"12.Falou-lhes outra vez Jesus: “Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida”.13.A isso, os fariseus lhe disseram: “Tu dás testemunho de ti mesmo; teu testemunho não é digno de fé”. 14.Respondeu-lhes Jesus: “Embora eu dê testemunho de mim mesmo, o meu testemunho é digno de fé, porque sei de onde vim e para onde vou; mas vós não sabeis de onde venho nem para onde vou. 15.Vós julgais segundo a aparência; eu não julgo ninguém.* 16.E, se julgo, o meu julgamento é conforme a verdade, porque não estou sozinho, mas comigo está o Pai que me enviou. 17.Ora, na vossa Lei está escrito: O testemunho de duas pessoas é digno de fé (Dt 19,15). 18.Eu dou testemunho de mim mesmo; e meu Pai, que me enviou, o dá também”. 19.Perguntaram-lhe: “Onde está teu Pai?”. Respondeu Jesus: “Não conheceis nem a mim nem a meu Pai; se me conhecêsseis, certamente conheceríeis também a meu Pai”. 20.Essas palavras proferiu Jesus ensinando no templo, junto aos cofres de esmola. Mas ninguém o prendeu, porque ainda não era chegada a sua hora."
ou:
Meu irmão, minha irmã!
Jo 8,1-11
Os escribas e fariseus levam a Jesus uma mulher surpreendida em flagrante adultério. Querem saber se Jesus é fiel à lei que manda lapidar as adúlteras. Os escribas e fariseus não pedem a Jesus uma sentença forense, mas um parecer sobre a aplicação da lei de Moisés para o caso particular daquela mulher que eles trazem para Jesus.
Jesus imediatamente vê o que os acusadores daquela mulher não conseguem ver. Jesus fixou nos olhos aquela mulher e leu no seu coração: lá encontrou o desejo de ser compreendida, perdoada e libertada.
Jesus, inclinando-se, escreve com o dedo na terra. Faz isso de propósito, ou melhor, com propósito. Deseja dar tempo, fazer refletir, despertar a consciência das pessoas. A quem pretendia julgá-la e condená-la à morte, Jesus responde com um primeiro longo silêncio, cujo intuito é deixar emergir a voz de Deus tanto na consciência da mulher como nas dos seus acusadores.
Como os acusadores insistem, Jesus precisa tomar a palavra para apelar para a consciência de cada um: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”.
Segue-se um segundo longo silêncio; Jesus volta a escrever no chão, agora para esperar que quem não tiver pecado execute a sentença de morte. Essa atitude serena de Jesus revela uma força extraordinária que desmascara o pecado mais grave daqueles que acusam a pecadora. Ele obriga a própria consciência a voltar-se para si mesma. Os acusadores estavam voltados unicamente para fora, unicamente dedicados a acusar e a condenar a adúltera, em vez de examinar-se a si mesmos. Estavam atentos ao pecado da mulher, mas perdiam de vista a si mesmos. Exigiam o cumprimento da lei, mas eles mesmos não viviam interiormente o que a lei prescrevia.
Pior do que isso, os acusadores condenavam a adúltera não por aversão ao adultério, mas para se afirmarem como justos e para por Jesus a prova. Condenam a pecadora, não porque odeiam o pecado, mas simplesmente porque fazem do pecado do outro uma cortina de fumaça para não verem as próprias misérias. Essa é a lógica distorcida que cria a ilusão de ser uma pessoa melhor desqualificando o outro, acusando severamente o erro alheio unicamente para não ter que fazer qualquer esforço de mudança dos próprios comportamentos.
Em vez de só se preocuparem com o pecado alheio, os acusadores deveriam se esforçar em viver a virtude. Com efeito, não há condenação mais firme do adultério e da luxúria do que viver a castidade. Assim acontece com todos os outros pecados: a condenação mais clara da desonestidade nas coisas públicas é a justiça vivida pessoalmente; a reprovação mais eloquente da preguiça é a laboriosidade praticada; a desaprovação mais sentida do despudor é o recato e a discrição.
O veredito de Jesus é claro: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. Em outras palavras: cada um de vós se examine a si mesmo, se apresente ao julgamento da própria alma, se constitua diante do tribunal na própria consciência.
A reação ao apelo de Jesus é tão surpreendente quanto triste: “ouvindo o que Jesus falou, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos”. Permaneceram somente Jesus e a adúltera; permaneceram somente a mísera e a Misericórdia.
