Guerra

Guerra. "A guerra", escrevia Hobbes, "não consiste num combate efetivo, mas numa disposição patente nesse sentido, enquanto não houver garantia do contrário. Qualquer outro tempo se chama paz" (Leviatã, I, 13). A guerra é dada; a paz, é necessário construí-la

Uma guerra justa? Pode sê-lo por seus objetivos, mas nunca totalmente por seus meios. (1) 

Guerra justa. Doutrina segundo a qual um Estado pode entrar em guerra, de forma justa, por razões muito precisas que são, principalmente, as relativas à legítima defesa e à libertação de um Estado. O problema de decidir se se pode ampliar o conceito de legítima defesa de forma a incluir não apenas a defesa contra ataques reais, mas também contra ameaças ou ameaças que se suspeita virem a ser feitas, e a questão de saber se é admissível fazer ataques surpresas, são alguns dos problemas dessa doutrina. (2)

Guerra. Da raiz germânica "wehr" que derivou, no baixo latim, para as formas "werra", "güerra", e para a forma anglo-saxônica "war". É uma luta armada entre povos. Há vários tipos de guerra: de conquista, predatórias, civil etc. A Idade Moderna inventou outras formas de guerra, como a  guerra de nervos, mantendo o adversário sob tensão com ameaças e chantagens, e a guerra fria, que é um estado permanente de conflito não declarado. A guerras podem ser julgadas também do ponto de vista moral; isso porque elas não ocorrem por um determinismo histórico; acontecem por determinação dos povos, que resulta, em última análise, de atos livres de pessoas racionais. Não há dúvida de que esta liberdade é condicionada e muitas vezes fortemente limitada por condições concretas adversas, como a fome, a pressão demográfica, a cobiça das nações. Porém tais condições limitam o exercício da liberdade, mas não a suprimem. Assim, do ponto de vista da moralidade, as guerras são justas ou injustas. Para uma guerra ser justa, deve reunir um conjunto de condições necessárias e suficientes, de tal sorte que, faltando uma delas, a beligerância será inevitavelmente justa. Estas condições são as seguintes: 1) O fim da guerra só pode ser moralmente justificável, ou seja, para a defesa de um direito liquido e certo, injustamente desrespeitado; 2) Dada a sequência imensa de males que sempre acarreta, a guerra só pode ser tentada como último recurso, depois de esgotadas todas as tentativas de uma composição pacífica do litígio; 3) Deve haver uma equivalência moral entre o bem que se espera, a reparação do direito do ofendido, e os males inerentes ao desencadear da violência. Alguns pensadores modernos são de opinião que, hoje, qualquer guerra é necessariamente injusta pela impossibilidade prática da existência da terceira condição. (3) 

(1) COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário Filosófico. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 

(2) BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Consultoria da edição brasileira, Danilo Marcondes. Tradução de Desidério Murcho ... et al. Rio de Janeiro: Zahar, 1997. 

(3) ÁVILA, Fernando Bastos de, SJ. Pequena Enciclopédia de Doutrina Social da Igreja. São Paulo: Loyola, 1993.