SÁBADO- 34TC

SANTO ANDRÉ- APÓSTOLO

30/11/2024

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Primeira Leitura: Romanos 10,9-18

Salmo Responsorial: Salmo 18(19)-R- Seu som ressoa e se espalha em toda terra. 

Evangelho: Mateus 4,18-22

Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – Naquele tempo, 18quando Jesus andava à beira do mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, chamado Pedro, e seu irmão André. Estavam lançando a rede ao mar, pois eram pescadores. 19Jesus disse a eles: “Segui-me, e eu farei de vós pescadores de homens”. 20Eles, imediatamente, deixaram as redes e o seguiram. 21Caminhando um pouco mais, Jesus viu outros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e seu irmão João. Estavam na barca com seu pai, Zebedeu, consertando as redes. Jesus os chamou. 22Eles, imediatamente, deixaram a barca e o pai e o seguiram. – Palavra da salvação.


Meu irmão, minha irmã! 


Os episódios do evangelho que fazem menção direta a Santo André são poucos. 

No Evangelho de João, são apenas três. Mesmo que seja pouco mencionado, André aparece em momentos importantes e em pontos cardeais do cristianismo.

Primeiro episódio. André é um dos dois primeiros discípulos Apóstolos chamados por Jesus. Ele e o discípulo amado estavam com o mestre deles, João Batista, quando Jesus passou por eles. Nesse momento, o Batista dá seu testemunho: “Eis o cordeiro de Deus” (Jo 1,36). Por causa desse testemunho, André e o outro discípulo quiseram conhecer melhor aquele homem. André aproximou-se dele, e Jesus, percebendo o interesse deles, lhes perguntou: “que procurais?”. Timidamente disse a Jesus a primeira coisa que lhe passou pela cabeça: “Rabi, onde moras?”

André tinha sido tocado pelo testemunho do Batista, desejou conhecer Jesus, mas não sabia muito bem como fazê-lo. Foi por isso que ele desajeitadamente perguntou: “Rabi, onde moras?”

Jesus simplesmente os convidou: “Vinde e vereis”. S. João evangelista narra esse episódio a partir de suas lembranças pessoais. Podemos ainda sentir no seu relato a sua vibração e emoção interior com aquele encontro. Ficou marcado na memória daqueles dois primeiros apóstolos até mesmo a hora do encontro com Jesus: “era por volta da hora décima”.

Quando voltaram para casa, André foi até seu irmão, Simão, e lhe anunciou com alegria: “encontramos o Messias”. André tinha se dirigido primeiramente a Jesus, chamando-o de Rabi – Mestre. Depois de ter permanecido um dia com Jesus, André anuncia a Pedro que Jesus é o Messias, ou seja, o Rei, o Ungido de Deus há tanto prometido pelos profetas e esperado pelo povo eleito.

Entre o “Rabi” e o “Messias” há uma ponte, que é a conversão. Entre essas duas confissões há um caminho interior, uma peregrinação do coração que André percorreu. Para André, Jesus deixou de ser um Mestre para se tornar Messias. Ele passa de Jesus a Cristo, da ideia para a pessoa.

André é importante para nós, porque também nós devemos fazer essa peregrinação do coração: passar do Jesus ao Cristo, da ideia para a Pessoa. Corremos o risco de conhecer Jesus somente por ouvir falar, mas não por nos ter encontrado pessoalmente com Ele.

André aparece no episódio da multiplicação dos pães. A multidão permaneceu muito tempo com Jesus no deserto, sendo alimentada pela sua palavra. A certa altura, as pessoas começam a se inquietar: começam a sentir a fome física. Jesus tinha socorrido a multidão em sua fome espiritual, mas agora chega o momento que o corpo manifesta sua necessidade. Como tinha acontecido com o próprio Jesus depois de ter jejuado quarenta dias, a multidão começa a sentir a necessidade básica de alimento material. Os discípulos ficam preocupados e querem que Jesus despeça a multidão para que as pessoas possam procurar o que comer. Mas Jesus não quer só responder à fome espiritual; ele se preocupa também com a fome física das pessoas. É nesse momento que André descobre um menino que trazia consigo um lanche de cinco pães e dois peixes. Provavelmente tinha sido sua mãe que lhe preparara esse lanche reforçado para uma só pessoa, mas insignificante para uma multidão de milhares de pessoas. 

