At 5,27-33
Os apóstolos são levados novamente diante do Sinédrio para serem julgados. As acusações são duas: a desobediência e a difamação. Os apóstolos desobedeceram a ordem explícita de pregar o Evangelho, tinham desprezado a autoridade do Sinédrio e por isso deviam ser castigados. Pedro se defende dessa acusação com uma resposta que apresenta o critério para julgar a proibição imposta: “É preciso obedecer a Deus antes que aos homens”. Em outras palavras, se uma proibição contraria a vontade de Deus, tal proibição não é justa e não deve ser obedecida. A obediência a Deus é superior à obediência devida aos homens, e os apóstolos obedecem a Deus ao pregarem o que Deus fez em Jesus para o benefício de todos os seres humanos.
A segunda acusação é a de difamação. Os apóstolos são acusados de querer atribuir a responsabilidade pela morte de Jesus aos chefes religiosos. É interessante e irônico o modo como o Sumo Sacerdote elabora essa segunda acusação. Eles se preocupam em não pronunciar o nome de Jesus. Em vez de dizer o nome de Jesus, ele fala “desse nome” e “desse homem”: “proibimos expressamente de ensinar nesse nome”; “quereis lançar sobre nós o sangue desse homem”. Ao mesmo tempo, o Sumo Sacerdote recrimina os apóstolos de terem enchido “a cidade de Jerusalém com o ensinamento deles”. Sem querer o sumo sacerdote testemunha o progresso da pregação do evangelho na capital. Trata-se do reconhecimento involuntária e contrariada da glorificação do nome de Jesus pela pregação apostólica na capital Jerusalém.
A resposta de Pedro a essa segunda acusação se baseia na contraposição entre o que Deus fez em favor dos homens e do que os chefes religiosos fizeram contra Jesus. Historicamente falando, os chefes religiosos não foram os executores da crucifixão de Jesus, mas foram eles os responsáveis pela aplicação da pena contra Jesus. Além de terem a culpa da rejeição de Jesus, cometeram um grande erro que o próprio Deus se encarregou de evidenciar com a ressurreição de Jesus: “O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, a quem vós matastes, pregando-o numa cruz”.
Por fim, Pedro anuncia a todos, também aos responsáveis pela morte de Jesus, que a morte e a ressurreição de Jesus têm o objetivo de conceder o perdão e a remissão dos pecados. Prestemos atenção! O arrependimento e a remissão dos pecados não são simplesmente um ato humano, mas são graça de Deus.
Neste tempo de páscoa acolhamos a graça do arrependimento e da remissão dos pecados que nos vem da morte e ressurreição de Jesus.
Jo 3,31-36
Aquele que vem do alto está acima de todos. O que é da terra, pertence à terra e fala das coisas da terra. Aquele que vem do céu está acima de todos. Dá testemunho daquilo que viu e ouviu, mas ninguém aceita o seu testemunho. Quem aceita o seu testemunho atesta que Deus é verdadeiro. De fato, aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus, porque Deus lhe dá o espírito sem medida.
O Evangelho de hoje nos fala de plenitude. A plenitude de graça que recebemos do Senhor Ressuscitado é uma riqueza incomensurável. De fato, recebemos o Espírito sem medida.
Nas coisas humanas, nós começamos com pouco ou com quase nada e, depois, com muito esforço, vamos adquirindo e progredindo até alcançar uma plenitude. Nas coisas humanas, a plenitude está no final de um processo de crescimento, depois de um início muito modesto.
Por exemplo. Quanto ao conhecimento humano, começamos ignorantes, mas com empenho nos estudos, depois de muitos cursos e exercitações, adquirimos muitas competências e conhecimentos. O mesmo vale no campo dos bens materiais. No início não temos nada, mas depois, com trabalho sério, planejamento e disciplina, adquirimos um patrimônio considerável. A mesma coisa ocorre no campo das virtudes humanas: no início não temos hábitos virtuosos, só temos impulsos que nos levam a direções contraditórias. Pouco a pouco, porém, com muito esforço e disciplina, adquirimos alguns hábitos bons e desenvolvemos tendências boas em nós mesmos.
Na vida espiritual, porém, acontece o inverso: a vida espiritual consiste na união com Cristo e por isso, desde o batismo, desde o início, a nossa alma tem à disposição uma plenitude de riquezas. A vida espiritual começa, portanto, com a plenitude da união com Cristo, e o que precisamos é nos abrir para acolher essa plenitude. É claro que não temos, desde o batismo, a perfeição automática da vida espiritual, mas o batismo nos comunica realmente a riqueza de Cristo.
No batismo nós recebemos o dom da fé. Desde o batismo nós temos a fé como uma plenitude, como uma riqueza de luz divina e de conhecimento sobrenatural. Não recebemos uma fé pequena que depois deve ir crescendo com o nosso esforço. A fé é um dom sobrenatural que nos é dado em toda a sua riqueza, e o nosso primeiro esforço deve ser o de tomar consciência da preciosidade deste dom de Deus. Não é preciso conquistar a fé: ela nos é dada em plenitude no batismo!
Não somos nós que devemos criar em nós a fé, ela é uma luz que nos foi dada por Deus no Cristo ressuscitado. É exatamente isso que o mundo deseja dos cristãos! O mundo não espera a nossa generosidade. Ele espera a generosidade de Cristo! O Senhor não dá um dom pequeno ou pela metade. Sua generosidade é tal que nos dá o Espírito sem medida. Todos os seus dons a nós são sem limites.
É claro que devo crescer na fé, mas isso não para criar a fé! É preciso sim crescer no receber o dom da fé.
Peçamos ao Senhor a fé: “quem crer no Filho tem a vida eterna”. João não diz: terá a vida eterna! Ele diz “tem” no presente, no agora. Em Cristo ressuscitado o dom da vida eterna está em nós!