Religião

Religião. Etimologicamente, o termo derivaria quer do latim relegere (respeitar e, por extensão, dedicar a um culto), quer do verbo religare, que significa religar; a religião constitui então um laço que une o homem a Deus como à fonte de sua existência, principalmente de acordo com a tradição cristã. (1)

Religião. Faculdade ou sentimento que nos leva a crer na existência de um ente supremo como causa, fim ou lei universal; a religião é amparo e conforto moral dos crentes que sofrem. (2)

Religião. Expressão de sentimento do homem em relação ao que é santo ou sagrado, que acabou por exprimir através de mitos, rituais, símbolos e filosofia. A religião esteve sempre estreitamente relacionada com os valores morais e a estrutura da sociedade. (3)

"Religio". Na ética romana, aceitação de certas formas obrigatórias de comportamento. Em sentido literal, "estado em que se está obrigado". Por extensão, um sentimento de temor em presença de espíritos e deuses. (3)

Religião. Sistema de crenças não testáveis existentes para uma ou mais deidades, e as práticas que acompanham, principalmente adoração e sacrifício (de si próprio ou de outros). Alguns sistemas influentes de fé, tal como o budismo original, o janainismo, o taoismo e o confucionismo não são propriamente religiões segundo a definição acima, porque não incluem crenças em divindades. Algumas religiões prometem vida após a morte, outras não; e apenas algumas ameaçam com o inferno. Portanto, a crença na vida após a morte e no eterno retorno ou castigo não são características definidoras de religião. As religiões são seriamente estudadas por psicólogos, sociólogos, historiadores e filósofos. A psicologia da religião estuda os modos como as ideias religiosas são adquiridas e a maneira pela qual mudam como resultado da experiência ou da doença mental. Ela aborda também os papéis da crença religiosa, isto é, lutando com sentimentos de desamparo, imprevisibilidade, medo da morte e culpa. A sociologia da religião estuda as funções e disfunções sociais das crenças religiosas e das religiões comunitárias, bem como suas contribuições à coesão e divisão sociais, e seu uso como instrumento de controle social. A história das religiões estuda sua emergência e transformações em relação com outros aspectos da vida social, como os econômicos e os políticos. A filosofia da religião pode ser um adjunto da teologia ou ser independente dela. No primeiro caso falta-lhe a liberdade intelectual inerente à pesquisa filosófica. Em particular, ela não pode se permitir questionar a existência de Deus (es) ou quaisquer outros dogmas essenciais da religião em estudo. Portanto, ela não é filosoficamente autêntica. Uma genuína filosofia da religião há de examinar problemas lógicos, semânticos, epistemológicos, ontológicos e éticos levantados pela hipótese da existência de divindades. Em especial, há de examinar (a) a questão se a religião é compatível com a racionalidade em qualquer sentido do termo; (b) as áreas de pesquisa científica que podem ser afetadas pela religião; e (c) as coerções que a crença religiosa exerce sobre a ética. (4)

Religião

1. Definições 

"É a crença num Deus vivo,isto é, numa Inteligência ou Vontade divina que regula o universo e mantém relações morais com a humanidade." (J. Martineau)

"É o reconhecimento de que todas as coisas são manifestações de um poder que transcende o nosso conhecimento." (H. Spencer)

"É a tentativa de exprimir a total realidade da bondade através de todos os aspectos do nosso ser." (Bradley)

Nenhuma dessas definições é adequada, pois nenhuma se aplica a todas as religiões. 

Em vez de procurar o que há de comum nas religiões, podemos indagar antes qual é a essência do fenômeno religioso. 

"A essência da religião é a crença na persistência de valor no mundo", ou seja, na estrutura axiológica do mundo. (Hoffding)

"A essência da religião consiste no sentimento de uma dependência absoluta." (Schleiermacher)

2. Modos de manifestação da religiosidade

a) O culto doméstico ou familiar

b) A oração pública e privada

c) Os lugares

d) A oferenda de primícias

e) Os sacrifícios

f) A grandes festividades 

g) As peregrinações

h) O culto aos mortos...


...


4. Divisões, classificações, tipos

Segundo W. P. Alston, as notas características da religião podem escalonar-se do seguinte modo: a) crença em entidades sobrenaturais (espíritos, deuses...); b) distinção entre objetos sagrados e profanos; c) ações rituais em torno de objetos sagrados; d) um código moral, que se crê sancionado pelos deuses; e) sentimentos religiosos característicos (temor, sentido do mistério, da culpa, adoração); f) oração e outras formas de comunicação com a divindade...

Sendo tão difuso o conceito de religião, como classificar as religiões? Que tipologia usar? Podemos no entanto ter presente, com o fim de tipificar as religiões, esta pergunta sugerida por W. James: "onde é que o divino primariamente se manifesta?, que espécie de resposta religiosa se lhe deve dar?" Segundo este critério, as religiões costumam dividir nesses três grandes grupos: religiões sacramentais, proféticas e místicas

Nas religiões sacramentais, o divino se manifesta nas relíquias, animais, comida, árvores etc. 

Nas religiões proféticas, o divino se manifesta na história, sociedade humana, mão de Deus, livros sagrados etc. As três religiões proféticas são: Cristianismo, Judaísmo e Islamismo. O termo-chave não é o sacramento, mas a revelação. A palavra mediatiza a relação com o divino. 

