Alienação

Alienação. Do latim alienatio,onis. 1. Ato ou efeito de alienar(-se); alheamento. 2. Dir. Transferência a outrem de posse ou direito: alienação de bens. 3. Estado causado por privação de qualquer direito. 4. P.ext. indiferença a problemas sociais, políticos etc. (1)

Alienação. Conceito fundamental nas obras filosóficas de Hegel, Feuerbach e Marx, e também nos textos posteriores das tradições idealista e marxista. A alienação (do alemão Entfremdung, também pode ser traduzido por afastamento) exprime sobretudo a ideia de algo que está separado de outra coisa ou que é estranho a essa coisa: estou alienado de mim na medida em que não posso compreender ou aceitar a mim mesmo; o pensamento está alienado da realidade, pois a reflete de forma inadequada; estou alienado de meus desejos uma vez que eles não são autenticamente meus, sendo antes impostos a mim do exterior; estou alienado dos resultados dos meus trabalhos porque estes se tornam mercadorias; e posso estar alienado de minha sociedade pois em vez de fazer parte de uma unidade social que a constrói, me sinto controlado por ela. Em Hegel, o progresso para o absoluto (ver idealismo absoluto) consiste num crescimento da autoconsciência, que é um processo de "desalienação" por meio do qual aquilo que está separado  e falsamente objetivado recupera sua unidade através da autocriação e da autoconsciência (embora as mentes finitas, agentes desse crescimento, alienem-se de si mesmas na atividade e na "objetivação" de seus produtos materiais e sociais). Em Feuerbach, pelo contrário, abandonam-se os aparatos absolutistas da alienação hegeliana e o conceito é substituído pelo de autoalienação, uma condição a ser superada pela autoconsciência que, por sua vez, é o resultado da relação apropriada com nossos produtos e atividades. No uso que Marx dá ao conceito, separa-se por vezes o seu primeiro período, hegeliano, do período dos textos posteriores, mas não restam grandes dúvidas sobre sua adesão permanente à ideia de que a natureza humana será sempre auto-alienada, a menos que haja uma transformação comunista da sociedade. Ver também anomia; autenticidade; Dasein; falsa consciência. (2)

Alienação. Em Marx, a alienação é radicalmente econômica e social: é porque o proletariado só tem como bem sua força de trabalho que seu labor cai sob o domínio do outro; então ele é separado do seu produto e "o trabalho alienado (...) é mortificação". Religião, moral e política não passarão de repetição dessa alienação fundamental que só poderia desaparecer pela supressão da economia capitalista, se for verdade que "para nós, em nossa sociedade, com as formas de intercâmbio e a divisão social nela reinam, não existe relação social - relação com o outro - sem uma certa alienação" (H. Lefebvre). (3)

Alienação Mental. 1. Psicop. Perda da razão em virtude de perturbações psíquicas. 2. Psiq. Sintoma clínico em que situações ou pessoas conhecidas se tornam estranhas. (1)

Alienação. a) A alienação surge do verbo alienar que significa tornar alheio ou de outro. É, portanto, a ação ou o efeito de alienar, tornar-se alius. Em sociologia, como nas ciências filosóficas, o termo alienação é muito usado e significa em geral a ação ou o resultado desta em tornarem-se as pessoas humanas outras do que realmente são, por constrangimento econômico, social ou político. Pode-se até dizer que o homem moderno, senão em raros momentos, é ele mesmo, pois as condições da vida social fazem-no tornar-se outro que si mesmo. A luta contra a alienação passa a ter julgamentos filosoficamente justos. Deseja-se, através dela, dar ao homem a sua plena autenticidade (de autos, si mesmo). A civilização e a cultura moderna são acusadas de serem também fatores de alienação.

b) Termo geralmente usado para designar as perturbações profundas do espírito. Atualmente pouco usado pelos psiquiatras que procuram evitá-lo, devido ao sentido demasiadamente amplo que tem. (4)

(1) DICIONÁRIO ENCICLOPÉDICO ILUSTRADO LAROUSSE. São Paulo: Larousse, 2007.

(2) BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Consultoria da edição brasileira, Danilo Marcondes. Tradução de Desidério Murcho ... et al. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

(3) DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.

(4) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.