Naquele tempo, disse Jesus:
27As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. 28Eu dou-lhes a vida eterna e elas jamais se perderão. E ninguém vai arrancá-las de minha mão. 29Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai. 30Eu e o Pai somos um.' Palavra da Salvação.
Eu sou a porta. Uma das chaves de leitura mais belas da liturgia deste Domingo Pascal é o reconhecimento de Jesus como Salvador e Senhor. É necessário entrar pela porta para encontrar alimento, repouso, paz. E a porta é Cristo. De fato, uma porta estreita, pois sempre reivindica de nós a caridade que impele o Coração do Senhor, a caridade do amar até o fim, mesmo à custa do sacrifício de si mesmo. Vida doada, para regatar e salvar. Vida nunca perdida, pois cada gota de suor derramada em favor daqueles por quem Deus tem predileção é como uma semente plantada para a vida eterna.
É assim o pastoreio de Jesus. Deve ser assim o pastoreio dos discípulos do Senhor.
A comunidade cristã, para ser conforme o coração de Cristo, não pode ocupar o Seu lugar, mas precisa antes de tudo reconhecer-se como rebanho em busca do alimento derradeiro. Como a vontade do Pai alimentava Jesus, assim também, o alimento do rebanho de Cristo precisa ser a vontade do Senhor: Ide e fazei de todos os povos discípulos meus, batizando-os! E aqueles que foram constituídos pelo Senhor para ministros do Evangelho não o foram para benefício próprio, pois se assim agirem se identificarão com o ladrão e o salteador que se apropriam das ovelhas naquilo que não lhes pertence. Foram constituídos para levar até Jesus. Para conduzir a Cristo. De modo que as ovelhas possam reconhecer na voz do Senhor que as chama continuamente, o próprio Deus que deseja dar-lhes a paz.
Profeticamente, na primeira leitura, São Paulo anuncia o chamado de Deus à Igreja nascente: ser luz até os confins do mundo, isto é, ser luz para todos. Não uma luz colocada debaixo da cama, escondida numa casa segura, mas um verdadeiro farol aceso no meio da tempestade para trazer quem desejar ao porto seguro da salvação. Esta também era a vocação de Israel, mas desviou-se. O salmista canta a verdade que proclama que somente Deus é o pastor do seu povo; disto advém o desafio de sempre levar para Cristo, mesmo que os instrumentos sejamos nós com nossas limitações humanas. A visão de João anuncia a consumação do pastoreio do Senhor no fim de tudo: hoje conduzimos por Cristo, um dia, Ele mesmo o fará e sustentará para todos a Vida para sempre. Suas ovelhas jamais se perderão, pois não veio para descartá-las, mas para regenerá-las no perdão.
Pastorear como Jesus significa, portanto, resgatar, regenerar e esforçar-se para não perder ninguém. Sem descartar ninguém. A ideia de uma sociedade que descarta e instrumentaliza as pessoas não corresponde ao Evangelho de Cristo, e sua comunidade de discípulos e missionários será cobrada desta fidelidade.
Este Domingo é uma oportunidade única na liturgia para que todos na Igreja, membros de Cristo e povo de Deus, se convertam à vocação celeste, ao lugar que Jesus Cristo conquistou para todos, ao preço do derramamento do seu Sangue Precioso, isto é, de filhos de filhas de Deus, membros da sua família divina, rebanho do Senhor. Lá, na eternidade, no dia sem fim, viveremos sob a égide de uma única paternidade, pois há um só Pai e Deus, um com seu Filho Unigênito, o Senhor Jesus Cristo, na força do Espírito Santo.
Que nossas ações litúrgicas antecipem o Céu para nós!
Santo Domingo!
Padre Rodolfo Gasparini Morbiolo
Paróquia Santa Maria dos Anjos - Sorocaba/SP