Problema do: Mal, Trem

Problema do Mal. O problema de reconciliar a imperfeição do mundo com a bondade de Deus. O problema tem duas formas. Numa delas é preciso determinar se é consistente afirmar que um criador onipotente, onisciente e perfeito possa ter feito um mundo onde a dor e o mal constituem uma parte proeminente da vida e, talvez, da vida depois da morte (ver inferno). Este é um problema puramente lógico, ao qual se responde com frequência - mas com alguma insensibilidade - apontando-se as coisas boas adicionais que a existência do mal torna possível (ver também defesa do livre-arbítrio). Na segunda forma, a versão mais rígida do problema, aceitam-se as hipóteses que salvam a posição teísta e pergunta-se se poderá ser razoável encarar a própria criação imperfeita como um indício da capacidade divina, isto é, perfeita, de criar. O segundo argumento , especialmente eficaz contra o argumento do desígnio, foi desenvolvido por Hume nos seus Diálogos sobre a religião natural: "Aqui", diz Fílon, o cético, "eu triunfo". (1)

Problema do Trem. Problema de ética apresentado pela filósofa inglesa Philippa Foot em seu artigo “The Problem of Abortion and the Doctrine of the Double Effect” (Oxford Review, 1967). Um vagão ou um trem desgovernado aproxima-se de uma bifurcação da linha. Num dos ramais está uma pessoa trabalhando e no outro estão cinco; o trem matará, com certeza, quem estiver no ramal que percorrer. Para a maior parte das pessoas, o maquinista deverá virar para o ramal que tem menos gente. Mas agora suponha-se que, entregue a si mesmo, o trem entrará pelo ramal que tem cinco pessoas e que o leitor, que estava passando pelo local, pode interferir, direcionando os vagões de modo que ele entre pelo outro ramal. É certo, obrigatório ou sequer admissível que o leitor faça isso, sendo então aparentemente responsável pela morte da pessoa que estava no outro ramal? Afinal, quem teria o leitor lesado se tivesse deixado o trem seguir seu curso normal? Esta situação é estruturalmente semelhante a outras nas quais um raciocínio utilitarista parece levar à prática de um certo ato, ao passo que a integridade ou os princípios de uma pessoa podem contradizê-los. Ver também doutrina dos atos/omissões; principio do efeito duplo. (1)

(1) BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Consultoria da edição brasileira, Danilo Marcondes. Tradução de Desidério Murcho ... et al. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.