António Rego Chaves/Que ler nas férias? Sete propostas para o Verão

Um livro mágico:

«Rosa do Mundo

2001 Poemas

para o Futuro»

Costuma ler nas férias? Se sim, que vai ler nas deste ano?

Comecemos pelo princípio. Se lhe dizem que tem complexos de profundidade, assuma-os – há quem fale de complexos de esquerda, por que motivo não falaríamos nós de complexos de profundidade, se existem, oh se existem, esquerda e direita, tal como existem profundidades e futilidades –, e leve um livro encantado para um tugúrio sem tele-visão, tele-fonia, tele-móvel.

Leve um livro ímpar com dois mil e um raios de sol e quase outras tantas páginas, Rosa do Mundo/2001 Poemas para o Futuro, assim lhe chamou Manuel Hermínio Monteiro, o editor que ousou sonhá-lo e dar-no-lo a ler – e só por isso bem merecia ter cumprido outro destino, não ter partido tão escandalosamente cedo. Leve o livro e leia-o, nem que seja um poema por dia. Um poema por dia: uns minutos, uma hora, às vezes 25 horas por dia chegam para ler um poema. Abra ao acaso, mas não desista, leia. O Canto da Cerimónia da Serpente-Antílope, na versão de Herberto Helder. A tradução que João Barrento fez de As Palavras da Fé, da autoria de Friedrich Schiller. O Soneto já Antigo, de Álvaro de Campos. Leia o que quiser, tudo o que quiser, nada mais do que quiser, mas leia com olhos de ler, sem pensar em dinheiro, na revisão do carro, no regresso ao trabalho.

Nada neste livro é «chato». E, garanto-lhe, tudo é bem mais humano do que aquilo que aprendeu nas duras e sórdidas batalhas que travou ao lutar pela sobrevivência e para conquistar o lugar ao sol a que todos temos direito – até nas férias.

Não o (a) convenço? Então, a Ilíada e a Odisseia, a Bíblia, A Divina Comédia, que tal? São «pesados», não são livros para férias? Olhe que são, e nenhum deles é «chato». «Chato», «chato» a valer, é viver sem os ler. Morre-se na miséria, mesmo que dourada. Morre-se nessa miséria que nada tem a ver com escudos, euros ou dólares – embora a ausência de moedas possa fazer doer o corpo e a alma acima de qualquer advérbio. Há quem seja capaz de dar lições vividas sobre tal matéria, mas não cabem nesta coluna.

Peço-lhe: não leia quando estiver esparramado(a) ao sol. Olhe os livros, melhor, veja-os, decifre-os, ame-os à luz da Lua, noite fora. Talvez só assim eles se lhe entreguem. E pode ser que o tempo e o modo da sua vida se tornem um pouco mais belos. De facto, um poema, um certo poema, um único poema, é susceptível de ter mais peso do que um quilo de ouro. Claro que ninguém vai tomar à letra tal «absurdo» e que toda esta carta é ridícula, não é mesmo? Tão ridícula como qualquer nunca ridícula carta de amor escrita por Fernando Pessoa…

Diários íntimos:

Miguel Torga

Vergílio Ferreira

José Saramago

Alguns dos nossos maiores escritores do século XX, como Miguel Torga, Vergílio Ferreira e José Saramago, não desprezaram o diário, revelando-nos, em textos por vezes «confidenciais», mas escritos para publicação, facetas das suas personalidades dificilmente detectáveis nas obras de ficção que os celebrizaram.

Talvez o interesse do diário resida, sobretudo, nesse conhecimento, posto ao alcance do leitor, do homem de carne e osso que é o escritor. Neste contexto, não será escandaloso afirmar que todo o leitor de diários é, em certa medida, um voyeur – o que talvez faça supor, também, que todo o autor de diários seja, em certa medida, um exibicionista que, como todos os exibicionistas, só exibe o que quer exibir, mas não pode passar sem o «vício» de dar mais de si do que julga possível numa obra de ficção, por muito autobiográfica que esta seja.

