá-lo e, até mesmo, acreditar plenamente nele. O inconsciente tampouco é Deus. A psicanálise, quando erigida em religião, nada mais é que uma superstição como outra qualquer. (3)

Inconsciente. O ingresso dessa noção em filosofia deve-se a Leibniz, que frisou a importância das "percepções insensíveis" ou "pequenas percepções", de que não se toma ciência e sobre as quais não se reflete. Para Leibniz, são essas percepções que "formam o não-sei-quê, os gostos, as imagens das qualidades sensíveis, claras no conjunto mas confusas nos detalhes, as impressões que os corpos que nos rodeiam exercem sobre nós e que envolvem o infinito, os vínculos que cada ser tem com o restante do universo". A existência dessa zona inconsciente tornou-se lugar-comum na escola wolffiana e foi admitida por Kant, que respondeu à objeção de Locke de que não se pode ter representações das quais não se tenha consciência, porque as ter significa exatamente estar consciente delas, afirmando que "podemos estar conscientes mediatamente de uma representação da qual não estejamos conscientes imediatamente. (4)

Inconsciente (Natureza do). (do lat. inconscium, inconsciente). Para Jung, Myers, James, etc. o eu sublimal (inconsciente) é uma realidade e não uma mera distinção do psiquismo. O eu inconsciente seria igual, em potência, em todos os homens, em todos idênticos, e explicaria os fenômenos de telepatia, da parapsicologia em geral. Para Freud esse fundo é individual, o id, que constitui a verdadeira personalidade do homem, sendo a vida consciente, o ego, apenas uma manifestação parcial desse grande inconsciente. (1)


(1) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo, Matese, 1965.

(2) DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.

(3) COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário Filosófico. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

(4) ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.