A VIRGEM MARIA

MÃE DE DEUS:

Maria é a Mãe de Deus, pois a humanidade de Jesus veio de Maria. Ela foi escolhida para ser a mãe do Filho de Deus, Jesus Cristo. Essas duas verdades podemos ler em Lucas 1,43: “E donde me vem a graça de ser visitada pela mãe de meu Senhor?” Não há como entender isso de modo diferente, pois essa palavra “Senhor”, em grego, é Kyrios, que se refere a Jesus glorioso, ressuscitado, plenamente Deus e plenamente homem. Não podemos separar a humanidade da divindade de Jesus. Se Maria é mãe dele, se ele é Deus, então Maria é a mãe de Deus aqui na terra. Não há por onde fugir dessa verdade.

IMACULADA CONCEIÇÃO:

é o fato de Maria ter sido concebida sem o pecado original. Nós recebemos essa graça no nosso Batismo. Maria a recebeu em sua concepção. Em Lourdes ela revelou a Santa Bernardete que ela realmente foi concebida sem o pecado original.


ASSUNTA AO CÉU:

Maria foi assunta, foi levada ao céu de corpo e alma após sua morte. Essa sua assunção é a antecipação da ressurreição de todos nós. Na Bíblia há apenas a assunção de Henoc e de Elias (veja em Gênesis 5,22-24; Hb 11,5; 2ª Reis 2,11), mas provavelmente isso não aconteceu. O autor sagrado simplesmente anotou tradições orais encontradas na época, que por sua vez, visavam proteger os restos mortais desses dois profetas.

MARIA NÃO TEVE OUTROS FILHOS:

Jesus é o único Filho de Maria. Ela foi virgem a vida toda. Jesus era seu filho único. A maior prova disso está em João 19,25-27, em que Jesus pede que João (Apóstolo) tome conta de sua mãe e diz para Maria que fosse morar com ele. Ora, se Maria tivesse outros filhos, Jesus não teria nenhuma necessidade de pedir isso a João, pois haveria seus irmãos para dela cuidarem. Todos eram obrigados a seguir essa norma: A viúva tinha que morar e ser atendida pelos filhos. Se Jesus era o único filho, então dá para entender por que ele deixou Maria aos cuidados do Apóstolo João: porque, sendo filho único, não havia nenhum irmão que o substituísse no cuidado da mãe. Essa norma pode ser vista em 1ª Timóteo 5,4; Deuteronômio 5,16 e Mateus 15,4.

Os chamados “irmãos” de Jesus são, na verdade, seus primos e parentes próximos. Em Mateus 10,2-3, por exemplo, vemos que existem dois Tiagos, um deles chamado “irmão do Senhor” (Gálatas 1,19). Ora, um deles era filho de Alfeu e o outro, de Zebedeu (confira na citação acima de Mateus). Nenhum dos dois era filho de José!

Há outros exemplos de como os primos e até sobrinhos eram chamados de irmãos, como em Gênesis 11,31 e cap. 13,8 (combinar os dois textos), em que Abraão chama o filho de Lot, seu sobrinho, de “irmão”. Em algumas bíblias mais modernas, mudaram o nome “irmão” para “parente”; no original, entretanto, está “irmão”. Na língua hebraica e aramaica não existe a palavra “primo”. Em grego, língua do novo testamento, existe, mas só foi usado uma vez, em Colossenses4,10, “Anépsios”. Nas demais vezes, a palavra usada é “adelphos”, irmão.


OS TÍTULOS DE MARIA:- Quanto aos inúmeros títulos de Maria, é costume chamá-la por vários nomes, títulos, pois é nossa mãe, já que Jesus, seu Filho, é nosso irmão. São muitos títulos, mas uma só Maria, a Mãe de Deus. Não são pessoas diferentes, como muitas pessoas pensam. Assim, quando chamamos N. Sra. Aparecida, N. Sra. de Lourdes, de Fátima, da Salete, de Guadalupe, da Conceição, das Graças, de Loreto, da Paz, Rosa Mística, da Ponte, Auxiliadora, Mãe dos Homens, do Rosário, da Consolata, do Monte Serrat, do Carmo, etc, estamos chamando a mesma e única Maria, nossa Mãe querida.


Maria, como não tem mancha alguma de pecado, reflete totalmente a maravilhosa graça de Deus, nesses seus inúmeros títulos: cada título de N. Sra. corresponde a um aspecto dessa graça de Deus. Diz uma frase no Santuário Nacional de Aparecida: “Peça à Mãe que o Filho atende!”. Para ser devoto de Maria, temos de atender ao pedido que ela fez nas bodas de Caná: “Fazei tudo o que ele (Jesus) disser”.


A seguir, um belo comentário do Pe. Fernando Cardoso (ver site na lista de blogs seguidos)


1º de outubro de 2011

O profeta Baruc insiste nas acusações contra o pecado coletivo, o pecado da comunidade dos judeus. A esse respeito, desejo fazer aos leitores a seguinte observação: Nossa Senhora, nas aparições dos últimos tempos – refiro-me àquelas aprovadas pela Igreja - sempre tem insistido na penitência, na conversão e na oração pelos pecadores, pois ela é advogada dos pecadores e consoladora dos aflitos. Nossa Senhora é Mãe, não apenas dos justos e dos cristãos em estado de graça, mas é Mãe também daqueles que se desviaram. É Mãe dos pecadores, daqueles que nunca se recordaram dela e dos que nunca pronunciaram seu nome nem jamais recitaram uma Ave Maria. Nossa Senhora, Mãe solícita de cada pecador, percebe melhor do que ele a pobreza em que se encontra - pobreza, pois o pecado na realidade é um nada.