O texto bíblico não fala explicitamente do que causou na consciência da mulher o apelo de Jesus. Podemos imaginar que ela deva ter se sentido envergonhada e humilhada pela sua falta; que tenha se sentido aterrorizada, uma vez que foi deixada sozinha com o único que podia atirar a primeira pedra. Ela estava agora sozinha com o seu grande pecado diante daquele que não tem pecado.
Levantando-se, Jesus pergunta: “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? Ela respondeu: Ninguém, Senhor. Então Jesus lhe disse: Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais.”
Precisamos prestar atenção: Jesus não diz para a mulher que ela pode ir e continuar a viver como lhe pareça melhor. Absolutamente não! Ele diz: “de agora em diante não peques mais”. Desta forma, Jesus ajuda a pecadora a olhar para o futuro com esperança, pronta a começar a vida nova; a partir de agora, se quiser, poderá “viver no amor” (Ef 5,2). Depois que se revestiu da misericórdia, embora permaneça a condição de fraqueza por causa do pecado, tal condição é dominada pelo amor que consente olhar para o futuro e viver de maneira diferente.
O perdão não é esquecer o passado; não é cancelar o passado. O mal cometido não pode ser mais cancelado, nem a morte vai cancelar o mal cometido! O perdão é a possibilidade de uma vida nova, de um futuro novo. Jesus não perdoa o pecado, perdoa o pecador, ou seja, abre ao pecador a possibilidade de começar uma nova vida. Vá, e de agora em diante não peques mais.
O perdão é a possibilidade de mudança. Nisso consiste o milagre do perdão: “Eis que eu farei coisas novas, e que já estão surgindo: acaso não as reconheceis?”
O perdão tem um preço. Para Jesus o preço do perdão da pecadora foi aceitar a morte para que ela pudesse viver uma vida nova. Ninguém pode perdoar se não estiver disposto a morrer um pouco para si mesmo. Para perdoar é preciso escolher a possibilidade de um novo futuro ao pecador em vez de reclamar o meu direito que foi violado. Só posso fazer isso com a graça dAquele que morreu por mim quando era seu inimigo.
Vale a pena perdoar? A resposta a isso só pode ser a ressurreição de Jesus. Jesus perdoou a pecadora, perdoou tantos pecadores públicos, perdoou até os seus algozes. Valeu a pena perdoar tanto? Se ele não tivesse ressuscitado, deveríamos dizer que ele foi um mártir do perdão, mas que isso não valeu a pena. A razão última de valer a pena perdoar é a ressurreição do Senhor.
Nós corremos dois perigos quanto ao perdão. Podemos pecar por abusar da misericórdia ou por não acreditar na misericórdia: presunção ou desespero são dois pecados contra a esperança.
Façamos hoje os propósitos de:
Não esquecer o passado, mas de ter dele uma memória reconciliada.
Permitir que o Senhor faça surgir em nós e nos outros uma nova realidade.
Lutar contra o pecado e confiar na graça de Deus para vencê-lo.
Dn 13,1-9.15-17.19-30.33-62
O relato da casta Suzana é marcado de fina psicologia e de tensão dramática com o fim de ensinar o triunfo da inocência sobre a maldade.
As palavras de Susana: “é melhor para mim não fazer isso, e cair nas vossas mãos, do que pecar na presença do Senhor” foi também o clamor dos mártires macabeus e a mais bela expressão dos seus heroicos sentimentos.
Como denúncia do vício e exaltação da virtude, o relato é de grande atualidade para hoje e para o futuro.
Susana representa um ideal de fidelidade conjugal e confiança em Deus. Os anciãos representam o abuso dos poderosos. Eles desejam se aproveitar de Susana roubando-a do seu marido e desonrando-a. O jovem Daniel representa a consciência sadia, não manchada nem arrogante, através da qual Deus faz triunfar a justiça.
Susana é uma mulher íntegra e bela. Ela se torna vítima daqueles que deveriam defender a justiça. Os anciãos são juízes perversos de mau caráter, que abusam do poder se apropriando dos bens e das pessoas, cometendo crimes acobertados pela “imunidade” que esse tipo de autoridade goza. Susana resistiu a esses aliciadores que querem condená-la à morte por um crime que ela se recusou cometer com aqueles dois velhos. É no momento que tudo parece perdido para Susana, que Daniel se ergue, pede revisão do julgamento e consegue comprovar a calúnia daqueles dois pervertidos. Assim, a situação se reverte: os acusadores são condenados.
Vemos neste relato a mão de Deus defendendo o fraco, o indefeso, o caluniado e o perseguido injustamente por meio da ação do profeta Daniel.