At 4,1-12
O milagre realizado por Pedro e João e sobretudo o discurso de Pedro provocam a reação hostil das autoridades judaicas. Conforme diz o texto: as autoridades judaicas estavam irritadas, por um motivo bem específico: “porque ensinavam o povo, e anunciavam em Jesus a ressurreição dos mortos”. Quem eram essas autoridades e em que elas discordavam do anúncio dos apóstolos.
São dois grupos políticos religiosos: os fariseus e os saduceus. Os saduceus são os encarregados da administração do templo e por isso são eles que promovem a detenção dos apóstolos Pedro e João que fizeram a cura e pregavam no espaço do templo. O outro grupo é o dos fariseus ou doutores da lei. Eles se distinguem quanto a fé na ressurreição. Os saduceus, seguindo a antiga tradição bíblica, não acreditavam na ressurreição e por isso se sentem incomodados com a pregação da ressurreição de Pedro e João. Os fariseus, por sua vez, creem na ressurreição no último dia, mas eles não podiam aceitar que Jesus tivesse já ressuscitado e que as pessoas pudessem participar desde já da ressureição por meio da fé e Jesus.
Assim os dois grupos rivais, quanto a fé na ressurreição, se sentem alarmados diante do que pode acontecer. Eles se preocupam porque tem que enfrentar de novo Jesus, que julgavam já eliminado para sempre. Irritam-se porque seus discípulos continuem a pregação e a ação do Mestre.
Os sacerdotes, o comandante da guarda do templo e os saduceus tomam a iniciativa de ir prender os apóstolos no templo diante da massa de gente que os escuta. Como já é noite, não podem fazer logo o julgamento e deixam presos os presumidos réus. Na manhã seguinte se reúne o Grande Conselho. Estão presentes Anás e Caifás, sumos sacerdotes, que estiveram implicados na morte de Jesus. Os outros são: João, Alexandre e todos os que eram da linhagem do sumo sacerdote. Como se pode notar, é dada grande importância ao que os apóstolos realizaram no âmbito de templo.
E começa o interrogatório que se coloca no terreno da cura operada: que sentido tem? De onde procede o poder de curar o enfermo? A quem os apóstolos invocam para fazer a cura?
Pedro faz um breve discurso. Começa dizendo que há uma incongruência entre o que eles fizeram e a acusação levantada contra eles. Eles estão sendo julgados malfeitores por terem feito uma obra de misericórdia, por terem feito bem a um sofredor! Depois Pedro identifica em nome de quem eles agem, Jesus o Messias, o Cristo. Por fim, Pedro inverte os papeis no processo: o réu acusa os juízes de terem crucificado Jesus e afirma que Deus o ressuscitou dos mortos. Como prova da veracidade de sua palavra apresenta o homem curado.
Em seu testemunho diante do Grande Conselho, Pedro faz uma declaração de alcance universal e que vale para sempre, que vale para nós: “em nenhum outro há salvação, pois não existe debaixo do céu outro nome, dado à humanidade, pelo qual devamos ser salvos”.
Nestes dias em que celebramos a ressurreição de Jesus não deixemos de meditar e repetir e de interiorizar essa verdade de fé: “em nenhum outro há salvação, pois não existe debaixo do céu outro nome, dado à humanidade, pelo qual devamos ser salvos”.
Jo 21,1-14
Após a morte e a ressurreição de Jesus, os apóstolos retornaram ao que eles faziam antes do chamado: voltaram ao antigo ofício de pescadores.
Eles se encontram no lago de Tiberíades, no lugar onde viveram com Jesus. A pesca não teve sucesso, e, ao alvorecer, Jesus aparece como a luz do sol nascente que se ergue diante dos olhos cansados destes homens. De novo os discípulos não o reconhecem. Por causa da luz da aurora? do reflexo do sol na água do lago?
Não são somente estes os motivos: a ressurreição é um fato transcendente; por isso, é preciso que Jesus se revele para que os discípulos possam reconhecer o Ressuscitado. A fé na ressurreição não foi a conclusão natural de raciocínios humanos, mas é dom que só o Ressuscitado pode despertar.
Jesus se faz reconhecer nos seus gestos: a pesca milagrosa, o convite à refeição, o oferecimento do pão e do peixe. Por estes gestos tão conhecidos, os discípulos podem constatar que se trata do mesmo Jesus que com eles percorreu as estradas da Judéia, pregando o Evangelho e curando todo tipo de doença; é o mesmo Jesus que comia com os pecadores, oferecendo-lhes o perdão; é o mesmo Jesus que multiplicou os pães e os peixes; o mesmo que realizou a pesca milagrosa!
É extraordinária a delicadeza de Jesus para com os discípulos. Ele prepara os discípulos através destes gestos antes de manifestar toda sua glória de ressuscitado. Depois da ressurreição, Jesus manifesta toda a glória de Filho de Deus, mas não a manifesta de uma vez. Antes, prepara pedagogicamente seus discípulos.
Os relatos das aparições nos ensinam muito sobre a natureza da ressurreição. Pensamos quase espontaneamente que ressurreição nos afaste de Jesus: Ele está na glória e nós aqui, neste vale de lágrimas; Ele está no céu, nós aqui na terra; Ele na eternidade, nós na história contingente. Contudo, o Evangelho nos ensina que a ressurreição não nos afastou dEle: agora Ele está mais presente, mais enviado, mais encarnado do que nunca. Sua presença não está mais sujeita aos condicionamentos de tempo e de espaço: Ele não é impedido pelas portas fechadas, está em todos os lugares ao mesmo tempo.
A presença de Jesus é universal e divina, mas é também uma presença com a mesma humanidade assumida na encarnação. Ele não se separou da humanidade: os discípulos podem tocar suas chagas, podem comer com Ele de novo.
Assim a ressurreição nos ensina a não procurar Jesus somente na glória externa. Pelo contrário, somos chamados a procurar a glória divina na humanidade glorificada de Jesus.
A consequência direta deste mistério é que podemos encontrar Jesus nos irmãos: Jesus se faz semelhante a eles na ressurreição. Somos chamados a procurar o Ressuscitado nos pobres: é neles que devemos reconhecer a glória do Senhor e a potência da sua ação divina que cumpre suas maravilhas nos humildes e simples. Durante sua vida terrena, Jesus se solidarizou, se aproximou e se identificou com os pobres. Com a ressurreição Jesus chega ao ápice de solidariedade, de proximidade e de identificação com os pobres ao ponto de poder dizer: “o que fizestes a um destes pequeninos a mim o fizestes”.