O animalzinho racional que somos - chamados do nada à divinização apesar dos pecados cometidos - diz a Deus: “Não! Eu não quero ser divinizado, prefiro permanecer no estado animal e, dessa maneira, cava a própria ruína. Nossa Senhora, que do alto da sua glória, como Mãe, contempla toda essa tragédia, bate às portas desses corações e, se não encontra nenhuma resposta por parte deles, bate às portas dos nossos corações.

Tocados por Maria, queremos ir a Jesus, mas não desejamos caminhar sozinhos. Estendemos nossas mãos aos pecadores e continuamos a repetir a grande solidariedade que os uniu a Jesus. Santa Teresa do Menino Jesus, embora não estivesse entre os maiores pecadores, desejava, no final de sua vida, sentar-se à mesa com todos eles. Queria ir para o céu, mas não sozinha. O pecado contrário a tudo o que acabo de dizer recebe o nome de farisaísmo. É o pecado dos que rejeitam qualquer contato com os pecadores vulgares, uma vez que se julgam sem pecado, credores de Deus e superiores aos demais.

Convençamo-nos de que Jesus não veio a este mundo para redimir apenas pecadinhos sem grande estrago moral. Ele veio para todos os grandes pecadores, quaisquer que sejam suas faltas. Não há pecado, por maior que seja, que não possa ser dissolvido no detergente poderoso que é o Seu Sangue. O Filho de Deus também Se sentou à mesa em companhia de pecadores notórios e chegou a arrancar acusações fortes provindas daqueles que se julgavam sem pecado. Em certa ocasião, saiu em favor desses grandes pecadores, citando o Profeta Oseias: "Misericórdia Eu quero e não sacrifício.” Existem aqueles que carregam na consciência crimes nefandos, como tráfico de drogas, corrupção de menores, pornografia, prostituição, corrupção nos níveis econômicos e políticos. Nossos meios de comunicação os conhecem perfeitamente. De todos eles deseja Deus sinceramente a conversão, a fim de não os dever punir com a condenação eterna. Ele, hoje, os entrega às súplicas e intercessão de todos nós, para podermos tomar parte no drama de suas conversões.


FESTA DE NOSSA SENHORA APARECIDA

Jo 2,1-11;

Ester 5,1b-2; 7,2b-3;

Sl 45;

Ap 12,1.5.13a.15-16a;

A Mãe estava lá com Jesus

Carlos Mesters e Elda Broilo

Jesus, sua mãe e seus discípulos participam de uma festa de casamento no povoado de Caná, na Galileia. O casamento reúne muitas pessoas.

É neste ambiente que Jesus faz o seu primeiro milagre. Por este sinal, diz o Evangelho, os discípulos creem nele.

No Antigo Testamento, o matrimônio era símbolo do amor de Deus pela comunidade; era símbolo da união do Messias com a Igreja, como diz São Paulo: “Cristo amou a Igreja e deu a vida por ela” (Ef 5,25). O vinho é dom do amor e símbolo do Espírito. Acabar o vinho era um mal sinal. À preocupação de Maria – “O vinho acabou” -, Jesus dá uma resposta que parece uma repreensão – “Não é preciso que a senhora diga o que eu devo fazer”. Porém, passa a ideia de que não é preciso que Maria diga o que ele deve fazer. Maria acredita nele, por isso, diz aos empregados: “Façam o que ele mandar”. E assim foi feito. Os empregados, seguindo o conselho de Maria, obedecem a Jesus. Enchem os seis potes de pedra de água. Ao levar ao dirigente da festa um pouco da água destes potes, ela havia se transformado em vinho. Esta mudança da água em vinho simboliza a passagem da velha à nova economia. O vinho novo é melhor. Esta é missão de Maria: dar Jesus à humanidade e levá-la até Jesus.


2. Meditação (Caminho)

O que o texto diz para mim, hoje?

A cena de Caná ilustra ainda hoje o papel de Maria na Igreja: dar Jesus ao mundo e apresentar o mundo a Jesus. Hoje também, Maria nos diz como disse aos servos: “Façam o que ele mandar”. Quem vai a Jesus por indicação de Maria não fica decepcionado.

Em Aparecida, os bispos afirmaram: “Com os olhos postos em seus filhos e em suas necessidades, como em Caná da Galileia, Maria ajuda a manter vivas as atitudes de atenção, de serviço, de entrega e de gratuidade que devem distinguir os discípulos de seu Filho. Indica, além do mais, qual é a pedagogia para que os pobres, em cada comunidade cristã, “sintam-se como em sua casa”. Cria comunhão e educa para um estilo de vida compartilhada e solidária, em fraternidade, em atenção e acolhida do outro, especialmente se é pobre ou necessitado. Em nossas comunidades, sua forte presença tem enriquecido e seguirá enriquecendo a dimensão materna da Igreja e sua atitude acolhedora, que a converte em “casa e escola da comunhão” e em espaço espiritual que prepara para a missão” (DAp 272).

É assim que assumo a Palavra de Deus? Também eu me distingo pelo “estilo de vida compartilhada e solidária, em fraternidade, em atenção e acolhida do outro, especialmente se é pobre ou necessitado”?

E A MÃE DE JESUS ESTAVA ALI

Pe Adroaldo

“Eles não têm mais vinho” (Jo 2,3)

É frequente estar perto e não ver os outros, estar junto e não se dar conta dos problemas das pessoas.

Quão importante é reaprender a olhar! É decisivo ativar um “olhar contemplativo”, capaz de “ler” por detrás das situações e compreender o que está oculto no mais profundo de cada um.

Todos “estavam” no casamento, em Caná, mas nenhum percebeu que “estava faltando vinho”. Só a Mãe de Jesus foi capaz de dar-se conta de que a festa iria terminar mal. E sai em defesa dos recém-casados, que também não estavam inteirados da situação. Graças a ela, aquilo que poderia terminar em um problema, converteu-se em festa.

