Tempo

Tempo. Um continuum não-espacial em que os eventos ocorrem numa sucessão aparentemente irreversível de passado, presente e futuro. (1) 

Tempo. Um período ou espaço limitado de existência contínua, como o intervalo entre dois eventos sucessivos. (2)

Tempo. Trata-se de uma categoria ontológica fundamental partilhada por todas as disciplinas, com exceção da matemática e também da microeconomia neoclássica. O conceito de tempo é escorregadio, e tem sido por isso objeto de muitos contra-sensos. Por exemplo, Heidegger escreveu que "o tempo é o amadurecer da temporalidade". Outro exemplo é a metáfora de que o tempo flui, o que não faz sentido porque o tempo não é uma coisa. (ver flecha do tempo). O que "flui" (muda) são coisas reais. O tempo é, para falar da maneira não rigorosa, o passo da mudança das coisas reais. (Isto é, o tempo não é absoluto, porém relacional). Mas o tempo não é uma propriedade de qualquer coisa real particular: como espaço, o tempo é "público", ou seja, partilhado por todas as coisas. Distinguem-se dois conceitos de tempo: o físico (ou ontológico) e o perceptual (ou psicológico). O tempo físico é, em geral, encarado como algo objetivo, enquanto o tempo psicológico é, por definição, tempo (ou então duração) percebido por um sujeito. O tempo físico é objetivo, mas não existe por si próprio, deslocado de tudo o mais. Tanto é assim que o tempo é medido pela observação de um outro processo, isto é, uma oscilação de um pêndulo ou a desintegração de um material radioativo. E, estritamente falando, o tempo é imperceptível. Podemos apenas perceber ou sentir um processo. E tal percepção depende criticamente de nossa participação no mencionado processo. Assim, os sujeitos com privação sensória perdem logo, nos experimentos em que estejam envolvidos a contagem do tempo. (3) 

Tempo. Quer seja apreendido como um período que transcorre entre dois acontecimentos, ou como uma mudança contínua e irreversível segundo uma dimensão linear em virtude da qual o presente se torna passado e o futuro presente, o tempo permanece paradoxalmente irrepreensível enquanto nele estamos imersos sem jamais podermos dele nos abstrair. 

Kant faz do tempo, meio homogêneo como o espaço, o contexto a priori de nossa percepção e a condição universal do conhecimento. 

A continuidade, mas também a sucessão constituem a natureza do tempo, como observa Leibniz: "O tempo é a ordem dos sucessivos, mas que têm conexão entre eles."

A fenomenologia contemporânea associa de bom grado o tempo à atividade da consciência, seja para torná-lo o fundamento da liberdade graças ao projeto (Sartre) que ele permite empregar, seja para justificar a inquietação do homem "ser-para-a-morte". (Heidegger, citando Nietzsche) (4)

Tempo. No pensamento aristotélico é a medida do movimento, mas não é o movimento e sim simultâneo com ele. É pelo movimento que se define o tempo, que é uma medida extrínseca do movimento. Ele não é o número pelo qual numeramos, mas numerado, e numera o movimento segundo os dois últimos tempos, por dois agoras.  Não é um número simpliciter numerans, mas número numerado. Sem o movimento não há o tempo. Desta forma, ele é o número do movimento. É o que flui num contínuo divisível e sempre divisível. É a quantidade contínua das coisas numeradas. Não conhece corrupções; é sempre simultâneo e igual, e sempre o mesmo, apesar de se falar num tempo mais veloz ou menos veloz. Não pode ser infinito se a magnitude é finita. O tempo e o movimento são infinitos, não em ato. Se é contínuo, não é necessário que o movimento o seja. Vide Espaço. (5)

Figura Ilustrativa (4)

(1) American Heritage Dictionary

(2) The Oxford English Dictionary

(3) BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)

(4) DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.

(5) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.