3ª FEIRA DA OITAVA DA PÁSCOA
Primeira Leitura: Atos 2,36-41
Salmo Responsorial: 32(33)-R= Transborda em toda a terra a bondade do Senhor.
Naquele tempo: 11Maria estava do lado de fora do túmulo, chorando. Enquanto chorava, inclinou-se e olhou para dentro do túmulo. 12Viu, então, dois anjos vestidos de branco, sentados onde tinha sido posto o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. 13Os anjos perguntaram: 'Mulher, por que choras?' Ela respondeu: 'Levaram o meu Senhor e não sei onde o colocaram'. 14Tendo dito isto, Maria voltou-se para trás e viu Jesus, de pé. Mas não sabia que era Jesus. 15Jesus perguntou-lhe: 'Mulher, por que choras? A quem procuras?' Pensando que era o jardineiro, Maria disse: 'Senhor, se foste tu que o levaste dize-me onde o colocaste, e eu o irei buscar'. 16Então Jesus disse: 'Maria!' Ela voltou-se e exclamou, em hebraico: 'Rabuni' (que quer dizer: Mestre). 17Jesus disse: 'Não me segures. Ainda não subi para junto do Pai. Mas vai dizer aos meus irmãos: subo para junto do meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus'. 18Então Maria Madalena foi anunciar aos discípulos: 'Eu vi o Senhor!', e contou o que Jesus lhe tinha dito. Palavra da Salvação.
At 2,36-41
O discurso de Pedro depois da descida do Espírito Santo se conclui com um convite enérgico que equivale a uma confissão da essência da fé cristã: “Reconheça toda a casa de Israel com plena certeza: a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o constituiu Senhor e Cristo”. Senhor e Cristo são dois títulos de Jesus e que constituem a fórmula original da fé cristã. O que esses títulos querem dizer?
“Cristo, Messias, Ungido” confessa que com Jesus todas as promessas se cumpriram e que todas as esperanças do AT se realizaram. Não é preciso nem se deve esperar outro Cristo.
“Senhor”, “Kyrios” é o título divino dado a Jesus depois de sua glorificação. É a confissão pura e simples de que Jesus é Deus. O nome de Deus (Javé) não pode ser pronunciado por reverência ao nome revelado. Por isso, toda vez que aparecia o nome revelado de Deus na Escritura, ele era substituído por Adonai que foi posteriormente traduzido em grego como Kyrios. Por isso, confessar que Jesus é Senhor é o mesmo que afirmar que Ele é Deus.
É significativo o fato de que nesta conclusão do discurso, Pedro não disse ainda: “arrependei-vos, fazei penitência, convertei-vos”. Ele não ameaça com o castigo iminente nem pronuncia promessas maravilhosas. Na verdade, ele está pedindo muito mais do que isso: confessar Jesus Senhor e Cristo é o que possibilita o arrependimento e a realização de todas as promessas divinas.
Pedro é muito sóbrio e conciso na sua denuncia: “a esse Jesus, a quem vós crucificastes, Deus o constituiu Senhor e Cristo”. Ele não se compraz em ficar apontando o crime cometido contra Jesus. Pelo contrário, ele insiste no aspecto positivo, no desígnio e na ação de Deus em fazer da morte na cruz a passagem dolorosa e necessária para a ressurreição.
Mesmo que a acusação seja delicada e discreta, o discurso de Pedro provoca nas pessoas a comoção do coração e arrependimento. Por elas perguntam: “Que devemos fazer?” Esta pergunta é a mesma que deveríamos fazer sempre: “Que devemos fazer?”
E a resposta de Pedro aos ouvintes continua válida para nós hoje: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para o perdão dos vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo”. João Batista convidava ao arrependimento, à mudança de vida e ao batismo. Pedro acrescenta duas correções substanciais ao convite do Batista: o batismo deve ser recebido invocando o nome de Jesus como Cristo, e, além do perdão dos pecados, o batizado recebe o dom do Espírito Santo. A partir de Pentecostes, esse será o batismo cristão que receberemos.
Nestes dias da oitava da Páscoa renovemos a graça batismal aprofundando nossa consciência de que, por causa do batismo, pertencemos inteiramente a Jesus, que estamos sob sua autoridade e senhorio. Agradeçamos também o dom do Espírito Santo que é o princípio interno da vida cristã da comunidade eclesial e de cada batizado.
O Evangelho de hoje é comovente na sua simplicidade. Maria está mergulhada na dor e chora do lado de fora do sepulcro vazio. Chora pelo motivo que deveria enchê-la de alegria, mas ela não sabe e não pode sabê-lo.
São Gregório admira esta mulher tão fiel, que permanece próxima ao sepulcro do Senhor. Os apóstolos vieram e foram embora: Maria, pelo contrário, permanece ali motivada pelo seu profundo afeto por Jesus. Trata-se de um afeto puramente humano, mas que depois se tornará a porta para o encontro com o Senhor ressuscitado.
É necessário que a dor penetre fundo no coração para que possa ser preenchido pela alegria sobrenatural. Também conosco pode acontecer o mesmo. Lamentamo-nos na tristeza, mas teremos motivos de sobra para nos alegrarmos. A dor muitas vezes prepara o nosso coração para a alegria verdadeira da páscoa.
Jesus está aí, e Maria não o reconhece, não percebe que é Ele porque sofre demais pela desilusão humana: “Tiraram o meu Senhor e não sei onde o puseram”. Suas lágrimas fazem com que ela o confunda com um jardineiro. A dor faz com que ela não reconheça o Ressuscitado que vem ao seu encontro.
Nem tudo está errado nela: seu afeto é sincero e profundo. Mas é necessário que ela passe por uma conversão: ela está procurando um morto e não sabe que Ele está vivo. Somente Jesus pode operar esta conversão: é necessário que ele a chame pelo nome a sua ovelha: “Maria!”. E tudo mudou.
Também conosco Jesus age da mesma maneira. Nós não podemos fazer mais nada do que chorar e procurá-lo na noite espiritual, mas, no momento oportuno, Jesus toca o nosso coração e nos comove intimamente. Assim o reconhecemos: “Rabbuni! Mestre meu!”.
“Vai aos meus irmãos e dize a eles”. Antes da ressurreição Jesus não se dirigiu nunca aos seus discípulos chamando-os de irmãos; fá-lo agora, depois da paixão que o aproximou a nós de modo único.
Depois da ressurreição ele poderia parecer mais distante do que durante sua vida terrena. Afinal ele está na glória de Deus, mas, com a ressurreição, acontece o inverso daquilo que esperávamos: agora Ele está mais próximo, mais enviado, mais presente, mais encarnado do nunca. Poder-se-ia dizer que a ressurreição não é o movimento contrário à encarnação, mas sua plenitude. Na ressurreição ele se torna o irmão que nos conduz ao Pai: seu Pai e nosso Pai, seu Deus e nosso Deus.