O diarista só nos revela o que entende dever revelar-nos, ocultando-nos aquilo que entende dever ocultar-nos e abandonando às entrelinhas do seu texto a dor demasiado dolorosa para ser narrada, a declaração impudica, a humilhação que decidiu guardar apenas para si. Uma «confissão» fica sempre longe de ser uma «entrega» ao leitor – mesmo nos casos de Jean-Jacques Rousseau, Oscar Wilde ou Thomas Mann…

Interessante é notar que, se o diário beneficia a imagem de alguns dos seus autores, diminuiu a de outros. Por exemplo: diminui Vergílio Ferreira, engrandece Torga e Saramago. Porquê?

Certo é que Vergílio Ferreira aliou, paredes meias, na Conta-Corrente, a maior profundidade como pensador à mais deplorável mesquinhez para com aqueles que considerava seus «rivais» entre os ficcionistas. Torga e Saramago são de outra estirpe, não se deixam dominar pela intriga, pela inveja, pelo rancor. Os 16 volumes do Diário representam talvez – passe a «heresia» – o melhor que o poeta de São Martinho de Anta escreveu, juntamente com A Criação do Mundo. Quanto a Saramago, os cinco Cadernos de Lanzarote desvendam-nos um escritor-cidadão ou um cidadão-escritor capaz de se indignar, não apenas com as injustiças de que é vítima, mas sobretudo com aquelas de que outros, seus irmãos, vão sendo vítimas pelo mundo fora. Um ser que sabe o que é o amor, a amizade, a solidariedade – e que é capaz de chorar tanto a morte dos seus entes queridos como a dos homens, mulheres e crianças chacinados num longínquo continente africano, americano ou asiático. Não é pouco: talvez seja, mesmo, o que mais enobrece quem possui o dom, não apenas de transmitir ideias, mas de partilhar connosco os seus afectos. Que mais pedir a quem escreve?

«O Banquete»

de Platão

ou o amor além

do banho de mar

As férias de Verão convidam ao amor? Dir-se-ia que sim porque são inúmeras as ligações que começam na praia, entre banhos de mar; dir-se-ia que não porque, muitas vezes, tais relações acabam onde começam, uma vez que os intervenientes, passado o «devaneio», regressam à rotina e ao(à) antigo(a) namorado(a).

Dados este factos, que tal levar para férias O Banquete (Discurso sobre o Amor), de Platão?

Vários oradores discorrem sobre o Amor. Fedro considera que ele é o deus que mais bem faz aos homens e que mais os aperfeiçoa. Pausânias faz a apologia da homossexualidade masculina. Erixímaco define-o como a união e harmonia dos contrários, sejam o frio e o quente, o seco e o húmido, o amargo e o doce. Chega então a vez de Aristófanes, cujo discurso constitui um dos momentos mais altos do diálogo.

Conta Aristófanes que, outrora, havia três espécies de humanos: o homem duplo, a mulher dupla e o homem-mulher, ou andrógino. Zeus castigou-os a todos, porque pretendiam escalar o céu: dividiu-os ao meio. A partir desse momento cada metade passou a procurar a sua metade e, quando se encontravam, abraçavam-se com tal desejo que se deixavam morrer de fome e de inacção. Zeus, então, colocou na parte da frente do corpo os órgãos reprodutores, que tinham ficado atrás. Assim, homens e mulheres puderam apaziguar os seus desejos e dar origem a novos seres. Cada um de nós não é, portanto, senão uma metade que procura a sua outra metade. Os que provêm dos andróginos amam o sexo diferente, as mulheres da dupla mulher primitiva amam as mulheres, os homens do duplo homem primitivo amam os homens. Quando cada metade encontra a sua metade, não quer mais separar-se dela, aspirando a refazer assim a unidade perdida.

