Caráter. Etimologicamente, caráter quer dizer coisa gravada; do grego "charactér" de "charássein" = gravar. O termo pode ter dois sentidos diversos: 1.º) caráter, como conjunto de disposições psicológicas e comportamentos habituais de uma pessoa, isto é, a personalidade concreta; 2.º) caráter relacionado à vontade, e nesse caso conota as ideias de energia, honestidade e coerência; é nessa acepção que falamos, em homem de caráter. (1)
Caráter. É em primeiro lugar um cunho (kharactér, em grego, é o gravador de medalhas ou de moeda), uma marca indelével, um sinal permanente ou distintivo. A palavra designa por isso o conjunto das disposições permanentes ou habituais de um indivíduo (seu éthos), em outras palavras, sua maneira de sentir e de se ressentir, de agir e de reagir – sua maneira particular de ser si. “É o que a natureza gravou em nós”, dizia Voltaire. Eu não iria tão longe. O caráter me parece mais individualizado e evolutivo do que o temperamento, e menos do que a personalidade. Eu diria: o temperamento de um indivíduo é o que a natureza fez dele: seu caráter é o que a história fez do seu temperamento; sua responsabilidade é o que ele fez, e não cessa de fazer, com o que a história da natureza fizeram dele. O caráter remete ao passado, logo a tudo o que, em nós, já não depende de nós. Temos de conviver com isso, como se diz, e é por isso que, de acordo com uma fórmula célebre de Heráclito, “o caráter de um homem é seu demônio” ou seu destino: porque ele é aquilo que nele escolhe, e que ele não escolhe. (2)
Caráter. (do gr. kharakter, significa uma letra). a) Chamou-se assim cada sinal distintivo que servia para reconhecer e identificar um objeto ou uma pessoa. Caracteres são todas as propriedades e traços particulares que distinguem uma coisa.
b) Para Tomás de Aquino caráter é a marca da personalidade feita pela metade enquanto aquela é marcada pelo entendimento.
c) Na biologia diz-se de cada marco estrutural ou funcional que distingue um indivíduo, sejam caracteres congênitos ou adquiridos. É questão controvertida se os caracteres congênitos são suficientes para distinguir uma espécie de outras.
d) Na lógica é cada atributo de uma noção que faz parte da sua compreensão e é um elemento constituinte, seja essencial ou acidental.
e) Na psicologia a unidade e consistência que se manifesta na maneira de sentir e reagir de um indivíduo ou de um grupo como distinto de outros grupos. Kant define o caráter de conformidade com a sua definição de causa. "É necessário que cada causa, quando age, tenha um caráter, quer dizer uma lei da sua causalidade, sem a qual ela nem chegaria a ser causa". Ele distingue ademais um caráter empírico ou fenomenal, em virtude do qual as suas "ações, enquanto fenômenos, são relacionados integralmente a outros, segundo as leis constantes da natureza", e um caráter inteligível, em virtude do qual não deixa de ser a causa dessas ações, enquanto fenômenos, mas sem ser ele mesmo submetido às condições da sensibilidade e sem ser sequer um fenômeno.
f) Na ética a palavra aceita um sentido laudativo quando significa personalidade completa e que revela autodomínio. (3)
(1) ÁVILA, F. B. de S.J. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Rio de Janeiro: M.E.C., 1967.
(2) COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário Filosófico. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
(3) SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed. São Paulo: Matese, 1965.