Logos

Logos. (do gr. logos), que entre inúmeras acepções inclui as seguintes: palavra (correspondendo ao verbum, lato), o que fica além do que se pode falar, do indizível, do inefável, inteligência, espírito, pensamento, revelação divina "no princípio era o Logos" e também supremo ato, lei, relação, tratado (logia, na composição de vários termos), ciência, estudos, razão, razão íntima das coisas, fundamento delas, exercício da razão, do juízo, razão divina, etc.

Há dezenas de acepções desse termo. Mas em sua origem encontramos esse importante radical lec, log, lig, que surge em tantos termos que a ele estão aparentados, bem como os radicais lag, lac, leg, lex, lix, lox,  etc., que em seu primitivo sentido significa o que é captado pela mente, mentado, como vemos em palavras que têm este radical, como sejam ler de legere, escolher de collectore,  coligir de colligere,  eleger de elegere, etc. Indica o captado que foi escolhido. A razão ontológica, ou seja, a mais íntima significação de logos, a estrutura íntima ideal desse termo, é a razão. Seu eidos é o que, de modo absoluto, damos ao termo razão, mas no sentido de fundamento, de lei. Falar-se do logos de alguma coisa, é falar do fundamento dessa coisa, pois uma coisa é o que é pela razão íntima do seu ser, seu logos, a sua lei. Assim, reunindo todos os conceitos de logos, vemos que é lei, princípio e relação. Princípio porque para que uma coisa seja é necessário ser algo, seu princípio é, pois, o mais íntimo de seu ser, já que este ela não é. Lei, porque o que impõe que algo seja, é esse princípio, e relação porque nesse conceito está o referir-se a alguma coisa ou a si mesma ou além de si mesma, a outro ser.

O logos, pois, tem um logos, a sua razão. E o logos do logos desvela-se para nós porque é alguma coisa, e o que é alguma coisa tem uma razão de ser em si ou em outro. Assim, quando falamos no logos analogante de alguma coisa, falamos no logos, a razão que o análoga, que o conexiona, eideticamente, com outros logoi (pl. de logos), mas no que representa o mais íntimo de todas as coisas, ao buscar o conteúdo ontológico (o logos do ontos, do ente) de alguma coisa. Todo ser tem uma razão eidética, que é a sua última essência, a sua última razão de ser, a sua essência ontológica, distinta, sob certo aspecto, da essência lógica, porque esta é a que cai na definição, enquanto aquela é a revelação de sua última razão, evitando-se a confusão entre a razão lógica e a ontológica de uma coisa.

Por isso pode-se falar que "No princípio era o Logos e o Logos era o princípio" (Evangelho de São João), porque o princípio de todas as coisas é o logos, e as coisas principiam a partir de seu logos ou de um Logos, fonte e origem de todas as coisas.

A essência de uma coisa é o pelo qual uma coisa é o que ela é. Quando se pergunta o que é uma coisa, a resposta refere-se à sua essência, porque se este objeto é um vaso é porque há nele algo pelo qual é ele classificável como vaso, que é a sua essência. A essência lógica é a que cabe na definição; a ontológica é a que dá a razão de ser de vaso ao vaso. Muitas vezes a essência lógica e a ontológica se confundem e se identificam, como no exemplo acima citado, mas noutras coisas a distinção é mais nítida.

Para Platão, como todos os seres se analogam, mais remota ou mais proximamente, todos têm um logos comum que a todos análoga. E esse logos comum, fonte e origem que unifica todas as coisas, é o Logos que surge depois nos discípulos tardios de Platão. Tudo quanto é participa do Ser Primeiro, cuja essência nos escapa, mas que sabemos que é quem dá o ser a todos os entes. Tudo participa desse Ser Absoluto, tudo quanto é, de que modo for, substância ou acidente, com plenitude ou deficiência, pois todo modo de ser é ser, e todo modo de ser aponta a uma semelhança com o Ser Infinito, por participação. Este não pode ser um atributo das coisas finitas, dependentes, mas sim o princípio delas, de onde elas dependem. Por depender dele, é que todos os entes dele participam. Essa relação de dependência afirma uma relação de similitude deficiente, a qual é a essência da participação. (1)

(1) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.