A seguir falam Agatão e Sócrates. Agatão faz uma inflamada defesa do Amor que, segundo afirma, comunica aos homens a beleza e a bondade. Sócrates dirá que o Amor é o amor do bem e do belo, que são inseparáveis. Superior ao amor entre os corpos é o amor entre as almas, mas superior a estes é o amor por todos os belos corpos e por todas as belas almas, o amor pela ciência, o amor pela filosofia, até não vermos senão um saber, o da beleza absoluta, ideal, eterna. Viver para contemplar essa beleza é a única vida digna de ser vivida.

Voltemos ao discurso de Aristófanes, mais estival: que cada um encontre, em férias, a metade que lhe falta – se lhe falta –, homem ou mulher. E que, em qualquer caso, não se fique por amar um corpo, que saiba descobrir e amar a alma que nele habita…

Vergílio Ferreira:

mensagem final

de desesperança

a todo o futuro

Um livro póstumo de Vergílio Ferreira será sempre um texto a não ignorar. Escrever, agora publicado, que acrescenta ao homem ou à obra?

Em relação à obra, os temas da velhice, da morte e de Deus têm um passado incontornável, que o autor tão bem conhecia – seja ele marcado pelos nomes de Séneca, Cícero ou Marco Aurélio, seja pelos de Montaigne, Pascal ou Unamuno. Que faz Vergílio Ferreira? Sabe que vai morrer, morrerá zangado com os homens e com o mundo – um mundo que já não teria literatura, nem filosofia, nem artes plásticas, nem cinema capazes de o encantar, um mundo em que a vida já não mereceria ser vivida. O amor, a amizade, a bondade, que são para o escritor, no fim do século XX? Caricaturas do passado, esgares, poses grotescas. A cada frase, a amargura domina este Escrever que, tal como os novos volumes da Conta-Corrente, embora com menos persistência, se encontra indelevelmente manchado por um incontido rancor em relação aos seus pares.

Este é, pois, mais um livro do ressentimento. Por isso é pena que seja apresentado como a última palavra do grande escritor que foi Vergílio Ferreira. O cepticismo, o pessimismo, o cinismo, poderão ter um efeito de boomerang – e, se isso suceder, atingirão a figura de um intelectual aparentemente incapaz de admirar qualquer dos ficcionistas portugueses seus contemporâneos e propenso a fazer girar toda a cultura ocidental em volta do seu solitário «eu». Montaigne, Pascal e Unamuno não andaram muito longe deste último egotismo? Talvez, mas esses possuíam o génio de transfigurar os seus dilacerantes dramas pessoais em tragédia da condição humana. E a fraternidade – tão difícil de detectar no último Vergílio Ferreira – não está ausente dos Ensaios de Montaigne, nem dos Pensamentos de Pascal, nem do Diário Íntimo de Unamuno. Talvez também por isso eles tenham perdurado como referências para o século XXI.

O Universo prossegue a sua marcha quando a vida de cada um de nós acaba, indiferente a todos os «eus» desaparecidos, mesmo que eles tenham esperado ou exigido a ressurreição da carne anunciada pelo cristianismo. Vós que ficais na Terra abandonai toda a esperança? Se é essa a derradeira mensagem de Vergílio Ferreira, como parece ressaltar de Escrever, onde se afirma que «depois da nossa morte o mundo não existe, como não existia antes de nascermos», é porque o escritor se foi «esquecendo», com a idade, de amar o próximo como se amou a si mesmo. Esse terá sido o mais grave «pecado» porventura cometido pelo mero homem de carne e osso que foi, por maior que tenha sido a obra que nos legou…

Baptista-Bastos:

o secreto adeus

a uma liberdade

sempre vigiada

Penso que O Secreto Adeus, de Baptista-Bastos, é o livro de ficção mais importante que se escreveu em Portugal sobre jornais e jornalistas. Obra datada? Claro que sim, porque editada pela primeira vez em 1963, sob o ferrete da censura oficial. Obra ultrapassada? Claro que não, porque a liberdade de Imprensa está longe de existir, ainda hoje, em empresas que, sejam estatizadas ou privatizadas, nunca se dão ao luxo de permitir que a sensibilidade, a ideologia ou as convicções de vulneráveis jornalistas-assalariados ameacem os interesses políticos ou económicos dos seus proprietários.

