4ª FEIRA DA 27ª SEMANA COMUM. -
1ª Leitura: Jonas 4,1-11
Salmo Responsorial 85(86)-R- Ó Senhor, sois amor, paciência e perdão.
Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – 1Um dia, Jesus estava rezando em certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: “Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos”. 2Jesus respondeu: “Quando rezardes, dizei: ‘Pai, santificado seja o teu nome. Venha o teu reino. 3Dá-nos a cada dia o pão de que precisamos 4e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos os nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação’”. – Palavra da salvação.
O Evangelho de Lucas, 11, 1, diz: “Um dia, Jesus estava rezando num certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos”.
É preciso reconhecer que não sabemos como rezar, como relacionar-nos livremente com Deus. Jesus nos ensina esta vida nova por suas palavras e nos ensina a pedi-la pela oração. Da retidão de nossa oração dependerá a retidão de nossa vida em Cristo.
Como reage Jonas? Como reagimos nós?
A primeira reação de Jonas é cair na conta do verdadeiro problema de sua fé. Ele toma consciência do problema não resolvido, do motivo de seu sofrimento interior, do seu ressentimento patológico e teológico, que se exprime agora com toda clareza: Não era isso mesmo que eu dizia? Finalmente Jonas exprime para Deus e para si a razão de sua fuga; torna claro para si mesmo e para nós a sua razão: ele não quer o Deus vivo e verdadeiro! Prefere morrer a ter que abandonar a suas ideias e doutrinas sobre deus. O seu sentimento nacionalista, colide com o desejo ardente e misericordioso de Deus. Jonas é o pregador da desgraça e da tragédia, não do Deus vivo e verdadeiro. É o profeta triste que perdeu a alegria do Evangelho. Jonas é o profeta triste das desgraças com cara de vinagre.
Ao mesmo tempo, Jonas se confronta com a sua consciência. Não é que não soubesse, quando tentou fugir para Jope, como poderia terminar a sua missão. Ele já tinha um pressentimento obscuro, mas suficientemente forte e arraigado no coração a ponto de fazer com que tomasse a decisão de desobedecer a Deus. Ele foge de Deus! Prefere um deus domesticado, previsível e à sua disposição. Jonas foge do Deus Indisponível que se revela Deus misericordioso. Jonas intui de imediato a necessidade de passar por uma conversão, de quebrar o ídolo, de destruir o sistema teológico que aprisiona o Deus vivo e verdadeiro. Jonas precisa fazer uma escolha: o mistério de Deus ou o ídolo! Ele pede a morte, resiste até o fim das forças.
Jonas “sabe” que Deus é misericordioso, e por isso foge dEle. Com um Deus justo podemos fazer nossas contas e prever os resultados. Com um Deus misericordioso não podemos fazer cálculos: Deus é imprevisível e indisponível.
Ele é capaz de perdoar os piores adversários, deixando na mão o profeta. Jonas sabe, como também nós, que um profeta é credível quando a sua profecia se cumpre (Jr 28,9). Jonas se irrita até a morte porque ele passou três dias anunciando o castigo de Deus que não veio porque os ninivitas se converteram. Deus se deixou tocar pelo seu arrependimento: com um Deus assim não dá para trabalhar, pois prefere deixar seu profeta desacreditado a cumprir suas ameaças.
Abre-se uma nova perspectiva universalista da salvação que nada mais é do que o universalismo da misericórdia divina. Com efeito, a compaixão humana está muito ligada aos nossos semelhantes, mas a Misericórdia divina se estende a todos, aos inimigos, aos últimos, aos indesejados... Deus adverte e corrige, ensina e guia o pecador, pois não o abandona e deseja a sua salvação (cf. Eclo 18,12-14).
A parábola do filho pródigo (Lc 15,11ss) tem uma segunda parte porque nem todos se alegram com o resultado. Há quem não aceita nem compreende a fraqueza do pai. Jonas é um exemplo admirável disso. Ele não quis ser profeta de um “Deus compassivo e clemente, paciente e misericordioso”, capaz de deixar mal seu profeta por perdoar os inimigos. O irmão mais velho que regressa do trabalho no campo, argumenta em termos de retribuição e protesta contra o irmão e o pai.
O texto bíblico é de um bom humor delicioso e sanador. Mostra com finura que nós somos surdos como Jonas. Não ouvimos, não porque Deus não fale; não escutamos simplesmente porque relutamos em fazer a Sua vontade. Não nos damos conta nem queremos nos dar conta de que a sua Misericórdia contraria a nossa lógica. Nós achamos que, quando Deus nos perdoa, não faz mais que sua obrigação. Queremos ser tratados com misericórdia, mas quando são os outros a serem tratados com a mesma misericórdia escandalosa com que fomos tratados, achamos que isso fere a justiça.
Deus nos envia para um lugar, mas nós fugimos para Társis, para longe da presença do Senhor. E ainda reclamamos de esgotamento!
Jonas tem burnout agudo. Ele passa boa parte do livro no sono da morte no fundo do navio, morto no ventre da baleia, irritado e amargurado com Deus ou de cabeça quente. Ele nos faz rir de nós mesmos. Em vez de fazer dramas por tudo e por nada, Jonas continua nos dizendo que há um Deus que nos ama, que vale a pena sermos anunciadores da esperança, que devemos evitar sermos pregoeiros de desgraças e de tragédias.
O livro bíblico do profeta com burnout nos chama a viver o dom de Deus até o fim, na fragilidade, na fraqueza, na tentação. Os problemas podem variar na sua gravidade, na sua frequência, na sua intensidade, mas a graça vai nos acompanhar sempre. O bom humor deste livro nos ajuda a acolher com serenidade e com confiança em Deus as nossas crises pessoais. Carregamos o tesouro em vasos de barro.