A mãe Maria representa o caminho de esperança da história israelita; ela vive ainda na carência, nos tempos da lei, rito de purificações, mas conhece sua falta, sabe descobri-la e colocá-la diante de seu Filho. Dessa forma supera já o tempo de negatividade e se adianta, conhecendo e preparando aquilo que não pode resolver por si mesma. Por isso, faz o pedido ao “bom filho messiânico”, o Servidor das Bodas da humanidade, que é Jesus. Ela, a que estava presente no casamento, propicia que seu filho revele sua “hora”.

Ela não está ali para pôr condições, nem para dar conselhos, nem para proibir e controlar seus filhos, mas para desejar que “todos tenham vinho”, que possam viver em amor e bom vinho, e serem felizes.

Maria, é mãe de todas as mães que querem o melhor vinho do amor para seus filhos. Este mundo se salvará se houver mães que dizem: “eles não têm mais vinho”.

A passagem das Bodas de Caná é um relato messiânico, que marca o sentido de todo o evangelho de João, o sentido da vida cristã como festa de casamento, como festa de família. Não se diz que Maria tinha sido convidada. Ela já pertence ao espaço e tempo das Bodas, fundadas no caminho da promessa e busca humana. Em sua função de mãe messiânica, ela não é o Messias, mas está presente nas Bodas, deixando refletir nela e atualizando a experiência e esperança israelita.

Não sabemos se é que havia outros que viram e sentiram a carência de vinho, à chegada de Jesus, mas sabemos que Maria o avisou. Ela olha atenta às necessidades dos noivos, satisfeita diante de uma festa de casamento que promete felicidade a todos os que dela participam. Poderíamos dizer que ela está a serviço da festa do amor e da vida: quer que haja prazer, que haja vinho e, enquanto outros estão talvez perdidos em afazeres de menor significado, ela sabe manter distância e descobrir as necessidades das pessoas, o mesmo que fez no seu canto do Magnificat.

O evangelho de hoje destaca a carência de vinho na festa de casamento. Faltava alegria e prazer naquele ambiente judaico, obcecado em lavar-se e purificar-se. Faltava entusiasmo nas pessoas que se preparavam para a chegada de um Deus que não reconheciam. Isso sim, havia abundância de água: centenas de litros de água e de normas que não desembocavam no louvor nem na alegria. Aí é onde Maria aproveita a ocasião e situa o seu filho no centro da história de todos eles. Aí é onde Jesus antecipa a manifestação de sua autoridade: “Enchei as talhas de água!”; “agora tirai e levai ao mestre-sala!”

João começa seu evangelho recordando Jesus participando de bodas, homem da festa, a serviço do amor e da vida. Este é o Jesus verdadeiro, iniciador de Bodas, homem de festa e de vinho, promotor de uma esperança de paz (shamom), simbolizada na alegria dos convivas.

Nesta cena, há uma característica que deveria estar sempre presente na comunidade dos(as) seguidores(as) de Jesus, a Igreja: devemos passar das bodas de água e purificação (muitas leis, muitas proibições, muito rito, pedras e mais pedras...) às bodas do vinho. Que todos os homens e mulheres da terra, todas as casas, tenham o necessário para viver (pão, água, casa...), mas também o bom vinho, que é o prazer da vida, o que inspira a convivência alegre e festiva, reforçando os laços de comunhão entre todos.

Nesse sentido, a recordação da presença da Mãe de Jesus, nos revela que ela é uma mulher festeira, promessa de vinho e de amor para as pessoas sobrecarregadas sob o fardo de leis, de medos e normas que paralisam (os cântaros de pedra para a purificação).

Maria, a mãe de Jesus, quer vinho, não para ela, mas para a comunidade festiva, para todos os que buscam e querem seguir seu Filho, para todos os homens e mulheres da terra.

Ela é Virgem de Caná de Galileia, iniciadora de evangelho, de vinho e bodas, de alegria esperançada.

A Mãe de Jesus se faz presente em todas as Bodas humanas (antes judaicas, hoje cristãs) e descobre nelas muita água para as purificações, mas carente do vinho de vida, que é a alegria dos noivos que se irradia e se expande a todos os convidados.

Maria deixa transparecer uma lucidez especial e, em gesto de serviço aberto, descobre a carência da vida. Sabe que os seres humanos foram criados para celebrar as festas do amor, para as bodas do vinho em plenitude, e por isso sofre ao vê-los carentes, sofridos, incompletos, submetidos à água dos ritos e purificações do mundo. Sua presença inspiradora quer conduzi-los à nova família do Reino, onde a festa não terá fim.

A mãe sabe olhar, mas não pode remediar. Ela se encontra diante de um mistério que a ultrapassa, diante de uma carência que não pode solucionar por si mesma. Logicamente acode ao seu Filho: “Eles não têm mais vinho”. Ela leva até Jesus as carências das pessoas. A indicação é delicada, respeitosa para com o momento do seu Filho.

Isto significa que a hora, o tempo e o gesto de Jesus não é marcado por Maria. No entanto, se considerarmos com mais profundidade, descobriremos que a mesma resposta negativa de Jesus deixa emergir um tipo de assentimento implícito: Jesus não rejeita a observação de sua mãe, não nega a carência de vinho. Simplesmente indica que a “hora” se encontra nas mãos de seu Pai dos céus.

Ela aceita a palavra de Jesus, sua transcendência. Sabe que não pode impor-lhe nem mandar n’Ele, traçando para Ele um caminho neste mundo. Mas ela pode, sim, dirigir-se aos responsáveis da festa, a todos os homens e mulheres da terra: “Fazei tudo o que Ele vos disser!”

Assim, Maria deixa a resposta nas mãos de Jesus, deixa o tempo de sua “hora” e, colocando-se no plano dos servidores, apresenta-se como a grande “diaconisa”, a primeira servidora da festa: prepara assim o ambiente para que a transformação das Bodas aconteça. Está ali para ocupar-se das pessoas, daqueles famintos e oprimidos que querem chegar até as bodas da alegria e da vida da terra, mas não podem fazer isso porque falta o vinho do amor e da vida, a alegria da festa.