Baptista-Bastos dizia, num prefácio publicado em 1973, que esta «pretendeu ser a narrativa de um luto, de uma reclusão e de uma ausência, itens de suicídio civil e da mais atroz das solidões: a política.» Tantos anos depois do 25 de Abril, não creio que tais palavras tenham perdido o sentido para todos os que, na Imprensa, na Rádio ou na Televisão, viram substituída a censura oficial pela autocensura, o medo de ser silenciado pelo medo de não ir além do recibo verde, a esperança de tudo mudar para melhor pela certeza de que tudo vai para pior, por obra e graça da globalização e da net.

A grande questão que se põe ao cidadão-jornalista é, ontem como hoje, só esta: até onde pactuar, que cedências fazer, de que é possível abdicar sem o redactor se trair a si mesmo e sem trair aqueles que o lêem? Durante o regime salazarista, houve de tudo: quem nunca se fizesse a pergunta, quem, formulando-a, escolhesse o seu bem-estar e, finalmente, quem arriscasse no dia-a-dia, gesto a gesto, palavra a palavra, ser votado ao ostracismo pelas altas instâncias empresariais. A personagem central de O Secreto Adeus, o jornalista Álvaro Moreira, deixar-se-á lentamente corromper pelo sistema, até acordar para a crua realidade da sua condição: e recusará voltar a jogar o jogo em que foi envolvida, talvez porque tenha intuído que, com maior ou menor dignidade, sairia sempre vencida. Diz adeus ao jornalismo e remata: «Vou escrever. Vou escrever um livro, sobre esta gente que odeio e respeito. Ninguém pensará por mim, nem escreverei aquilo que os outros pensam.»

Baptista-Bastos criou este belo e implacável livro a que se refere a sua personagem – mas sem deixar o jornalismo. Pagou a ousadia, antes e depois do 25 de Abril, com anátemas patronais e desemprego. Hoje, cabe a outros ficcionistas dizer, preto no branco, em que se transformou a Imprensa: decerto surgirá alguém que, com idêntica coragem cívica, mostre ao que chegámos em 2001. Que os deuses o protejam, como não o protegeram a ele, da ira dos senhores do mando…

«Assim Falava

Zaratustra»:

a imensa festa

do espírito livre

Gosta de Nietzsche? Deixe para trás as ideias feitas, os preconceitos, as diatribes de quem nunca o leu ou o tresleu. Vá com Assim Falava Zaratustra para férias. Lenta, lentamente, leia. Atenção: olhe que tem entre mãos um longo e admirável poema. Se quiser andar depressa, perde-se; se for muito humilde, talvez o descubra. A escolha é sua.

Este livro é um grande luxo, uma imensa festa, um astro radioso. O génio brilha em cada uma das suas páginas, talvez como em nenhuma outra obra do homem que ousou dizer: «Que procuramos nós? O repouso, a felicidade? Não, nada mais do que a verdade, por muito aterradora e má que ela possa ser…»

«Zaratustra» – escreveu o seu autor – «é um livro para todos e para ninguém». Um novo Evangelho, nem cristão, nem pessimista, nem racionalista, nem moralista, nem socialista. Um desafio radical, intransigente, frontal a todos os «decadentes» valores ocidentais. Uma dádiva do mel da sabedoria dos homens, uma apaixonada defesa da vida contra os valores abstractos, da vontade individual contra a obediência, da alegria contra a angústia. Uma verdadeira revolução do espírito.

Não tenha medo, Zaratustra não o fará menos cristão se é cristão, menos socialista se é socialista: não perderá a fé nem a esperança. Essa não será a menor das suas virtudes: se souber escutá-lo com a atenção, caso se deixe iluminar pelas suas palavras, talvez se transforme num cristão mais cristão, num socialista mais socialista. É que Nietzsche nunca pretendeu gerir, em vida ou além-túmulo, um rebanho de dóceis ovelhinhas à espera da última sentença do mestre para tomar a decisão certa; muito pelo contrário, ele queria tornar todos os homens intensamente livres, autónomos, saudáveis. Saudáveis: portadores de saúde e capazes de a espalhar passo a passo, naturalmente, como uma criança que ri.

