Discurso

Discurso. (do lat. dis  e curro, da raiz sânscrita kar, correr. Discursar é discorrer, correr dis, daqui para ali). Daí falar-se em saber discursivo, um saber que corre daqui para ali, que corre para emparelhar, e outro, um saber a conhecer com um já conhecido, que classifica um saber com outro saber. O saber discursivo é um saber culto, um saber teórico, porque todo saber que liga, que conexiona com nexos reais e ideais, é um saber que sabe. Discurso é, assim, a operação do espírito, e quando é expressa por termos verbais ou sinais, é também o discurso na expressão mais frequentemente usada. Vide Universo de discurso. (1)

Discurso ficcional. Um discurso que toma ou finge tomar as ficções por realidades. (1)

Ficção. Qualquer coisa que não se ajusta aos fatos. Exemplos: matemática pura, teologia, ficção científica. A ficticidade vem em graus, da mera simplificação até a fantasia desbragada. (BUNGE, M. Dicionário de Filosofia)

Discurso

(1) O discurso como [em grego] (discurso). Nesse caso, contrapõe-se o discurso à intuição. Isso ocorre em Platão, em Aristóteles, em Plotino, em São Tomás e — em parte — em Descartes, Kant e outros autores modernos. A contraposição não equivale, porém, à exclusão completa de um termo em favor do outro. O normal é considerar o processo discursivo como um pensar que em última análise se baseia num pensar intuitivo. Este proporciona o conteúdo da verdade; aquele, a forma.

(2) O discurso com tradução de [grego] (oratio). Aristóteles definiu o discurso (oração, locução, frase) como um som vocal ou uma série de sons vocais (o que os escolásticos denominaram vox), que possui uma significação convencional, e cada uma de cujas partes, tomada separadamente, tem um significado como dicção, mas não como afirmação ou negação. Se dizemos ‘homem’, dizemos algo, mas não dizemos se existe ou não. Embora Aristóteles começasse por referir-se ao som vocal, o discurso, como um conjunto de sinais escritos que possuem as condições antes nomeadas. A primeira divisão do discurso é, pois, esta: discurso oral e discurso escrito.

O discurso no sentido anterior tem de ser enunciativo. Uma prece não é um discurso. Mas o discurso enunciativo pode ser objeto não apenas da lógica, como também de outras disciplinas. Em Aristóteles, são a retórica e a poética. Estudaremos apenas o sentido lógico.

Nem toda combinação de vocábulo basta para construir um discurso. Segundo o Estagirita, os escolásticos distinguiram por isso o termo complexo e o discurso.

‘O homem bom’ é um termo complexo; ‘o homem bom é generoso’ é um discurso. O discurso compõe-se de conceitos ou de termos concatenados de tal forma que dizem algo acerca de algo.

Os escolásticos dividiram o discurso em perfeito e imperfeito.

O discurso imperfeito é de vários tipos. Os mais importantes em termos são a definição e a divisão. O discurso perfeito tem três tipos: o discurso enunciativo, o discurso argumentativo e o discurso ordenativo. O primeiro expressa o juízo da mente; o segundo, o raciocínio da mente; o terceiro, o propósito prático. A lógica clássica ocupa-se apenas dos dois primeiros tipos. O discurso ordenativo ou prático é subdividido pelos escolásticos em vocativo, interrogativo, imperativo e imprecativo. (2)

(1) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.

(2) MORA, J. Ferrater. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Loyola, 2004.