André levou o menino até Jesus. E é esse levar o menino com o seu lanche que destravou a situação e permitiu o milagre da multiplicação. Novamente a iniciativa de André nos interpela. Como cristãos, nós devemos ter o mesmo olhar e coração abertos de André. Devemos ter olhar voltado para a necessidade silenciosa das pessoas e nos dispor a ajudar com o pouco e com o nada que temos. Não ficar só olhando para si mesmo, mas ter coração atento que se antecipa ao pedido do necessitado.

Mas André nos ensina que precisamos pôr as coisas nas mãos de Jesus. Às vezes nós nos preocupamos com a necessidade das pessoas, mas nos limitamos apenas em prestar assistência social. Não é que isso não seja importante e muito necessário. Mas é preciso reconhecer que as necessidades das pessoas são muito superiores ao que nós podemos dar. Mesmo com toda a nossa boa vontade, sempre estaremos muito aquém das reais necessidades das pessoas. 

O que fazer então? É preciso fazer como André, levar os nossos cinco pães e os dois peixes e entregá-los nas mãos de Jesus. Nas mãos de Jesus, as nossas ofertas se tornam em Pão da vida eterna! Nas mãos de Jesus, se realiza sempre de novo a transformação de nossos pobres dons em Pão para a Vida do mundo! É isso o que acontece a cada eucaristia celebrada. André é importante para a nossa Arquidiocese que deve se preocupar com a assistência social, mas não pode limitar a sua missão a isso. Ela tem a missão de dar aos fiéis o Pão para a vida do mundo!

André aparece uma terceira vez no quarto evangelho. Pouco antes da Paixão do Senhor, no domingo de Ramos, Jesus vai ao templo e nele é hostilizado pelos inimigos. Entre a multidão de peregrinos, há alguns gregos que ouviram falar de Cristo, mas que não conhecem a língua de Jesus, o aramaico. Eles desejam se aproximar de Jesus, mas a língua é um obstáculo que eles não sabem como superar esse entrave na comunicação. É nesse momento de dificuldade que eles se encontram com o Apóstolo Filipe, natural de Betsaida. Em Betsaida, as pessoas falavam as duas línguas: o grego e o aramaico. E Filipe pediu a André que o acompanhasse, e os dois juntos apresentaram aqueles peregrinos gregos a Jesus.

Foi nesse momento que nasceu a Igreja dos gentios. Foi nesse momento que Jesus começou a estender os seus braços para o mundo: “quando eu for elevado da terra, atrairei todos a mim”. 

A intervenção de André nesse terceiro episódio nos mostra como temos necessidade de “tradutores” do evangelho. André era bilíngue e fez a ponte entre Cristo e os gregos. 

Não se trata somente de verter a mensagem do evangelho para as diferentes línguas. É muito mais do que isso! A Igreja necessita de “pessoas bilíngues”: cristãos que recebem a mensagem do evangelho, a assimilem na vida e a traduzam para os que convivem com ele. O melhor interprete do evangelho para os jovens é um jovem; o melhor interprete do evangelho para os políticos, é um político cristão; o melhor interprete do evangelho para os cientistas é um cientista cristão.

Com toda a minha boa vontade, usando todos os recursos disponíveis de comunicação tenho consciência de que minha pregação atinge um círculo limitado de pessoas. Para que a Palavra chegue mais longe e a mensagem de vida de torne fecunda, são necessários tradutores que convivam com pessoas e falem a língua deles. 

André não recebe grande importância na narrativa dos evangelhos. Porém quando ele aparece, está sempre fazendo a mesma coisa, isto é, conduzindo os outros a Cristo. 

Mais ainda: através dele, Cristo pode fazer grandes coisas. De fato, Pedro foi o escolhido por Cristo para ser pedra da Igreja, e foi André que deu a Cristo esse presente especial. Também foi André que levou o jovem com seu pequenino pacote de cinco pães e dois peixes até Cristo, e Jesus alimentou cinco mil homens.

Assim também podemos nós podemos fazer. Como André, as pessoas simples e sem quaisquer dotes particulares, podem fazer coisas maravilhosas para Cristo, por intermédio daqueles a quem influenciam.



DOM JULIO ENDI AKAMINE

Arcebispo Metropolitano de Sorocaba

Créditos do áudio: Rádio Uniso