Ela está ali presente, realizando uma função superior: prepara os servidores (diakonoi) do banquete, ensinando-os a acolher e a escutar seu filho Jesus.

Ela está com os diáconos, servidores do banquete, anunciando e preparando a felicidade prazerosa que se aproxima. Ela está a serviço do festim de manjares suculentos e vinhos generosos que o Deus de seu Filho Jesus Cristo preparou sobre o monte da terra, conforme Is 25,6.

Evangelho: Jo 2,1-11

Na oração: - Sinta tudo o que há de água depositada e parada em sua vida, com a desculpa de usá-la como purificação na relação com Deus; sinta-se como talha de pedra, fria e rígida, que o(a) torna incapaz de mobilizar sua vida em favor da vida.

- Reconheça e agradeça tudo o que na sua vida se parece com o vinho, que lhe dilata e lhe dá sentido de festa.

Vinho expansivo que provoca alegria, abundância, reconstrução de novas relações...

Fazei tudo o que ele vos disser-1

Ildo Bohn Gass

O evangelho a ser refletido na liturgia do próximo final de semana é tradicionalmente conhecido como “as bodas de Caná”. Essa narrativa leva-nos a perguntar sobre o papel da religião, da vivência da aliança entre Deus e as pessoas. A função da religião é petrificar o coração humano ou é gerar novas criaturas no amor de Deus?

De corações empedernidos...

No texto, há vários elementos que revelam a antiga aliança, que foi aprisionada pela religião oficial.

O primeiro é a referência a um casamento. Em Israel, o casamento, desde o profeta Oseias, é uma imagem da aliança de Deus com o seu povo. Portanto, a narrativa nos conduz para dentro da aliança.

Um segundo elemento é a ausência de vinho. “Eles não têm mais vinho”. O amor, representado pelo vinho, e que a aliança deveria revelar, já não existe mais. As estruturas mataram o amor, o petrificaram. Aqui, “eles” é uma referência às autoridades religiosas que transformaram a lei, que deveria gerar vida e liberdade no amor, em um peso para o povo, em um ritualismo vazio de água, vazio de vida e de sentido.

Um terceiro elemento, que revela uma religião que entorta as pessoas em vez de levantá-las, é a referência aos tanques. “Havia ali seis talhas de pedra para a purificação dos judeus, cada uma contendo mais ou menos cem litros”. O simbolismo é muito forte. Elas representam a prática oficial da religião de Jesus, pois serviam para a “purificação dos judeus”. São seis justamente para mostrar a diferença em relação aos sete dias da criação, quando Deus viu que tudo era muito bom. Seis revela incompletude, imperfeição. Nas talhas, não há água. O ritualismo vazio de sentido e de amor transforma qualquer religião em pedra. Eram “seis talhas de pedra”. E uma religião empedernida, petrifica os corações dos seus fiéis em vez de torná-los sempre mais humanos, mais de carne, na linguagem do profeta Ezequiel (Ezequiel 36,26). Além de a antiga aliança ter sido esvaziada do amor de Deus, além de ter se tornado pedra, ela ainda é muito pesada, sufocando as pessoas e toda comunidade. Engessa-a com seu ritualismo desligado da vida e com suas normas mais voltadas para o moralismo individualista. Numa instituição que endurece corações, até é possível encontrar água. Porém, não é mais possível encontrar amor, simbolizado pelo vinho. O vinho aparece somente fora das talhas e não dentro delas.

Por fim, mais um elemento da narrativa representa a antiga aliança. É o mestre-sala que representa a instituição que não contém mais vinho. Por ter transformado a antiga aliança, que deveria gerar vida, em uma estrutura a petrificar mentes e corações, ele não está aberto para a nova aliança, para a novidade do amor de Deus vivido por Jesus em sua plenitude. Ele não aceita a novidade. A lei lhe basta. Por isso, ele recusa a novidade da nova aliança.

... a corações recriados...

Temos também vários sinais que apontam para a nova aliança que vem recriar a vida.

Iniciemos com a referência ao “terceiro dia”, que indica para duas novidades. A primeira é para a criação da vida em sete dias (Gênesis 1,1-2,4). Convém notar que, neste evangelho, o 1º sinal acontece no sétimo dia. Tendo presente as informações de João 1,29.35.43 e 2,1, as bodas em Caná da Galileia acontecem justamente no sétimo dia da criação, o sábado. Com isso, os autores deste evangelho nos apresentam Jesus como aquele que vem fazer de nós criaturas novas, com base no vinho do amor e não mais nas talhas da lei, cuja letra obscurece o amor. A segunda novidade é que o terceiro dia lembra a vida nova de Jesus no terceiro dia depois da cruz. É a vida em plenitude que derrota as forças de morte e diz sim à vida. A vida ressurge no jardim e recria o novo homem ressurgido da morte, a fim de que participemos de sua vida pelo batismo como pessoas recriadas, como novas criaturas conduzidas pelo amor.

O segundo elemento é a presença da mãe de Jesus nesse casamento. A celebração do casamento revela duas alianças. A primeira é a aliança “deles”, dos judeus que, neste evangelho, são as autoridades judaicas que, por não terem mais vinho, perseguiram Jesus. É interessante perceber que a mãe de Jesus estava com um pé nesta aliança. Ela “estava lá”.

No entanto, ela também estava com um pé na nova aliança, representando o resto fiel da antiga aliança. Ela percebeu a falta de vinho. Buscava o sentido que a religião petrificada havia matado na antiga aliança. Se o mediador da antiga aliança no Sinai foi o homem Moisés, agora, na nova aliança, quem faz a mediação é uma mulher. No texto, ela não tem nome. É que ela é mais que a mãe de Jesus. Representa também a comunidade da nova aliança. Nesse sentido, é a noiva desse casamento. Jesus é o noivo dessa aliança. Em mais. A mãe de Jesus, por ser a noiva da nova aliança, é a amada que segue no amor o seu amado, tal como os jovens enamorados do livro de Cântico dos Cânticos.

