ANO A - Mt 21,1-11
ANO B - Marcos 11,1-10
ANO C - Lc 19,28-40
ANO A - Mt 26,14-27-66
ANO B - Mc 14,1-15,47
ANO C - Lc 22,14-23,56
Para muitos cristãos, especialmente aqueles que não participam dos atos litúrgicos da Semana Santa, esta é a única oportunidade de ler e refletir a Paixão do Senhor. Sua narrativa está na origem do Evangelho e não no final, como nas biografias de pessoas ilustres, que primeiro falam de seu nascimento e no final de como morreram. Acontece que os Evangelhos não são biografias da vida de Jesus. A concordância entre os quatro evangelistas é nelas muito maior que no restante do texto.
A liturgia de hoje começa com HOSANA e tem seu ponto mais alto do “CRUCIFICA-O”. Parece contradição, mas não é, pois trata-se do coração do mistério que iremos celebrar: Jesus se entrega voluntariamente à sua Paixão; não se sentiu esmagado por forças maiores do que ele.
Estamos no ciclo de leituras do ano C, quando lemos o evangelho de São Lucas (22,14-23,56). Nossa reflexão seja, neste dia, uma verdadeira contemplação da paixão do Senhor a partir de alguns temas que só Lucas em sua sensibilidade médica e poética traz:
• Lucas fala da viagem de Jesus que se inicia (9,51): “Estava chegando o tempo de Jesus ser levado ao céu. Então tomou a firme decisão de partir para Jerusalém”. Essa viagem se prolonga até (19,28) – uma viagem teológica. Jerusalém, portanto, é uma etapa intermediária que terminará junto do Pai (sua Ascensão).
• Cordeiro pascal: na apresentação no Templo (2,22ss) Maria e José deveriam oferecer dois sacrifícios, um pela purificação (ofereceram um casal de pombos) e um cordeiro – Jesus é o cordeiro. Desde sua infância Ele pertence ao Pai e na Cruz entrega seu espírito ao Pai.
• A tentação: Lucas é o único evangelista a dizer que o diabo, após ter esgotado todas as formas de tentação, voltaria no tempo oportuno, que começa quando Jesus chega em Jerusalém e Lucas faz questão de mostrar que no monte das Oliveiras (o diabo) estava lá na tentação de um Jesus angustiado, que novamente é vencedor, orando por Pedro, vencendo a tentação de pensar só em si, e por fim, a tentação do “salvar a si mesmo”.
• Misericordioso e compassivo: é importante lembrar que o tema da misericórdia é um dos eixos deste Evangelho. Insiste para que seus discípulos “sejam misericordiosos como o Pai”... “façam o bem a quem os odeia”... “rezem pelo que os amaldiçoam”... “amem os inimigos”... Ele mesmo pratica esses exemplos. Comove-se até às entranhas ao ver a aflição da viúva de Naim levando seu filho morto para o cemitério... cura a orelha decepada do empregado do sumo sacerdote... pede ao Pai que perdoe os que lhe torturavam... salva o ladrão arrependido.
• Servidor na sinagoga de Nazaré: ao iniciar seu ministério, lê o profeta Isaías em seu capítulo 61, identificando sua missão com a do servidor, e ao dizer: “hoje” se cumpriu essa escritura, assume a missão de servir à vida. Lucas narra 18 milagres de Jesus sendo que 14 deles os fez na Galileia como serviço aos pobres e deserdados. Desmascarou a ambição dos fariseus que competiam pelos primeiros lugares...
•Messias da paz e da reconciliação: Ele veio para guiar nossos passos na paz... seu nascimento foi anunciado como tempo de “paz na terra aos homens por ele amados”... contou parábolas de reconciliação (Lc 15)... reconciliou Pilatos e Herodes que eram inimigos e, por fim, disse palavras confortadores às mulheres desesperadas de Jerusalém.
• As mulheres Lucas: é o evangelista que mais valoriza o papel das mulheres, que na paixão estão mais presentes que os discípulos... foram elas que sempre acompanharam Jesus desde a Galileia ... observam o túmulo... preparam perfumes para ungir seu corpo e serão as primeiras a receber e levar a notícia de que Ele está vivo (24,1ss).
Celebrar a paixão do Senhor hoje e em toda esta semana é inserir-se no projeto de Deus.
Pe. Tadeu Rocha Morais - Pároco da Catedral N. Sra. da Ponte de Sorocaba SP.