Salmo Responsorial 116(117)R- Ide por todo o mundo, / a todos pregai o evangelho.
Evangelho: João 6,52-59
Naquele tempo 52Os judeus discutiam entre si, dizendo: 'Como é que ele pode dar a sua carne a comer?' 53Então Jesus disse: 'Em verdade, em verdade vos digo, se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. 54Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. 55Porque a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue, verdadeira bebida. 56Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. 57Como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo por causa do Pai, assim o que me come viverá por causa de mim. 58Este é o pão que desceu do céu. Não é como aquele que os vossos pais comeram. Eles morreram. Aquele que come este pão viverá para sempre.' 59Assim falou Jesus, ensinando na sinagoga em Cafarnaum. Palavra da Salvação.
Meu irmão, minha irmã!
At 9,1-20
A leitura narra um evento de extrema importância: a conversão de São Paulo. Trata-se não somente de um acontecimento importante, mas também surpreendente e inesperado: o feroz perseguidor dos cristãos se torna missionário cristão. Aquilo que Saulo combatia se tornou repentinamente a sua vida. Essa mudança inesperada foi operada pela aparição de Cristo que lhe revela que perseguir os cristãos é igualmente persegui-lo. Caído por terra, Saulo recebe como resposta a sua pergunta: “quem és tu, Senhor?”, a declaração: “Eu sou Jesus, a quem estás perseguindo”. Foi essa aparição de Jesus a Saulo que encaminhou sua vida numa direção completamente nova. A força irresistível da aparição de Cristo levou Paulo a dedicar toda a sua vida à missão entre os pagãos.
A conversão é, antes de tudo, uma vitória de Jesus ressuscitado, capaz de “atrair tudo a si”, inclusive um grande inimigo como era Saulo.
Depois da aparição, Saulo entra em Damasco, não mais como perseguidor, mas cego e dependente de outros. Aquele que tinha recebido a autorização de levar os cristãos presos para Jerusalém, foi levado pelas mãos de outros para Damasco. Ele jejua três dias como que se preparando para a cura e a conversão total.
Em Damasco, Ananias tem também uma visão de Jesus que lhe ordena ir ao encontro de Saulo de Tarso. Ananias reage com medo: ele tinha ouvido falar de todo mal que Saulo tinha feito. Jesus, porém, lhe assegura: “Vai, porque este homem é um instrumento que escolhi para mim, a fim de levar o meu nome aos gentios e aos reis, e também aos israelitas. Eu vou lhe mostrar quanto ele deve sofrer pelo meu nome”. Paulo será profundamente transformado pela graça: de perseguidor se transformará em escolhido por vontade soberana de Deus; de pessoa autorizada para prender cristãos em Damasco, se tornará em instrumento à disposição de Deus para levar o nome de Jesus a todos; de causador dos sofrimentos dos discípulos de Cristo, será ele submetido a muitos sofrimentos por causa de Jesus.
Jo 6,52-59
Chama a atenção de todos o realismo das palavras de Jesus. Para os judeus era uma coisa escandalosa ouvir a afirmação segundo a qual deveriam comer a carne de Jesus. Também a nós estas palavras soam de modo muito duro: “como pode ele dar-nos a sua carne para comer?”
Carne e sangue equivalem à totalidade do ser humano (Mt 16, 7; 1Cor 15,50). A articulação em dois elementos constituintes permite o simbolismo do comer e do beber. No AT “comer a carne” significava hostilidade destrutiva (Is 9,19; Sl 27,2), canibalismo desesperado (Jr 19,9); ser comida a carne e bebido o sangue é o final macabro das hostes de Gog (Ez 39,17). Não é de estranhar que o ensinamento de Jesus tenha escandalizado aqueles que caem no equívoco de entender materialmente as palavras.
Jesus poderia ter atenuado a dureza das palavras. Na primeira parte do seu discurso ele tinha falado principalmente da fé: o pão da vida é o pão da fé, fé necessária para ser atraído pelo Pai. Poderia ter explicado que não se tratava de comer a sua carne, mas de aderir a Ele na fé.
Porém em vez de abrandar suas palavras Jesus escolheu insistir no seu realismo: “Se não comeis a carne do Filho do Homem e não bebeis do seu sangue não tereis a vida em vós”. Com estas palavras Jesus nos revela a importância do sacramento em nossa vida.
Jesus não nos deixou somente a fé; deixou-nos também o seu corpo e sangue e toda uma estrutura que forma seu corpo, que é a Igreja. Isto significa que nós temos de ir até Ele como se vai a alguém que é externo a nós, não somente como alguém que vive no íntimo de nós mesmos. Há sempre, na vida espiritual, a tentação de crer que tudo aconteça no íntimo da alma e que as coisas exteriores não tenham importância. Pelo contrário, Jesus insiste tanto na adesão interna quanto na adesão externa a Ele. A fé tem uma expressão externa. Comer a carne e beber o sangue do Filho do homem é algo que vai contra a mentalidade secularista que deseja fazer desaparecer todo sinal de realidade sagrada.
Na eucaristia Jesus se entrega como alimento da vida participada do Pai e que ele comunica aos fiéis. Porém, “comer e beber” não são atos puramente mentais, mas a eucaristia é “verdadeira comida e bebida”. Este é o realismo sensível do sacramento.
A Eucaristia não é um puro rito externo, mas é uma realidade que recebemos do exterior e se torna em nós alimento de vida interior.