Um terceiro elemento é o nome do lugar. Não é por acaso que as comunidades joaninas escolheram Caná como nome para o lugar da festa do casamento. É que Caná significa adquirir. Naquela sociedade patriarcal, o noivo adquiria, pelo dote, a sua noiva. Dessa forma, Jesus adquiriu para si as comunidades que fazem tudo o que ele disse. As comunidades fiéis ao seu amor pertencem a Jesus e por ele se tornam a nova criação gerando, promovendo e defendendo a vida.

Uma quarta questão é que, diferentemente de sua mãe, Jesus com os discípulos não estavam lá. Foram “convidados”, vieram de fora. Como judeu, Jesus entrou na história de seu povo. Mas deixou claro que não está comprometido com a instituição petrificada que fez da lei um peso para o povo. Por isso, quando sua mãe percebeu a falta de vinho na antiga aliança, diz que ela e Jesus mesmo não têm mais nada a ver com essa aliança. “Que tenho eu e tu com isso?” (João 2,4). Em outras palavras, Jesus diz que ele e o resto fiel da antiga aliança não têm nada a ver com o ritualismo que não promove mais amor e vida.

Um quinto elemento é que a água se transforma em vinho fora das talhas. As estruturas envelhecidas não permitem mais a mudança. Ao contrário, dificultam-na e até a impedem, perseguindo quem busca o novo. A novidade, a mudança está lá onde estão os serventes da festa, lá junto aos que, muitas vezes, não são percebidos nos banquetes. Nem lhes é permitido comer as migalhas que caem das mesas que eles servem. Ali, junto às pessoas excluídas, Jesus revelou o amor de Deus. Tal como na aliança do passado, quando Deus fizera aliança com pessoas escravas do faraó, agora libertas, da mesma forma, na fidelidade de Jesus, mais uma vez Deus revela seu amor pleno a toda a humanidade, e preferencialmente aos pequeninos.

Por fim, a nova aliança em Jesus de Nazaré manifesta a “glória”, isto é, a presença plena do amor de Deus. Em Jesus, Deus se tornou palpável. Porém, o ponto alto do amor fiel de Deus foi revelado na fidelidade de Jesus até a cruz. Por isso, nas bodas de Caná, a sua “hora ainda não chegara”. Virá mais tarde, na cruz imposta pelos príncipes deste mundo (1Cor 2,8). O seu amor sem limites, a sua fidelidade aos pobres, à missão de promover a vida com dignidade revela a glória de Deus, isto é, a sua presença amorosa em nosso meio.

... para uma missão movida pelo amor

E como nós revelamos a glória de Deus em nossas vidas? Fazer parte da nova aliança, como novas criaturas, é servir como os diáconos, os servidores a quem a mãe de Jesus disse: “Fazei tudo o que ele vos disser”.

Fazer tudo o que Jesus nos pediu é acreditar como os discípulos que nele creram. Crer é abrir-se à Palavra que se tornou humano, é acolher o seu amor e corresponder com ele como pessoas recriadas no serviço à vida.

Ildo Bohn Gass é biblista, assessor do CEBI e autor de diversos livros.

Mulher: resistência e solidariedade

Celso Loraschi

Introdução geral

Celebrar a festa de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, padroeira do Brasil, significa contemplar aquela que soube orientar sua vida na fidelidade ao projeto de Deus, defendendo e promovendo a vida do povo sofredor. O seu protagonismo está explicitado nas três leituras da liturgia de hoje. A primeira apresenta Ester. Atenta à difícil situação na qual se encontrava o povo, com sua originalidade e ousadia, ela se propõe ser mediadora eficaz para salvá-lo da opressão e da morte. O Evangelho de João revela que o primeiro sinal público de Jesus foi realizado com a mediação de Maria, atenta às necessidades dos convidados de uma festa de casamento. O livro do Apocalipse apresenta a mulher como geradora de vida nova num contexto de perseguição violenta. A mulher, nos textos de hoje, retrata a comunidade de fé que se mobiliza a favor do povo em situação de necessidade, proporcionando-lhe condições de vida com paz e alegria. Tudo a ver com a celebração de Nossa Senhora Aparecida, a nossa Mãe negra, que apareceu a pobres pescadores em 1717 num contexto de escravidão dos negros. O povo brasileiro guarda-lhe profunda veneração. A solidariedade de Maria com as pessoas necessitadas e excluídas é importante indicativo para todos os que desejam caminhar na vida como discípulos e missionários de Jesus.

Comentário dos textos bíblicos


1. I leitura (Est 5,1b-2; 7,2b-3): A mulher que salvou um povo

O livro de Ester, em sua forma atual, situa-se pelo II século a.C. Os judeus encontram-se sob o domínio grego. Os autores, porém, fazem uso de personagens da época da dominação persa (538-333 a.C.), como Assuero (ou Xerxes), rei da Pérsia no séc. V a.C. Na verdade, o livro é uma novela bíblica que reflete a situação do povo judeu num contexto de opressão estrangeira. A identidade da nação judaica está sob ameaça de destruição. Sabemos que a influência da ideologia grega no interior do judaísmo foi grande e provocou resistências radicais, até com métodos violentos como o da guerrilha dos macabeus. Também provocou grande dispersão de judeus para fora da Palestina, obrigados a conviver num mundo com valores estranhos à sua tradição de fé.

A história de Ester atualiza a proposta do Êxodo. O povo oprimido pode mudar a história. Existem caminhos de libertação que precisam ser abertos com inteligência e organização. Deus age por meio das pessoas aparentemente fracas. Ester é uma das mulheres que, ao longo da história de Israel, foram protagonistas de movimentos populares capazes de transformação social: as parteiras do Egito, Míriam, Débora, Judite… Leve-se em conta que, na época da redação do livro de Ester, as mulheres eram oficialmente excluídas de qualquer instância decisória. Pertenciam à categoria das pessoas impuras, conforme estabelecia o sistema sacerdotal de pureza. No entanto, por essas pessoas, Deus suscita projetos de vida e salvação para o povo.

