Espírito

Espírito. (do lat. spiritus, etimologicamente, sobre, respiração). a) Entre os estoicos gregos, o espírito (querendo referir-se a um princípio oposto à matéria bruta) era como o fogo, princípio animado, fonte de energia do cosmos (pneuma) que, em grego, significa também sopro, como spiritus.

b) Diz-se do que é imaterial (não apenas da matéria bruta, mas de toda e qualquer manifestação da matéria).

c) Para a alquimia (medieval) era um elemento sutil das coisas.

d) Em geral, um ser dotado de consciência e possuidor de inteligência e vontade, não-material.

e) Empregado, analogicamente, para referir-se ao poder criador do homem, que se revela nas obras de cultura, como a arte, a filosofia, a ciência, etc.

f) Na filosofia este termo tem provocado inúmeras confusões. Metafisicamente o espírito é oposto à matéria, e a ela transcende. A matéria é aqui tomada em seu sentido de matéria informada, ou então, de mera possibilidade, como o é para Aristóteles, a prote hylê, ou a hylen, neutra. O espírito é, assim, imaterial. Por essa razão, não havendo em Deus qualquer passividade, nem potencialidade passiva, é ele espírito, ato puro. O espírito é, consequentemente, ato. Mas sucede que, em todas as doutrinas que aceitam a existência do espírito ou de formas espirituais, só o espírito de Deus é ato puro, pois as outras formas espirituais são passíveis de mutações não substantivas; ou sejam, meramente acidentais, o que afirmaria serem compostas de ato e potência. Neste caso, matéria seria apenas a matéria já informada, que é objeto da física. Esta é movida, e informada, dinamizada pelo espírito, que é uma força reguladora e eficiente. A compreensão deste verbete exige a leitura dos que com ele se relacionam.

g) Em sentido psicológico é o espírito o princípio dos processos da vida mental (o homem é um ser dotado de espírito), que se manifesta na própria consciência, que é a fonte da sua inteligência, das reflexões, o poder criador, o que motiva toda realização psicológica ou social. Neste sentido, o espírito domina a história, que é uma realização em grande parte dele. O espírito, aqui, distingue-se da alma. Esta é a forma do corpo, o princípio vital, mas o espírito é o poder criador. Como este é mais que o outro, contém ele o outro, sem haver propriamente uma composição. É da essência do espírito ser vivo, vivente, e vivificador, ser alma, portanto, sem ser apenas um princípio de vida, pois é um princípio de inteligência. Assim a alma das plantas pode vivificar esses seres; não tem porém uma existência separada deles, enquanto o espírito por sua essência atualmente desvinculada da matéria, que a ele é subordinado em parte, mas excluído de sua essência, pode sobreviver e sobrevive independente do ser material, que dele foi portador ou por ele foi assumido (vide Assunção). A vinculação da alma vegetal e da animal à matéria é o fundamento da concepção hilemórfica de Aristóteles. Vide Hilomorfismo.

h) Na concepção hegeliana distingue-se o espírito subjetivo de o objetivo. O primeiro é o princípio criador, e o segundo são as obras que aquele realiza, as obras culturais. Assim, a obra de um autor é o espírito objetivo realizado por seu espírito subjetivo. (1)

(1) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.