Má Fé

Má Fé. A noção de má fé foi introduzida por Sartre (L'Être et le Néant, 1943, pp. 85-111) como uma das noções fundamentais de sua ontologia fenomenológica. Uma das principais características do ser humano é, segundo Sartre, a possibilidade de tomar atitudes negativas com relação a si mesmo. A má fé é, para Sartre, um modo de negar-se a si mesmo naquilo que se é, ou seja, como um ser para si mesmo (que é nada com relação ao ser em si). A má fé distingue-se por isso da mentira pura e simples, que não se refere ao ser próprio, mas a algo alheio, algo transcendente, que se nega ao mentir. Na má fé, o que se nega é a si mesmo por meio do automascaramento... A má fé é também, e sobretudo, o modo de ser mediante o qual se usa ilegitimamente a duplicidade entre o ser para si e o ser para outro. Na má fé, finge-se ser algo que não se é. O problema não consiste, contudo, em distinguir entre o que se é e o que se não é; se assim fosse, seria fácil eliminar a má fé. O grave: quando "finjo ser alguém que não sou", o que faço é ser alguém "no modo de ser o que não sou". 

Para Sartre, "O ato primeiro da má fé é levado a cabo para se fugir daquilo que se é."

Embora não coincida estritamente com elas, a noção sartriana de "má fé", pode ser relacionada com a noção hegeliana de "consciência cindida" ou "consciência desgarrada" e com a noção de, por exemplo, "má consciência" e, em parte, outra como "alienação", "reificação", "coisificação" etc. (1)

(1) MORA, J. Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola, 2004.