Ester, fazendo uso de seus atributos femininos, com sabedoria e coragem, toma a iniciativa de enfrentar o poder que mata. O que a move não são interesses pessoais, mas a libertação do povo. Sua estratégia demonstra maturidade e consciência. Mesmo após conquistar a simpatia e a confiança do rei, a ponto de tornar-se rainha, não se deixa arrastar pelas tentativas de cooptação da parte de quem domina. Não aceita a oferta de riquezas; pelo contrário, usa agora de seu poder para garantir a vida de seu povo. Ester encarna a liderança que não trai o seu povo. Doa-se por inteiro e arrisca a vida para salvá-lo.

2. Evangelho (Jo 2,1-11): A mulher da nova aliança

O relato das bodas de Caná constitui uma releitura da aliança que Deus realizou com o povo de Israel. O compromisso de amor mútuo foi rompido por sucessivas infidelidades por parte de Israel, desde a opção pela monarquia até a organização do sistema sacerdotal de pureza. Não é por acaso que, logo após as bodas de Caná, Jesus se dirige ao Templo, onde, profeticamente, denuncia a exploração ali instalada e anuncia um novo Templo, que é ele próprio.

Na festa de casamento, Jesus é apresentado como o esposo da nova humanidade. O sistema judaico, organizado segundo os interesses de uma elite religiosa, esvaziou o sentido da antiga aliança; já não respondia ao amor de Deus. A imposição de um legalismo excludente criou imenso vazio no coração do povo. Os seis potes vazios representam as festas judaicas (o Evangelho de João apresenta seis delas), que deveriam ser expressão de plena alegria pela presença amorosa e salvadora de Deus. No entanto, estão vazias, perderam o verdadeiro conteúdo que saciaria a sede que o povo tem de Deus.

A comunidade de João manifesta sua fé em Jesus como Deus-esposo que vem resgatar (Caná significa “adquirir”) sua esposa e oferecer-lhe o vinho do amor e da alegria. Essa festa de casamento, portanto, é a celebração da nova aliança. A esposa é o novo povo de Deus, formado pelas comunidades cristãs. A esposa é representada pela mãe de Jesus. Por isso Jesus se dirige a ela chamando-a de “mulher”. Ela executa um papel muito especial: percebe que naquela festa falta o essencial. Dirige-se a Jesus, pois sabe que dele vem a solução: “Eles não têm mais vinho”. Jesus lhe responde que sua hora ainda não chegou. O texto supõe que aquela mãe-mulher-comunidade entendeu perfeitamente e, por isso, confia em Jesus: “Fazei tudo o que ele disser”. Na cena seguinte, vemos Jesus-esposo dizendo de modo imperativo aos que serviam: “Enchei os potes de água”, e depois: “Tirai e levai ao mestre-sala”. Este provou sem saber de onde viera o melhor vinho. Porém, “os que serviam estavam sabendo”. O vinho em abundância simboliza o dom do amor de Deus para a humanidade. É a volta da plena alegria oferecida por Deus, que celebra com seu povo a aliança definitiva.

João faz questão de dizer que “esse foi o princípio dos sinais… e os discípulos acreditaram nele”. Até a “hora de Jesus” – o momento de sua morte e glorificação –, vários outros sinais serão por ele realizados. O tema da aliança contemplado no primeiro sinal serve como chave de interpretação para todos os demais. No final do evangelho, João vai dizer: “Esses sinais foram escritos para que vocês acreditem que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. E para que, acreditando, vocês tenham a vida em seu nome” (20,31). Nesse mesmo evangelho, Jesus declarou: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (10,10).

A mãe de Jesus, que aparece nas bodas de Caná como representante do novo povo de Deus, indica como podemos ser fiéis à aliança com Deus: permanecendo atentos às necessidades do povo, contando com a graça de Jesus presente no meio de nós e pondo-nos a serviço do seu projeto de vida em abundância para todos.

3. II leitura (Ap 12,1.5.13a.15-16a): A mulher geradora de vida nova

O capítulo 12 do Apocalipse apresenta a situação de sofrimento pela qual passam as comunidades cristãs no final do século I, sob a opressão do imperador Domiciano. A mulher e o dragão representam dois projetos antagônicos: o de Jesus com as comunidades cristãs e o do império romano. Percebe-se aqui uma evocação do texto de Gênesis: “Porei hostilidade entre ti e a mulher, entre tua descendência e a descendência dela. Ela te esmagará a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar” (3,15).

A mulher é descrita como “um grandioso sinal no céu, vestida com o sol, tendo a lua sob os seus pés e, sobre a cabeça, uma coroa de doze estrelas”. São símbolos com profundo significado. A mulher aparece no céu, irradiando a gloriosa luz divina, revestida de grande poder cósmico. A coroa de doze estrelas tem relação com as tribos de Israel e o novo povo de Deus nascido da fé em Jesus Cristo. A mulher também representa Maria, a mãe de Jesus, o verdadeiro rei de toda a humanidade que subiu ao céu e está junto do trono de Deus.

O dragão é a antiga serpente, isto é, aquele que introduz o mal e a morte no mundo. Persegue a mulher e procura matá-la. O vômito do dragão atrás da mulher, tentando afogá-la, é o império romano, que, com força e poder, faz submergir todo o povo com sua ideologia. Não admite outros projetos. Por isso persegue especialmente os seguidores de Jesus. A terra, porém, engole o vômito do dragão, salvando a mulher. É a própria história que “engole” os impérios. Eles não são eternos; não são absolutos. Dentro de si carregam o germe da própria destruição.