Nas religiões místicas, o centro é a experiência mística. Nesse tipo de experiência o que conta é o estado de união com o divino - união que pode levar a uma total indistinção ou então à máxima diferenciação ("união da diferença", como lhe chamam alguns místicos cristãos). (5)

Religião. (do lat., frequentemente considerado, em sua origem etimológica, como proveniente de re-ligare) É tudo quanto religa o homem com a divindade. Se realmente há na religião, e sobretudo em suas práticas, um "ligar de novo" o homem ao seu criador, através dos meios que ela oferece, preferimos a origem do gr. do verbo alegeyns, venerar. Alegô, ocupo-me de, inquieto-me por. Religião é de étimo duvidoso e as discussões sobre sua origem interessaram a diversos estudiosos. No entanto, tanto em re-ligare  ou em relegere, "ler" de novo ou percorrer de novo um caminho, temos sempre a ideia de dois termos que se ligam: um termo de partida e um de chegada, em que princípio e fim são o mesmo. Se atendermos para o radical leg,  de lec, de onde lego, logos, relego,   captar, colher de novo, re-ler ( legere é colher), captar os sinais inscritos. Religio, em lat., é algo que ocupa, preocupa, o mesmo que alegô, no gr.  

Em face do mundo, o ser humano primitivo encontrou-se ante forças adversas. Em face de tudo, de todos os enigmas e mistérios da existência, pôs-se a venerar, a prestar homenagens por palavras (logos) por atitudes, gestos às forças que ele magicamente procurava dominar ou desviar, ou apenas venerar. A religião é esse venerar do homem, por meio de práticas, aos poderes que ele considera superiores a si, e os quais o preocupam, pois ele os teme. É compreensível facilmente que esse conceito de religião é muito elementar e primário, mas adequa-se perfeitamente ao primarismo do homem nessa fase em que os poderes opositivos eram para ele motivo de terror. E terror e veneração aterrorizada foi a sua primeira manifestação religiosa. Mas os valores positivos também se revelam. E se há um poder do mal, há um poder do bem. Aterroriza-o o poder do mal, mas alegra-o o poder do bem., Entre o terror e a satisfação instala-se o temor, meio termo feito de esperanças e de dúvidas. A religião é a) ou uma religião do terror; b) ou uma religião do temor, e só finalmente quando a especulação teológica se forma e a divindade não pode ser concebida como má, mas apenas como justa, e que a religião se torna: c) a religião do amor, sem que os elementos do terror e do temor deixem de permanecer nela.

Há religião do amor quando os valores positivos que são atribuídos à divindade e passam a ser valores divinos são oferecidos ao homem contra os valores opositivos, que são atribuídos ao anti-deus, ao diabo, ao demônio. A catarse, a descarga emotiva do ser humano, como na estética, leva o homem a manifestar a emoção que lhe causa o terror e o temor cósmicos, que dele se apossam ante a morte, ante o espaço e ante o tempo, que já se esboçam nele como impossibilidades, que ele não pode vencer nem dominar. A religião tem assim uma raiz nos fatores emergentes, que são os bionômicos e os psicológicos, nela contribuindo os fatores histórico-sociais, diretamente construídos sobre aqueles.

O desenvolvimento da teologia, nos períodos especulativos, em que o homem emprega a inteligência e o saber epistêmico à análise das crenças religiosas, que têm uma raiz emergente muito mais poderosa do que julgam muitos, e que traz a marca de alta cultura, levam-no a compreender mais profundamente o sentimento religioso, não como uma simples manifestação do terror e do temor cósmicos, mas a compreender que o cósmico é um símbolo de algo mais profundo, de um referido oculto, que é o grande simbolizado, o princípio, a origem de tudo, o Ser Supremo. O ser humano toda a vez que não pode resolver uma dificuldade por meios técnicos lança mão de meios mágicos.

Na técnica que é o emprego sistemático de meios para a obtenção de fins, há sempre uma relação rigorosa de causa e efeito, enquanto na magia essa relação não é rigorosamente adequada, pois pode aceitar-se que pequenas causas realizam grandes efeitos ou não. Não há sociedade sem magia e sem técnica, No entanto, entre ambas pode variar, nunca chegando nenhuma delas a desaparecer totalmente. Na gênese da religião penetra tanto a técnica como a magia. Pois a magia é uma "técnica" sem rigorismo de adequação entre causa e efeito, enquanto a técnica é uma "magia" com esse rigorismo, pois esta pretende dar mais poder.

A religião, no entanto, não pertence apenas ao campo histórico-social, pois nela penetram os fatores emergentes que incluem os bionômicos e os psicólogos. E nesses fatores e através deles a catarse, a emoção exteriorizada manifesta-se em arte, em pensamento, em querer. Por isso não há religião sem uma arte, sem um pensamento e sem um querer. (6)


Figura Ilustrativa (1)

(1) DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.

(2) GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.]

(3) HUXLEY, Sir Julian e outros. O Pensamento: Filosofia, Religião, Moral. Publicações Europa-Americana, 1970 (Glossário).

(4) BUNGE, M. Dicionário de Filosofia. Tradução de Gita K. Guinsburg. São Paulo: Perspectivas, 2002. (Coleção Big Bang)

(5) POLIS - ENCICLOPÉDIA VERBO DA SOCIEDADE E DO ESTADO. São Paulo: Verbo, 1986.

(6) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.