Aos Irmãos Bispos do Regional Sul 1 da CNBB
Dom Julio Endi Akamine SAC
Avenida Doutor Eugênio Salerno, 140
18035-430 – Sorocaba SP - Brasil
fone/fax: +55 (15) 32216880
Aos padres, diáconos, consagrados e consagradas
Aos fiéis leigos
da Arquidiocese de Sorocaba
Sorocaba, 7 de março de 2025
Agradeço as manifestações de amor crescente ao longo destes oito anos na Arquidiocese de Sorocaba. Vocês revestiram minhas fraquezas com o manto da misericórdia, me sustentaram em minhas incompetências, me aconselharam nos assuntos que meus conhecimentos foram insuficientes, me apoiaram quando o meu vigor fraquejou. Carrego comigo uma dívida de amor impagável.
A todos os que ofendi, ignorei ou decepcionei, peço o perdão e oração.
Tendo sido nomeado Arcebispo coadjutor da Arquidiocese de Belém do Pará, me entristece o fato de ter que me distanciar dos que Deus me fez encontrar. Assim é a vida do bispo: ele precisa lançar raízes e amar de todo o coração os que a ele são confiados, mas deve ter, ao mesmo tempo, o desapego necessário para seguir outros caminhos quando a Igreja o pede. Não é fácil manter o equilíbrio entre o amor e o desapego, a importância de lançar profundas raízes no lugar e de se deixar transportar para onde Deus mandar. Nessa tensão entre a fixação e a mobilidade, entre a casa e a tenda, entre o que amamos e o que iremos amar, está situada a vida cristã. Viver como cristão consiste exatamente em não ter pátria aqui na terra e se sentir em casa em qualquer pátria. Com efeito, “os cristãos vivem na sua pátria, mas como forasteiros. Toda pátria estrangeira é pátria deles, e cada pátria é uma terra estrangeira para eles. Moram na terra, mas têm sua cidadania no céu” (Carta a Diogneto).
Aqui deixo um pedaço de mim e levo comigo um pedaço de vocês.
Com minhas orações,
Dom Julio Endi Akamine SAC
A missa da posse de D. Júlio será celebrada no dia 31 de maio de 2025 às 9h da manhã na Catedral de Belém PA.
O ÁUDIO PODE SER OUVIDO NESTE LINK:
https://www.buzzsprout.com/1108748/episodes/17176406
Meu caro irmão, minha querida irmã,
Agradeço de coração sua atenção em acompanhar os comentários homiléticos publicados no site de Arquidiocese de Sorocaba, no serviço Gotas da Palavra, na Rádio Cantate e em outros meios.
Eu comecei essas meditações da liturgia da Palavra para dar continuidade aos comentários bíblicos do meu antecessor, Dom Eduardo Benes. Ao concluir esta jornada de 8 anos, fiz algumas experiências, algumas delas gostaria de partilhar com você.
A sagrada escritura é como uma fonte,ela sacia a nossa sede infinita de Deus. Dela bebemos sem esgotá-la e podemos voltar a ela todos os dias, com alegria, sabendo que sua torrente não seca, como fonte perene, sempre deixaremos mais do que podemos tomar.
O salmo diz: a minha alma tem sede de Vós, minha carne deseja, vos deseja como terra sedenta e sem água.
A sagrada escritura é floresta de diversidade infinita de significados e de densidade de sentidos. Como uma selva obscura, nela não nos adentramos sozinhos. Contamos sempre com a orientação milenar da Mãe Igreja, que tem meditado a Bíblia, estudado, vivido, testemunhado até o sangue.
O salmo 118 diz: ensinai-me a viver vossos preceitos, quero guardá-los até o fim. Com a sagrada tradição, a sagrada escritura é um rio que tem sua nascente em Deus e nele desembocá. Esse rio, caudaloso, é formado pela vida de inumeráveis gerações que ouviram a palavra de Deus, a gravaram do coração, a viveram com alegria e a transmitiram com o próprio testemunho.
O salmo 118 ainda diz: transborda em toda a terra o vosso amor, ensina-me, Senhor, vossa vontade.
Como espada que penetra na alma separando articulações e nervos, a escritura julga nossas atitudes e faz a separação entre o pecado e a graça, entre o bem e o mal, ela tira as máscaras e desnuda as aparências, provocando uma salutar e purificadora dor, a escritura provoca crise, ameaça, adverte com a perdição, corrige com misericórdia e com firmeza.
O salmo 51 diz: mostrais assim, quanto sois justo na sentença e quanto é reto o julgamento que fazeis.
A palavra de Deus é oceano profundíssimo, no qual a inteligência não fica paralisada, mas no qual a inteligência pode imergir com trepidação e assombro. Como oceano profundíssimo, a palavra preenche a razão humana e a supera com suas imensas riquezas.
Tão impossível quanto sorver o oceano inteiro, assim também é a imensidão dos mistérios presentes na palavra de Deus.
O salmista diz: como anseio pelos vossos mandamentos. Contendo coisas novas e antigas, o antigo e o novo testamento formam uma unidade incindível. O novo testamento está oculto, prefigurado no antigo e o antigo se torna claro e patente no novo.
O salmista diz: vossa palavra é minha herança para sempre, porque ela é que me alegra o coração.
As leituras proclamadas na liturgia diária são mesa abastecida com generosidade pelo Divino Hóspede, Jesus, que depois de bater na porta, entrar pela porta aberta do coração, serve o pão da vida eterna, que é ele próprio.
Nutridos, robustecidos pelo pão descido do céu, podemos ainda nos deleitar com sua doçura e delicia.
A igreja prepara, nos oferece todos os dias as riquezas da palavra de Deus. Não consigo tudo receber, mas ela está aí diante de mim como promessa e como realidade.
O salmo 23 diz: diante de mim, preparas a mesa e meu cálice transborda.
O outro salmo diz: como é doce ao paladar vossa palavra! Muito mais doce o que o mel na minha boca.
Ao longo destes anos, experimentei que o coração ardia quando o Senhor me expunha o que na sagrada escritura se refere a ele.
É a surpresa de todos os dias, os olhos se abrem e reconheço a presença do Senhor na palavra programada.
Os discípulos de Emaús caminharam o dia todo com Jesus e no momento em que Jesus partiu o pão, seus olhos se abriram e eles foram surpreendidos pela divina presença do ressuscitado.
A eucaristia é, de fato, um caminhar com Jesus que nos explica as escrituras e nos faz cair na conta de uma presença tão misteriosa quanto real e contínua.
Assim, o “estarei convosco”, diz Jesus, tem como consequência o nosso estar aos pés do Senhor ouvindo atentamente a sua palavra.
Meu caro irmão, minha querida irmã, é preciso receber a palavra com gratidão e com alegria partilhá-la.
Foi isso que tentei fazer ao longo destes oito anos.
DOM JÚLIO ENDI AKAMINE