A mulher, portanto, representa os pequeninos e fracos pelos quais Deus se manifesta ao mundo, oferecendo vida e salvação. Maria de Nazaré gerou o Filho de Deus, nosso salvador. As comunidades cristãs, seguidoras de Jesus, têm a missão de gerar vida e dignidade no mundo. Essa missão contrapõe-se aos projetos de morte impostos pelos poderosos. A mulher que, na fé e confiança em Deus, vence o dragão é símbolo de todas as pessoas empenhadas na defesa e promoção da vida contra todo tipo de opressão e exclusão.


III. Pistas para reflexão

– Maria-mulher-mãe-esposa promotora da vida. Os textos bíblicos que a Igreja apresenta nessa liturgia especial em homenagem a Nossa Senhora Aparecida revelam o protagonismo da mulher na defesa e promoção da vida do povo. Contra toda submissão e passividade diante dos sistemas que oprimem, as mulheres se posicionam, agindo em favor das vítimas do poder e abrindo caminhos de libertação. Elas representam as comunidades cristãs e todas as pessoas de boa vontade que se entregam pela causa da justiça, da fraternidade e da paz no mundo contra toda opressão, mentira, corrupção… É oportuno refletir sobre os projetos antagônicos no Brasil, caracterizando a ação do “dragão” e da “mulher” hoje.

– Deus se revela aos pequeninos e age por meio deles… Nossa Senhora apareceu em 1717 a humildes pescadores, num tempo de escravidão dos negros. Solidária com os escravos, ela assumiu sua cor, sua dor e sua causa. Mãe de Deus, nossa mãe e companheira de caminhada, Maria continua indicando a missão que devemos assumir para que não venha a faltar o vinho do amor, do pão e da plena alegria a todas as famílias brasileiras: “Fazei tudo o que ele vos disser”. O que esse apelo de Nossa Senhora significa para nossas comunidades eclesiais?

Celso Loraschi

Mestre em Teologia Dogmática com Concentração em Estudos Bíblicos pela Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, São Paulo, professor de Evangelhos Sinóticos e Atos dos Apóstolos na Faculdade Católica de Santa Catarina (Facasc) e assessor do Cebi, SC. E-mail: loraschi@facasc.edu.br

FAZEI TUDO O QUE ELE VOS DISSER-2

Raul Amorim

Neste dia de Nossa Senhora Aparecida, festa da Padroeira do Brasil, o evangelho descreve a festa das bodas de Caná da Galileia. A mãe de Jesus estava na festa, Jesus e seus amigos também foram convidados. Tem festas que a gente guarda na memória. Parece que, com o passar dos anos, elas tomam um sentido mais profundo... A festa das bodas de Caná cresceu na memória do povo de ontem e de hoje. Vamos meditar

Jo. 2,1-2: Três dias depois houve um casamento em Caná da Galileia, e aí estava a mãe de Jesus. Também Jesus foi convidado para o casamento, junto com seus discípulos.

No Evangelho de João, o início da vida pública de Jesus acontece numa festa de casamento, que é sempre um momento de muita alegria e de muita esperança. Por isso mesmo, o casamento de Caná tem um sentido simbólico muito forte.

Na Bíblia, a festa de casamento era um símbolo do amor de Deus para com seu povo. Foi o profeta Oseias (cerca de 750 a.C.) quem, pela primeira vez, apresentou a esperança deste casamento quando conta sua parábola da infidelidade do povo diante das propostas de Javé. “Eu me casarei com você para sempre. Eu me casarei com você na justiça e no direito, no amor e na ternura. Eu me casarei com você na fidelidade, e você conhecerá Javé”. (Os. 2,21-22)

Jo. 2,3-5: Faltou vinho, e a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não tem mais vinho!” Jesus respondeu: “Mulher, que temos a ver com isso? Minha hora ainda não chegou”. A mãe de Jesus disse aos que estavam servindo: “Façam tudo o que ele disser”.

Apesar de não ser chamada pelo nome, a mãe de Jesus aparece duas vezes no Evangelho de João: no começo, nas bodas, e no fim, ao pé da cruz (Jo. 19,25-27). Nos dois casos ela representa o Antigo Testamento que aguarda a chegada do Novo e, nos dois casos contribui para que o Novo chegue. Maria é o elo entre o que havia antes e o que virá depois.

Na festa de casamento em Caná da Galileia, é ela, a mãe de Jesus, símbolo do Antigo Testamento, que percebe os limites do Antigo, e dá os passos para que o Novo possa chegar.

Jo. 2,6-8: Tinham sido deixados aí seis jarros de pedra, com cerca de cem litros cada um, e que serviam para as purificações que os judeus costumavam fazer. Jesus disse aos que serviam: “Encham esses jarros com água”. Eles os encheram até a borda. Depois Jesus disse: “Agora tirem e levem ao chefe da cerimônia”. Eles assim o fizeram.

A recomendação da Mãe de Jesus aos empregados é o último grande recado do Antigo Testamento: “Façam tudo o que ele lhes disser!” O Antigo Testamento aponta para Jesus. Daqui pra frente, são as palavras e gestos de Jesus que vão dar rumo à vida. Quanta gente dos nossos dias justifica seus atos incoerentes com o Antigo Testamento!

Jesus chama os empregados e manda encher de água os seis potes vazios. Em seguida, manda tirar e levar ao mordomo. As iniciativas de Maria e de Jesus acontecem sem consentimento dos donos da festa. Nem Jesus, nem sua mãe, nem os empregados eram os donos. Nenhum deles foi pedir licença aos donos da festa. A renovação passa por pessoas que não pertencem ao centro do poder!

Jo. 2, 9-10: Quando o chefe provou da água transformada em vinho, sem saber de onde vinha (os serventes sabiam), chamou o noivo e disse: “Qualquer um serve primeiro o vinho bom e, quando os convidados já estão embriagados, aí serve o menos bom.Você, porém, guardou o vinho bom até agora”.

