At 14,5-18
A leitura nos apresenta a cura de um paralítico de nascença por Paulo e Barnabé na cidade de Listra. As obras de Jesus continuam por intermédio dos apóstolos. Esta cura, porém, acontece em ambiente pagão e por isso a reação ao milagre se realiza segundo a mentalidade pagã. As pessoas atribuem a cura aos deuses que aparecem em forma humana: “Chamavam a Barnabé Júpiter e a Paulo Mercúrio”. A mentalidade pagã era mais crédula e supersticiosa e, por isso, veem Barnabé e Paulo como deuses em forma humana e, por isso, querem oferecer-lhes animais em sacrifício. Barnabé é identificado com Júpiter provavelmente porque é mais velho, tinha barba e não falava, e Paulo é considerado Mercúrio, pois era mais jovem e era ele que falava. Segundo a mitologia, Mercúrio era o porta voz dos deuses.
A reação de Paulo e Barnabé é de horror. Ao se darem conta de que queriam oferecer sacrifícios a eles, reagem rasgando as vestes. Esse gesto era um dos mais expressivos em todo o mundo antigo, e os judeus o realizavam quando ouviam ou viam algo que profanava o nome de Deus. “Homens, o que estais fazendo? Nós também somos homens mortais como vós”.
O discurso de Paulo é muito breve e essencial. Ele anuncia a fé judaica: “Estamos anunciando que precisais deixar esses ídolos inúteis para vos converterdes ao Deus vivo, que fez o céu e a terra, o mar e tudo o que neles existe”.
Do Deus vivo, Paulo anuncia duas coisas. Ele permitiu que os pagãos seguissem cada um o seu caminho, tendo em conta a sua ignorância. Manifestou-se a si mesmo, porém, através da natureza e da criação. Deu-se, portanto, a conhecer como benfeitor do homem, por meio da chuva, da qual depende a fecundidade da terra, e dos alimentos e bebidas que alegram o homem e que não existiriam sem as bênçãos divinas.
Esse milagre na cidade de Listra ilustra como foram os primeiros encontros dos pregadores cristãos com a cultura pagã politeísta. Vemos como reage a religiosidade ingênua e crédula, de um povo que crê nas estórias mitológicas de deuses que aparecem em forma humana. Vemos também como Paulo e Barnabé não se aproveitam da credulidade ingênua dos pagãos para obter sucesso a qualquer custo.
Jo 14,21-26
Neste evangelho podemos notar um profundo senso de intimidade e um profundo senso de realismo.
Quando Jesus fala que se manifestará a quem o ama, nos fala do amor do Pai e nos faz a extraordinária promessa: “e nós viremos e faremos nele a nossa morada”. Essa intimidade que Jesus e o Pai realizam na nossa vida é surpreendente e inédita. É uma intimidade que ultrapassa toda intimidade humana. Nessa intimidade, Jesus se manifesta em nós, nos revela os seus segredos por meio do Espírito Santo.
Ao mesmo tempo, encontramos neste Evangelho grande senso de realismo. O Senhor não fala de um amor situado nas nuvens, mas de um amor muito concreto: “se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará... quem acolhe os meus mandamentos e os observa, esse me ama”. O amor de Cristo nunca é um amor só de boca: não basta dizer “Senhor, Senhor!” O amor de Cristo não é somente sentimento e paixão passageira. O amor de Cristo requer a união de vontade, pois é próprio do amor amar a vontade do outro. Quando não há união de vontades, não existe amor de verdade! Sem união de vontades, o amor não passa de uma ilusão que, no fim, decepciona: “quem não me ama, não guarda a minha palavra”. É uma ilusão muito frequente a gente se encantar com palavras de amor, com sentimentos de amor, com paixões avassaladoras. Para não se iludir com isso tudo, é preciso entrar na profundidade exigente do amor: é o amor do evangelho de hoje: amar a vontade de Jesus.
“Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada”.
Peçamos ao Senhor a grande graça de desejar com todo o coração a intimidade que Jesus nos promete e realiza em nós e, além disso, amar o que Cristo quer: que haja união de vontades entre nós e Cristo.