Dissonância Cognitiva

Dissonância Cognitiva. Termo introduzido pelo psicólogo americano Leon Festinger (1919-), cuja obra Theory of Cognitive Dissonance (1957) chamou a atenção para o modo pelo qual o impulso para reduzir a "dissonância", ou a sensação de que algo está errado num sistema de crenças, pode conduzir a estratégias inesperadas de formação ou retenção de crenças.  (1)

Dissonância. Termo de Festinger (A Theory of Cognitve Dissonance) para a inconsistência entre as atitudes e o comportamento de uma mesma pessoa. (2)

Dissonância Cognitiva. Incoerência entre certas experiências, ideias, atitudes ou sentimentos. Segundo a teoria da dissonância, ela cria um estado desagradável, que as pessoas tentam reduzir interpretando uma parte das suas experiências para torná-las mais coerentes com as outras. (3)

A teoria da dissonância cognitiva. Festinger e Carlsmith pediram para os sujeitos da sua pesquisa fazerem coisas extremamente entediantes, como arrumar carreteis em uma bandeja e depois desarrumá-los ou girar uma maçaneta após outra em um quarto de volta. Quando terminavam, os sujeitos eram induzidos a dizer ao próximo sujeito que as tarefas eram muito interessantes. A metade dos participantes foi paga generosamente para mentir dessa forma (receberam 20 dólares), e os outros receberam apenas 1 dólar para mentir. Posteriormente, todos os participantes deveriam dizer se as tarefas eram realmente agradáveis. Os bem-remunerados e que sabiam muito bem que tinham mentido para os outros participantes disseram que a tarefa era chata, mas os sujeitos mal-remunerados disseram que as tarefas triviais e monótonas eram razoavelmente interessante e, portanto, indicavam que, de fato, haviam dito a verdade aos outros sujeitos. 

O que gera esse padrão estranho? Segundo Festinger, os mentirosos bem-pagos sabiam por que haviam falado de sentimentos que não sentiam: 20 dólares era a razão suficiente. Contudo, os mentirosos mal-pagos haviam experimentado uma dissonância cognitiva, graças ao fato de que haviam enganado outras pessoas sem uma boa razão para tal. Em outras palavras, eles tinham justificativa insuficiente para seu ato e, se analisados literalmente, isso os fazia parecer mentirosos eventuais e sem princípios, uma visão que conflitava com a maneira como queriam se enxergar. Como, então, poderiam conciliar seu comportamento com a sua autoimagem? Uma solução plausível era reavaliar as tarefas chatas. Se pudessem mudar de ideia quanto às tarefas e decidir que não eram tão ruins, não haveria mentira e não haveria dissonância. 

Um exemplo: 

Atitude de Lisa: O custo de nossa escola é alto demais.

Comportamento de Lisa: Apoie a equipe! A escola precisa de dinheiro.

Dissonância cognitiva: (Consciência de que a postura e o comportamento são incongruentes).

Resolução da dissonância: Talvez a escola esteja certa. (3)

Resultados bastante semelhantes emergem de estudos com pessoas que devem fazer sacrifícios consideráveis para alcançar um objetivo. Isso ajuda-nos a explicar por que muitas organizações têm requisitos difíceis ou desagradáveis de seleção. Mesmo assim, embora os rituais de seleção sejam objetáveis, eles têm uma função: levam os novos membros da fraternidade a valorizar mais a sua participação do que fariam de outra forma. Eles sabem que sofreram o suficiente para poderem participar, e acreditar que sofreram sem razão criaria uma dissonância para eles. Porém, essa dissonância é eliminada se eles se convencerem de que a sua participação realmente tem valor. Nesse caso, seu sofrimento, segundo sua visão, "valeu a pena".

A dissonância cognitiva é um dos fenômenos mais estudados na psicologia social, e supostamente apresenta um padrão universal para a nova espécie, em outras palavras, todos os humanos consideram a dissonância desagradável e, assim, todos fazem o possível para reduzi-la. Mas será que isso está certo? Estudos recentes sugerem que sim mas com um senão, pois os fatores que produzem dissonância variam amplamente de cultura para cultura. (3)


Dissonância cognitiva. É o incômodo mental que surge a partir de crenças ou atitudes conflitantes adotadas simultaneamente. A dissonância cognitiva pode estar envolvida em dois fenômenos de interesse para os filósofos, a saber, o autoengano e a fraqueza de vontade. Por que será que os auto-enganadores tentam levar a si próprios a acreditar em algo que, de algum maneira, sabem muito bem que é falso? Alguém pode recorrer ao autoengano quando o conhecimento causa dissonância. Por que será, por exemplo, que o fraco de vontade executa ações que sabem serem erradas? Alguém pode se tornar fraco de vontade quando surge uma dissonância a partir das consequências esperadas da prática da cosia certa. (4)


(1) BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Consultoria da edição brasileira, Danilo Marcondes. Tradução de Desidério Murcho ... et al. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.

(2) DORIN, E. Dicionário de Psicologia

(3) GLEITMAN, Henry, REISBERG, Daniel e GROSS, James. Psicologia. Tradução Ronaldo Cataldo Costa. 7 ed., Porto Alegra: Artmed, 2009.

(4) AUDI, Robert (Organizador). Dicionário de Filosofia de Cambridge. Tradução de João Paixão Netto, Edwino Aloysius Royer et all. São Paulo: Paulus, 2006.