Se quiser acompanhar a leitura de Zaratustra por uma biografia de Nietzsche, leve uma das mais notáveis, senão a mais bela, a assinada por Daniel Halévy. Essa a propósito da qual Giovanni Papini nos deixou uma lapidar observação: «Digo-vos, em boa verdade, não conheço, na nossa época, uma vida mais nobre, mais dolorosa, mais solitária, mais desesperada, do que a de Friedrich Nietzsche. (…) Confesso-vos francamente que devo a força desta convicção à biografia simples, clara e penetrante que de Nietzsche escreveu Daniel Halévy. Quem leu esse livro sem se comover – sobretudo perto do fim – é um porco: estou pronto a jurá-lo perante todos.»

Será preciso mais para o (a) convencer de que é urgente conhecer Zaratustra e o seu autor?

«Jean Barois»:

antídoto seguro

para combater

preguiça mental

Discutir Deus não está na moda: a esmagadora maioria dos crentes não discute precisamente porque é crente, a generalidade dos ateus e agnósticos considera também o problema «resolvido» – e portanto poucos são aqueles que escolhem o tema como objecto de reflexão. Daí que seja remar contra a maré propor a alguém que se interesse por Jean Barois, a obra de Roger Martin du Gard. No entanto, este é talvez um dos mais fascinantes livros a que o leitor de língua portuguesa tem acesso (com o título O Drama de Jean Barois) sobre a evolução de alguém que parte das crenças da infância para a descrença e, no final da vida, como o próprio autor escreveu, «reencontra as esperanças consoladoras da sua juventude.»

Ora, se algum sentido faz hoje aconselhar a leitura de Jean Barois – ou mesmo a sua releitura, pois muitos tê-lo-ão conhecido em épocas que já vão longe –, é precisamente porque a obra constitui um salutar convite à dúvida e, portanto, ao repúdio de qualquer forma de preguiça mental, quaisquer que sejam as «certezas» a que chegámos. É que, parafraseando Descartes, a preguiça mental é a coisa mais bem distribuída do mundo…

Certo que Jean Barois previu toda a sua evolução, escrevendo, em plena maturidade, um «testamento espiritual» que desautorizava a sua «conversão» ao ser atingido pela velhice e pela doença e ter de enfrentar a morte; certo, ainda, que a oposição entre razão e fé constitui um terreno escorregadio – e mesmo estéril –, que não leva a aparte nenhuma, porque a razão não pode «domar» a fé, tal como a fé não pode «domar» a razão; certo, finalmente, que tanto os crentes como os descrentes podem encontrar uma merecida serenidade no leito de morte – ou uma terrível e descontrolada agitação. A questão é, portanto, outra, hoje como em 1913, data em que Roger Martin du Gard se arriscou a publicar Jean Barois: ao falarmos de Deus, as perguntas podem ser bem mais importantes do que as respostas. E a inquietação que provoca a pergunta é sem dúvida bem mais legítima e profunda do que a tranquilidade da certeza, qualquer que ela seja, isto é, quer ela afirme, quer negue, quer desconheça Deus.

Eco de uma cultura indelevelmente marcada pelo cristianismo, Jean Barois não pode ignorá-lo ao equacionar um dos grandes problemas que preocuparam todos os grandes pensadores desde que o mundo é mundo e ao lançar a dúvida sobre todas as «soluções» encontradas. Talvez por isso, não estará desactualizada a frase com que André Gide se referiu a Roger Martin du Gard e ao seu polémico livro: «Aquele que escreveu isso pode não ser um artista, mas é um homem ousado.»

Textos publicados no «Diário de Notícias» no Verão de 2001