Pensamento

Pensamento. FILOS. No sentido mais lato, designa-se por pensamento toda a atividade psíquica; numa acepção mais estreita, só o conjunto de todos os fenômenos cognitivos, e excluindo, portanto, os sentimentos e as volições; mais estritamente ainda, pensamento é sinônimo de "intelecto", enquanto permite compreender  - ou inteligir - a matéria do conhecimento e na medida em que realiza um grau de síntese mais elevado que a percepção, a memória e a imaginação. (1)

“O supremo paradoxo de todo o pensamento é tentar descobrir algo que o pensamento não pode pensar”. (Kierkegaard)

Pensamento. É comum pensar que as pessoas se caracterizam por sua racionalidade, e que o sinal mais evidente da mesma é nossa capacidade de pensar.  O pensamento é o ensaio mental do que vamos dizer, ou do que vamos fazer. Nem todo o pensamento é verbal, uma vez que todos os jogadores de xadrez, compositores e pintores pensam, mas não há qualquer razão a priori para pensar que suas deliberações mentais têm uma forma mais verbal do que suas ações. (2)

Pensamento. Do latim pensare, pensar, refletir.  Atividade da mente através da qual esta tematiza objetos ou toma decisões sobre a realização de uma ação. Atividade intelectual através da qual o espírito humano forma conceitos e formula juízos. Diferentemente do conhecimento, que visa apropriar-se dos dados empíricos ou conceituais, o pensamento constitui uma atividade intelectual visando à produção de um saber novo pela mediação da reflexão. (3)

Pensamento. (do lat. pensare, pensar, medir, e de um radical man, men, que nas línguas indogermânicas significa avaliar, daí mente, menção, homem, mensh, man, etc.). O pensamento, estritamente considerado como o estuda a psicologia, é o ato de pensar, ato de captação de pensamentos. A intuição intelectual, ao captar as semelhanças e as diferenças, capta pensamentos. Captar pensamentos é avaliar medidas, relações, notas, aspectos, modalidades, funções, etc., que são escolhidas, selecionadas entre muitas (inter, entre e lec, radical que indica colher; daí intelecto, a função de escolher, de captar pensamentos). O ato intelectual é um ato de escolha de pensamentos entre pensamentos, e esse ato é o ato de pensar.

Na intelectualidade temos um pensamento intelectual, que é o que realiza o ato intelectual de pensar. Na sensibilidade, no sensório-motriz também captamos pensamentos. Há um pensamento sensório-motriz que também avalia, compara, que se processa naturalmente sem a consciência atualizada na intelectualidade (o judicium sensus dos escolásticos). Mas nosso organismo também delibera e escolhe entre muitas ações inconscientes, ações de equilíbrio, por exemplo, do andar ou de certos automatismos que acompanham e obedecem a interesses orgânicos. O sensório-motriz também tem sua lógica que se caracteriza pelo que chamamos instinto. E, segundo o nosso inconsciente, escolhemos, preferimos, sem que muitas vezes compreendamos o rigor que há nessas escolhas. Todo o conjunto de nossos reflexos obedece, quer na formação dos esquemas reflexos, como na coordenação em esquemas mais complexos, a uma lógica, que ainda é logos, em seu genuíno sentido de razão, também em seu sentido de coerência e de ordem, e não apenas no sentido intelectualista de racionalidade, do operatório, do comumente chamado lógico. (4)

Pensar e Pensamento. O sujeito do pensar é quem pensa, sujeito real, temporal. É a mente humana que realiza o ato de pensar (pesar, medir, calcular) que como ato é sempre novo. Assim pensamos no livro que está à nossa frente, e cada vez que o fazemos, realizamos um ato novo. O ato de pensar é outro, mas o pensamento livro é o mesmo. Tal fato se dá porque o que conceituamos, nos ex-traísmo, abs-traísmos das coisas. Esse conceito permanece virtualizado em nossa mente, pois o conceito de livro não é um livro, objeto real, mas o que generalizamos dele, um esquema abstrato. E chamaremos de livro a todo o objeto que em ato, isto é, como objeto, que suceda aqui e agora, corresponda àquele livro ideal, que virtualizamos. O conceito permanece em nossa mente como algo virtual, que ainda não é existencialmente em ato.

O ser virtual, que os filósofos costumam chamar de ser-em-potência, ou seja, um ser que ainda não é, mas que pode, tem o poder, potência de vir a ser-em-ato, não é ser no tempo nem no espaço, pois não ocupa um lugar nem muda com o tempo. O livro enquanto ato (este livro, aquele livro) ocupa um lugar no tempo e no espaço. Por isso, ao pensarmos uma, duas, três vezes sobre o conceito livro, realizamos três operações mentais de pensar; quer dizer, pensamos três vezes, mas o conceito livro é sempre o mesmo em todas elas, porque o conceito o separamos do tempo e do espaço, enquanto ao pensar, somos no tempo e espaço e o pensamento é algo que repetimos, porque não é tempo nem espaço.

Quando pensamos três vezes sobre o triângulo, realizamos o ato de pensar três vezes, porém não temos três triângulos, mas apenas um, porque o conceito de triângulo é alguma coisa que separamos do tempo e do espaço, pois este, que está aqui, pode ser maior ou menor em ato, apesar de como conceito não ter dimensão nem seus ângulos graus determinados, a não ser a soma de dois ângulos retos, o que é matematicamente necessário na concepção de um triângulo.

Todos, no entanto, sentimos isso quando dizemos: "eu tive o mesmo pensamento de você", ou seja, quando um pensamento de outrem coincide com o nosso. Um dos pontos mais importantes é o da distinção entre pensar e pensamento. O primeiro é objeto da psicologia; o segundo, da lógica. (4)


(1) GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.].

(2) BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Consultoria da edição brasileira, Danilo Marcondes. Tradução de Desidério Murcho ... et al. Rio de Janeiro: Zahar, 1997.

(3) JAPIASSU, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 3.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1996. 

(4) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.