Autoridade
Autoridade. (do lat. auctoritas, que por sua parte deriva-se do verbo augere, aumentar, crescer, criar e dá, como substantivo, autor) a) Fundador, o qual só possui autoridade quando na condição atual ou possível de ser fundador, de ser um que produz alguma coisa, engendrando, criando, com respeito aqueles que são submetidos à sua autoridade. O modelo de toda autoridade é, portanto, a autoridade paternal ou patriarcal.
b) Um ser moral, obedecido, respeitado, acreditado por outros. O conceito psicológico de autoridade visa, em primeiro lugar, a superioridade moral ou intelectual da pessoa, que é não só obedecida (pois um usurpador político também o é), mas também respeitada como encarnação de valores, e que até pode influir intelectualmente, determinando o pensamento de outros, sem o controle da razão própria dos assim governados.
c) A sociologia conhece formas muito peculiares de autoridade. Mas a forma política não passa, necessariamente, do vínculo da obediência extrínseca, que se manifesta em atos. Uma autoridade eticamente perfeita só pode exigir ações que também sejam intrinsecamente boas. É característica, por parte dos governados, realizar as ações exatamente não por consideração ao valor intrínseco da respectiva ação, mas em virtude da obediência generalizada.
d) Na pedagogia, as teorias que trataram de esclarecer a posição do educador culminaram em uma concepção de certo modo bem fundada da autoridade.
e) Na religião emprega-se para indicar o valor das Escrituras e dos seus autores, inspirados pela divindade.
f) Estabelecida uma suprema autoridade, esta pode ser representada por um só ou por vários. Temos as duas formas genéricas: a monárquica e a poliárquica. A poliárquica pode ser aristocrática, quando o poder reside num grupo de poucos indivíduos, escolhidos entre os melhores (do gr. aristos, melhor), ou democrática (do gr. demos, povo), se reside no povo, ou exercendo este o poder por meio de assembleias gerais ou por delegados.
g) Na sociologia é termo comum que coerência os grupos sociais. Neste caso teríamos de dizer que é a capacidade de ser autor, a capacidade de gerar, de formar. É o termo comum que gera, que é autor do grupo, pois sem ele não há grupo social. Neste acaso, univocamos a autoridade e o termo comum, o que não viria, de modo algum, favorecer aqueles que posteriormente desejam emprestar uma divinização a toda e qualquer espécie de autoridade, até as de mera atribuição.
Os grupos sociais fundam-se com finalidades expressas. O termo comum é que subordina as partes aos interesses da totalidade formada, que tende para a consecução desse termo comum. Esse é o princípio essencial intrínseco do grupo, porque lhe dá a forma, e o princípio essencial extrínseco seria a finalidade para a qual tende a unidade. É em nome desse termo comum que o homem, por ser um animal racional, estabelece normas de conduta para as partes componentes do grupo. Desviar-se desse princípio intrínseco, como seja a conservação, a força de coerência, de coesão do grupo, diminuir o seu poder, criar óbices à sua constituição, etc., são erros e devem ser antecedentemente proibidos, defesos (pro-hibere, de habere). Tudo quanto desvie do princípio essencial extrínseco (finalidade), como criar óbices à consecução da finalidade, opor obstáculos, etc., são erros que são proibidos pelo grupo. A autoridade, portanto, em sua primeira origem, está aí. O emprego de um poder para executar os dois aspectos, o intrínseco e o extrínseco, é algo que já se opõe, é algo que se estabelece com o emprego da vis, da força, e nos casos de desvio, com a sanção. Essa segunda autoridade não pode e não deve ser confundida com a primeira. A primeira preside à formação do grupo; a segunda sobrevém posteriormente. Feita essa distinção, verifica-se que há positividade no pensamento daqueles que afirmam que ela é contemporânea ao grupo social, pois se referem à primeira (o termo comum, que coerencia o grupo); os que afirmam que a autoridade é posterior referem-se à segunda.
h) Na filosofia a demonstração, dizia Aristóteles, é a suprema autoridade. (1)
(1) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.