Meu irmão, minha irmã!
Mt 25,31-46
O evangelho nos fala de Jesus como pastor que separa ovelhas de cabritos. É uma imagem desconcertante: Jesus sempre falou de si como o bom pastor que reúne as ovelhas em tono de si. Agora ele fala de si como pastor que separa e julga.
É uma contradição, ou as imagens do Bom Pastor e do Pastor Juiz devem ser relacionadas?
Nossa vida tem dois tempos diferentes. Vivemos agora o tempo favorável, o tempo da salvação, o tempo do Bom Pastor que cuida de nós e que nos conduz à salvação. Mas a salvação não é um processo automático: ela requer a nossa aceitação. Deus nos criou sem nós, mas não nos salvará sem nós! Por isso chegará um outro tempo que nos porá diante do Cristo Juiz. Nesse segundo tempo não poderemos mais mudar o caminho que tomamos, nem reformar nossas decisões.
Normalmente imaginamos o julgamento como um comparecer frente a um juiz que abrirá o livro onde estão registradas as nossas ações boas e más. Talvez a imagem mais correta seja a do reencontro: será com um amigo do passado ou com o Amado da alma? Não podemos negar que vamos sofrer um julgamento. O julgamento divino, porém, não é extrínseco. Pelo contrário, revela a verdade interior de nós mesmos.
O que o julgamento de Cristo vai revelar sobre nós mesmos? Revelará se nós o encontramos neste primeiro tempo em que vivemos.
Cristo se identifica com os pobres; Ele se identifica com todos os necessitados: tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, estava nu e me vestistes, estava na prisão e me visitastes. Trata-se de uma identificação real e isso é uma surpresa: quem poderia imaginar que Deus se identifique com os necessitados, se não fosse Ele mesmo a revelar tal identificação?
Jesus se identifica realmente com os necessitados, mas não faz isso de maneira evidente. Por isso, os justos perguntam: quando foi que te vimos com fome? Além disso Jesus não fala de justiça, mas de verdadeira caridade. Trata-se de fazer o bem, de ir ao encontro dos necessitados. Jesus não diz que eles merecem a nossa ajuda. Jesus não se identifica com os necessitados porque eles são santos. Jesus se identifica com os necessitados porque são necessitados.
Essa é, de fato, a dimensão divina e verdadeira da caridade: no necessitado está Jesus. Essa presença de Jesus no necessitado é a presença que nos salva.
O juízo final, revelará com toda clareza e evidência que a salvação nós só podemos receber de Jesus. E como podemos encontrar Jesus? Mais uma vez é preciso reafirmar: para encontrar Jesus é preciso procurá-lo onde ele realmente se encontra.
Deus quer realizar os seus desígnios de salvação com a nossa cooperação. Daqui decorre a necessidade de que a manifestação dos seus caminhos tenha esta dimensão de julgamento dos seres humanos e de suas ações.
É preciso estar ciente de que a justiça divina é essencialmente a salvação. No julgamento, Deus aparecerá como aquele que está presente no pobre e necessitado. O julgamento de Deus mostrará o quanto buscamos a Deus. Mais concretamente, o quanto buscamos Deus nos pobres e necessitados.