Queridos irmãos, queridas irmãs,
O povo de Israel cultivava no tempo de Jesus a ideia de um messias salvador, mas segundo critérios dos poderosos reinos deste mundo. E muita gente desconfia ser Jesus o tal. A conversa se trava entre Jesus e seus discípulos a caminho. E discípulos, somos nós agora, também fazendo um caminho com Jesus.
Neste caminho, Jesus faz uma espécie de sondagem de opinião sobre sua pessoa e sua missão. Informam-lhe que as opiniões entre o povo se dividem. Acham que Jesus é algum personagem histórico e famoso que reapareceu: talvez João Batista, ou Elias, ou outro profeta. “E vocês? O que dizem?”, pergunta Jesus. Pedro não titubeia: “Com certeza, o Messias”. Jesus, por sua vez, proíbe “severamente” que fiquem espalhando isso por aí afora. Isso, o que? Que Jesus é o Messias. Mas que Messias? Certamente o falso “messias” que Pedro tinha na cabeça.
A partir das críticas e resistências que vinha já sofrendo por parte das autoridades religiosas judaicas, Jesus trata logo de informar os seus discípulos sobre o seu destino e, consequentemente, em que consiste de fato o seu messianismo: “E começou a ensinar-lhes que era necessário o Filho do Homem sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, sumos sacerdotes e escribas, ser morto e, depois de três dias ressuscitar” (Mc 8,31).
Pedro, ainda com a ideia triunfalista de um messianismo poderoso, reage na hora, chama Jesus à parte e “começa a censurá-lo”. Jesus, por sua vez, responde com palavras duras: “Vai para trás de mim, satanás! Não tens em mente as coisas de Deus, e sim, as dos homens”. Não se trata de um ataque pessoal a Pedro com certeza, mas ao padrão triunfalista de falso messianismo alojado no seu corpo. Pedro tem que abrir mão dessa mentalidade que tenta obstaculizar o caminho do Mestre, o caminho do sofrimento, da rejeição, da cruz, do total desapego e, consequentemente, da vitória da vida. Pedro deve seguir o exemplo do Mestre! Por isso Jesus completa: “Se alguém quer vir após mim [o caminho é este!], renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me! Pois quem quiser salvar sua vida a perderá; mas quem perder sua vida por causa de mim e do Evangelho, a salvará”. Esse é o caminho da salvação messiânica: desapegar-se de tudo, até da vida!
Interessante que tal destino do Messias-Servo Jesus já fora anunciado pelo profeta Isaías, a cerca de 500 anos antes. Ele, o Servo, confiando somente em Deus seu Auxiliador e, por isso, desapegado de tudo, não se deixa abater, não desanima com as terríveis torturas sobre seu corpo. Em Deus ele se firma, certo de que com Ele vai superar toda humilhação.
Ser cristão é seguir Jesus pelo caminho do sofrimentos. Não existe fé cristã sem via-sacra. E isso, não é pelo prazer de sofrer, mas porque é preciso enfrentar a injustiça e tudo quanto se opõe aos valores do Reino!
Cristo nos deu o exemplo. Nele confiamos. Tendo em vista sua vitória sobre a morte, com Ele ressuscitaremos para uma vida nova!
Um bom domingo.
Pe. Manoel Júnior, pároco das paróquias S. Benedito e Sta. Teresinha, Cerquilho SP