Salmo Responsorial: 8-R= Ó Senhor, nosso Deus, como é grande / vosso nome por todo o universo!
Evangelho: Lucas 24,35-48
Naquele tempo: 35 Os dois discípulos contaram o que tinha acontecido no caminho, e como tinham reconhecido Jesus ao partir o pão. 36 Ainda estavam falando, quando o próprio Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: 'A paz esteja convosco!' 37 Eles ficaram assustados e cheios de medo, pensando que estavam vendo um fantasma. 38 Mas Jesus disse: 'Por que estais preocupados, e porque tendes dúvidas no coração? 39 Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede! Um fantasma não tem carne, nem ossos, como estais vendo que eu tenho'. 40E dizendo isso, Jesus mostrou-lhes as mãos e os pés. 41Mas eles ainda não podiam acreditar, porque estavam muito alegres e surpresos. Então Jesus disse: 'Tendes aqui alguma coisa para comer?' 42Deram-lhe um pedaço de peixe assado. 43Ele o tomou e comeu diante deles. 44Depois disse-lhes: 'São estas as coisas que vos falei quando ainda estava convosco: era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos'. 45Então Jesus abriu a inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras, 46e lhes disse: 'Assim está escrito: O Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia 47e no seu nome, serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. 48Vós sereis testemunhas de tudo isso'. Palavra da Salvação.
Meu irmão, minha irmã!
At 3,11-26
A leitura que ouvimos é o segundo discurso de Pedro. Com esse discurso Pedro repete os conteúdos do primeiro discurso, ou seja, repete a acusação do delito da morte de Jesus, a explicação do desígnio de Deus e o chamado à conversão. Este segundo discurso não é mera repetição. Nele Pedro introduz uma série de elementos novos. Por um lado, é mais compreensivo, pois reconhece que eles mataram Jesus por ignorância. Por outro lado, Pedro é mais incisivo, pois coloca as pessoas diante da opção definitiva diante da proximidade do Juízo divino.
Pedro começa seu discurso dando o sentido verdadeiro do milagre que foi realizado por seu intermédio: “Homens de Israel, por que estais admirando o que aconteceu? Por que ficais olhando para nós, como se tivéssemos feito este homem andar, com nosso próprio poder ou piedade?” Pedro convida as pessoas a não atribuírem o milagre à santidade ou bondade dos apóstolos. É preciso ir além dos instrumentos. É preciso reconhecer que o milagre foi tornado possível por um novo poder que se manifesta no nome de Jesus: “Graças à fé no nome de Jesus, este Nome acaba de fortalecer este homem que vedes e reconheceis”. Prestemos atenção à afirmação de Pedro: é o Nome que curou o paralítico. Falar do nome significa falar da pessoa de Jesus. Falar e agir em nome de Jesus significa contar com este novo poder salvador e curativo que Deus fez aparecer em nosso meio.
A cura do aleijado, portanto, significa não somente cura, mas a passagem daquele homem incapacitado para uma nova vida.
Pedro revela o paradoxo da morte e da vida pelo delito e pelo desígnio de Deus. “Vós rejeitastes o Santo e o Justo, e pedistes que vos fosse agraciado um assassino. Aquele que conduz à vida, vós o matastes, mas Deus o ressuscitou dos mortos”. Em outras palavras, Pedro afirma: “pedistes a vida daquele que havia dado a morte e pedistes a morte do Senhor da vida; mas Deus deu vida ao que tinha morrido e dá a vida a todos os que creem em seu nome”.
Essa é a obra maravilhosa de Deus: a obra da Páscoa. A nós que matamos, Deus responde dando-nos a vida nova em Cristo que foi morto pelo nosso delito, mas que foi ressuscitado por Deus em vista da nossa salvação. Deus faz de nosso delito a ocasião para uma comunicação ainda mais abundante da sua graça. Ele vence o nosso pecado que causou a morte de Jesus com a ressurreição dele e nossa.
Lc 24,35-48
A aparição de Jesus em pessoa entre os seus discípulos é tão inesperada que eles não podem acreditar: pensam que é um fantasma. De fato, a ressurreição não é invenção, não é criação da comunidade entusiasmada. Foi necessária uma intervenção de Jesus vivo para que eles chegassem à fé na ressurreição.
Jesus se faz reconhecer com sinais realíssimos: “olhai minhas mãos e meus pés. Sou eu mesmo”. Aquilo que eles veem é o corpo de Jesus que foi pregado, que foi traspassado. Deus, em Cristo, iniciou uma nova criação: tomou um corpo humano e o fez um novo corpo espiritual, mas que está em continuidade com o primeiro.
“Abriu-lhes a mente para a inteligência das Escrituras”. É a grande revelação do NT: a ressurreição de Jesus dá um novo sentido, um sentido definitivo para as Escrituras. Todas as coisas que pareciam enigmáticas, obscuras, se tornam luminosas, claras, como profecia da ressurreição de Cristo.
Nas Escrituras, de fato, muitas coisas anunciam a ressurreição de Cristo, muitas coisas são figuras da paixão e da ressurreição. Naturalmente não podiam representar todo o mistério: eram uma imagem antecipada e, portanto, imperfeitas. Quando Jesus ressuscitou, então aparece claro tudo aquilo que as narrações, os salmos e os relatos anunciavam do mistério de Deus: a paixão morte e ressurreição de Cristo.
Em que sentido as coisas do AT são figuras imperfeitas? São imperfeitas no sentido de que toda vez que a morte é representada de modo real, a ressurreição não se representa do mesmo modo. E vice-versa, quando a ressurreição é efetivamente figurada, então é a morte que não se representa da mesma maneira.
Explico-me com alguns exemplos. Abel assassinado pelo irmão é figura de Cristo na sua morte. Depois da sua morte, Deus diz a Caim: “O sangue do teu irmão clama a mim”. Abel morto fala ainda. Aqui o NT viu uma figura da ressurreição de Cristo, mas é uma figura muito pálida: há algo de Abel que ainda vive depois de sua morte e que clama a Deus, mas Abel mesmo não se apresenta mais vivo diante de Caim.
Outro exemplo: o sacrifício de Isaac. Aqui é a ressurreição que é prefigurada de modo real, porque depois do sacrifício, Isaac está vivo; Abraão recupera seu filho com vida. Por outro lado, a morte não aconteceu realmente. Abraão levanta o braço para sacrificar o filho, mas não o mata realmente. O sacrifício é somente simbólico.
Também a história de José é figura da morte e da ressurreição de Cristo. José vivo acolhe os seus irmãos que queriam matá-lo por inveja contra ele, como Cristo acolhe todos os seus irmãos depois da paixão sofrida pelos pecados deles. José abre aos irmãos as riquezas de um mundo novo, como Cristo abre a nós as riquezas do reino de Deus. Também neste episódio a morte não se verificou realmente. José foi morto simbolicamente, foi jogado no poço como a um morto na tumba, seu pai recebeu suas vestes manchadas de sangue, mas na realidade ele não foi morto.
Muitos símbolos ainda representam de modo preparatório o grande mistério da Páscoa: a história do povo de Deus, o templo destruído e reconstruído depois do exílio.
Depois desta milenar preparação se cumpre definitivamente em Cristo o mistério e se iluminam todas as profecias e prefigurações.