O simbolismo da água tornada vinho é muito importante. Os jarros era água para purificação. Com essa história o evangelista quer mostrar que doravante os ritos de purificação estão superados, pois a verdadeira purificação vem através de Jesus.

Podemos entender isso como mudança de uma prática religiosa baseada no medo do pecado, uma prática que excluía muita gente considerada impura, para uma nova relação entre Deus e a humanidade, a partir de Jesus.

Jo. 2, 11: Este foi o princípio dos sinais, e Jesus o fez em Caná da Galileia. Manifestou a sua glória, e seus discípulos acreditaram nele.

Este é o primeiro sinal. No evangelho de João, o primeiro sinal acontece para reconstrução da família, da comunidade, para refazer as relações básicas entre as pessoas. Os discípulos acreditaram nele porque a fé não era somente intelectual ou teórica, mas no seguimento concreto do Mestre, na formação de novos relacionamentos de amor.

Passo por passo o autor do evangelho vai revelando Jesus através de sinais para que nós possamos “acreditar que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. E para que, acreditando, tenhamos a vida em seu nome” (Jo. 20,31)

Que na festa da Mãe Aparecida aprendamos cada vez mais o seu recado: “Fazei tudo o que Ele vos disser”.

FESTA DE NOSSA SENHORA DE GUADALUPE

12 de dezembro

PADROEIRA DA AMÉRICA LATINA


Leituras:-liturgiadiaria.cnbb.

1ª Leitura Gálatas 4, 4-7

Salmo 95/96 3 a “Proclamai as nações a sua glória “

Evangelho Lucas 1, 39-47

Meu caro irmão, minha cara irmã, hoje é dia 12 de Dezembro, e a Igreja celebra a Festa de Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da américa latina. Nós sabemos que as aparições da Virgem Maria atraem multidões. Estima-se que no Santuário de Guadalupe passam anualmente sete milhões de peregrinos, no Santuário de Lourdes quatro milhões e meio ao ano, e em Aparecida estima-se que são seis milhões de peregrinos ao ano.

As visões ou aparições de Deus normalmente se dão através de sonhos ou de símbolos. Por quê? Porque Deus é invisível e toda vez que ele aparece, devemos levar em conta que não se trata de percepção normal dos objetos materiais. Deus se mostra, por exemplo, no fogo, na nuvem, na leve brisa, nos sonhos de Jacó, de José e de São Paulo.

No caso de Jesus Ressuscitado, e de Maria, podemos falar de aparições pois se trata de corpos glorificados. Jesus ressuscitou em corpo glorioso, Nossa Senhora foi elevada á Glória celeste e por isso quando eles aparecem, podem ser percebidos também na sua forma corporal. Uma singularidade das aparições de Maria se evidencia no fato de que ela se manifesta assumindo vestes , estatura e até idades diferentes. A explicação para essa diversidade é adaptação pedagógica a cada pessoa que a vê ao seu ambiente e a sua cultura. As aparições de Nossa Senhora sempre tem esta característica de adaptação pedagógica. Nossa Senhora assume os traços dos povos para os quais ela aparece e também os seus tempos.

Muitas são as aparições na história do Cristianismo. Na antiguidade temos notícias das aparições a Gregório Taumaturgo que viveu no século terceiro, aparições a Teófilo, que viveu na idade média, o milagre de São João Damasceno, que ocorreu em 749. São muitos os milagres e aparições em todos os tempos na história da Igreja.

As aparições de Nossa Senhora de Guadalupe ocorreu em cinco vezes, são cinco aparições entre 9 a 12 de Dezembro de 1531. A primeira aparição foi na manhã dia 09 de dezembro, quando, um índio chamado Juan Diego há pouco convertido e batizado, estava indo à Igreja de Santa Cruz para assistir as aulas de catecismo. Ao passar perto da colina de Tepeyac ouviu um suave gorjeio. Surpreso começou a ouvir um chamado da colina e quando chegou no alto da colina viu uma senhora de uma beleza sobre-humana. Ela pedia que se construísse um santuário naquele lugar.

As aparições de Guadalupe estão ligadas a este lugar que fica no México e de modo especial a Juan Diego, um indígena daquela região. Por isso que Nossa Senhora que aparece no manto de Juan Diego, traz também os traços da etnia do seu povo.

As aparições de Nossa Senhora parecem levantar um problema para a Fé cristã porque a Fé cristã se define como adesão a Verdade, a uma realidade que não é visível. De fato a Fé é uma convicção daquilo que não se vê. A Fé é uma antecipação daquilo que se espera. No evangelho de João ouvimos Jesus afirmando “Felizes os que não viram e creram” Crer é aderir àquilo que não é evidente, Por isso as aparições de Nossa Senhora parecem contradizer a natureza da Fé Cristã que é crer sem ver. Essa contradição na verdade é aparente porque ela pode ser superada quando recordamos que as aparições não substituem a necessidade da Fé, nem a sua exigência e felicidade, mas evidencia que é também necessária a Fé para perceber as aparições como algo sobrenatural, colocando -a como princípio para reconhecer e distinguir a própria aparição de uma ilusão ou delírio. As aparições não se colocam acima da Revelação Divina feita por Cristo, que está nas escrituras e é transmitida pela Igreja. As aparições recordam, explicam o que foi revelado por Cristo e nunca está em contradição ao evangelho de Jesus Cristo.

Não podemos excluir de antemão que, Cristo, Nossa Senhora ou algum Santo, possa se manifestar de modo autêntico, de modo corporal e também neste caso, as aparições exigem a Fé . Maria é aquela que está mais perto de Cristo e também aquela que mais se aproxima de nós como membro do Corpo Místico de Cristo. Ela é a serva do Senhor que na sua função materna e condição de glorificada deseja fazer o bem sobre a terra.

Dom Júlio Endi Akamine

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