Humanidade

Humanidade. 1. Conjunto dos seres humanos. Sinônimo: gênero humano. ("a história da humanidade"). Esta abstração que serve de suporte a elevado número de princípios morais ("sacrificar-se para o bem da humanidade") não deve confundir-se com o homem em geral, que é simultaneamente objeto de uma definição científica (zoológica) bastante precisa e base de considerações psicológicas ou morais, frequentemente mais intelectuais e mais globais do que as respeitantes à "humanidade". No fim da vida, Augusto Comte encarava a hipótese de fundar uma "Religião da Humanidade", considerada como ser coletivo. 

2. Conjunto das características específicas e particulares ao homem, que o separam dos restantes animais. Num sentido mais específico: bondade natural, indulgência, piedade... atribuídas ao homem ("agir com humanidade"). (1)

Humanidade. A. Conjunto de características comuns a todos os homens, inclusive a vida, a animalidade etc. B. Conjunto de características que constituem a diferença específica da espécie humana com relação às espécies vizinhas. C. Conjunto dos homens, considerado algumas vezes, como constituindo um ser coletivo. D. Piedade, simpatia espontânea do homem pelos semelhantes. E. Por oposição quer ao racismo, quer às doutrinas totalitárias, a doutrina que faz da humanidade (do caráter humano, completamente realizado) o fim moral e político por excelência. (2)

Humanidade. 1. Como sinônimo de gênero humano, o conceito de "humanidade" designa o conjunto dos seres humanos. Fala-se, assim, da "história da humanidade", do devotamento ou trabalho para "o bem da humanidade" ou da "religião da humanidade" (expressão de Comte, que considera a humanidade um ser coletivo). 

2. Conjunto das características específicas do ser humano que o torna diferente dos outros animais. Assim, quando pedimos a alguém para "agir com humanidade", pedimos -lhe que aja com bondade natural, com indulgência, com "humanismo", sem crueldade, com justiça etc. 

3. No sentido atual e forte do termo, humanidades designa "as disciplinas que contribuem para a formação (Bildung) do homem, independentemente de qualquer finalidade utilitária imediata, isto é, que não tenham necessariamente como objetivo transmitir um saber científico ou uma competência prática, mas estruturar uma personalidade segundo uma certa paideia, vale dizer, um ideal civilizatório e uma normalidade inscrita na tradição, ou simplesmente proporcionar um prazer lúdico" (S. P. Rouanet, As razões do Iluminismo). (3)

Humanidade. Hist. Cult. 1) Termo usado sobretudo em quatro sentidos: a) essência ou natureza humana, isto é, aquilo que faz que um homem seja homem; b) solicitude do homem pelo seu semelhante, ou filantropia em sentido amplo, abrangendo vasta gama de formas; c) processo de formação do homem, de humanização (a paideia dos Gregos); d) gênero humano, ou conjunto de todos os homens. 

2) Facilmente se vê como entre si estão relacionados estes vários significados. 

3) A consideração do conjunto formado por todos os indivíduos que participam da mesma natureza humana, é de todos os tempos mais que objeto direto de investigação, a questão da natureza e características da humanidade têm sido abordadas ao estudar outros temas, como a natureza da sociedade e das pessoas morais, a universalidade da lei natural, o direito e sociedade internacional, a história, ou no campo religioso, o pecado original, o Corpo Místico, a Igreja (sobretudo enquanto uno e católica) etc. Se houvéssemos de traçar um panorama histórico das principais elaborações teóricas sobre a humanidade, não poderiam faltar, entre outros, os nomes de Agostinho, Confúcio, Dante, Vico, Herder, Comte etc.

4) A problemática implicada é complexa e difícil: a) antes de mais nada, a humanidade é um "dado" — o conjunto dos homens (quer considerados em determinado momento histórico quer em toda a extensão do tempo) é uma realidade. b) a humanidade, que é um "dado", é, em grande medida, um dado "potencial" ou virtual. Na sua atualização, que se verifica sob o signo do tempo, entram (de modo semelhante ao que sucede na constituição da sociedade), em percentagens e modalidades diferentes, fatores de determinismo e de liberdade. c) A humanidade é uma "tarefa", em duplo sentido: enquanto ainda não está toda atualizada, mas é, em grande parte, "a-fazer"; e enquanto implica um autêntico "dever-ser", que gera nos homens um verdadeiro "dever-fazer". Esta vocação de construtores da humanidade, em colaboração com outros homens e com Deus, vigora desde o começo da história humana e impende sobre todos e cada um; a modalidade concreta é que varia imensamente, de caso para caso e de tempo para tempo... A ameaça radical reside na tentativa de realizar a humanidade sem ou contra Deus, de alcançar a fraternidade eliminando o pai comum. (4)

Humanidade. a) Conjunto dos caracteres que compõem a essência do homem. Vide Humanitas.

b) Conjunto dos caracteres que constituem o que diferencia, especificamente, o homem. Vide Homem.

c) Conjunto dos homens vivos, mortos e por virem, considerados algumas vezes como constituindo um ser coletivo.

d) Diz-se do sentimento de piedade, de simpatia espontânea por nossos semelhantes. Vide Filantropia.

e) Valorização que se faz do homem, independentemente de raças, de ciclos culturais, de classes, de quaisquer hierarquias que possam, em qualquer tempo, ser consideradas.

f) No plural empregado para indicar as ciências culturais e materiais. (5)

(1) LEGRAND, G. Dicionário de Filosofia. Tradução por Armindo José Rodrigues e João Gama. Lisboa: Edições 70, 1986. 

(2) LALANDE, A. Vocabulário Técnico e Crítico de Filosofia. Tradução por Fátima Sá Correia et al. São Paulo: Martins Fontes, 1993. 

(3) JAPIASSU, Hilton e MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 3.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1996. 

(4) ENCICLOPÉDIA LUSO-BRASILEIRA DE CULTURA. Lisboa: Verbo, [s. d. p.] 

(5) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.