SEGUNDA-30TC

São Simão e São Judas, Apóstolos

28/10/2024

LINKS AUXILIARES:

 

1ª Leitura: Efésios 2,19-22 

Salmo Responsorial 18(19A) - R- Seu som ressoa e se espalha em toda a terra

 Evangelho Lucas 6.12-19 

Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – 12Naqueles dias, Jesus foi à montanha para rezar. E passou a noite toda em oração a Deus. 13Ao amanhecer, chamou seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de apóstolos: 14Simão, a quem impôs o nome de Pedro, e seu irmão André; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; 15Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado zelota; 16Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, aquele que se tornou traidor. 17Jesus desceu da montanha com eles e parou num lugar plano. Ali estavam muitos dos seus discípulos e grande multidão de gente de toda a Judeia e de Jerusalém, do litoral de Tiro e Sidônia. 18Vieram para ouvir Jesus e serem curados de suas doenças. E aqueles que estavam atormentados por espíritos maus também foram curados. 19A multidão toda procurava tocar em Jesus, porque uma força saía dele e curava a todos. – Palavra da salvação.

 

Meu irmão, minha irmã! 

 

Lc 6,12-19

A Liturgia recorda hoje dois Apóstolos quase desconhecidos. 

Os Doze, símbolo do novo Povo de Deus, foram escolhidos, não com base nas suas qualidades e méritos, mas, como diz Lucas, depois de uma noite de oração, de intensa comunhão com o Pai, quase como se Jesus tivesse buscado o Espírito que seria, depois, transmitido aos chamados, fazendo deles apóstolos. 

Lucas mostra-nos em numerosas ocasiões como a oração era importante para Jesus. Todas as decisões cruciais da vida de Jesus foram tomadas num contexto de oração, desde o Batismo até ao Getsêmani e à Cruz. 

No episódio evangélico de hoje, podemos contemplar Jesus que passa toda a noite em oração porque está prestes a fazer uma eleição que reforçará para sempre a sua ligação com os seus discípulos. Trata-se de um empenho definitivo, porque Ele instituirá com os Doze a sua comunidade messiânica; escolherá as doze colunas sobre as quais edificará a Igreja. Por este Novo Povo de Deus e por toda a humanidade, derramará o seu sangue para o perdão dos pecados. 

Os “apóstolos” – palavra que significa “enviados” – são escolhidos antes da Paixão-Morte-Ressurreição, mas só depois da Páscoa e do Pentecostes a missão deles desenvolverá todo o seu potencial, cumprindo-se plenamente. Antes disso, porém, são chamados a fim de serem formados e preparados para aquilo que os espera, quando o Mestre Se tornar presença no Espírito. A oração, portanto, revela-se como alma da missão.

As notícias que se referem a esses dois apóstolos não são muitas, excetuando o fato de o Cânone neotestamentário conservar uma carta atribuída a Judas Tadeu.

Simão recebe um epíteto que varia nas quatro listas: Mateus e Marcos qualificam-no como “cananeu”, ao passo que Lucas o define como “zelote”. Na realidade, as duas qualificações são equivalentes, pois significam a mesma coisa: na língua hebraica, de fato, o verbo qanà’ significa “ser zeloso”, “dedicado”, e pode referir-se quer a Deus, porque é zeloso relativamente ao povo por Ele escolhido (cf. Ex 20,5), quer aos homens que são zelosos no serviço prestado ao Deus único com dedicação total, como Elias (cf. 1Rs 19,10). Portanto, é possível que este Simão, se não pertencia exatamente ao movimento nacionalista dos zelotes, tivesse pelo menos, como característica, um fervoroso zelo pela identidade judaica, por conseguinte, por Deus, pelo seu povo e pela Lei divina. Sendo assim, Simão se situa na situação oposta da de Mateus, que, sendo publicano, provinha de uma atividade considerada impura, sinal evidente de que Jesus chama os seus discípulos e colaboradores das camadas sociais e religiosas mais diversas, sem exclusão alguma. Ele interessa-Se pelas pessoas, não pelas categorias sociais nem pelos rótulos! E a maravilha é que, no grupo dos seus seguidores, todos eles coexistiam, apesar de diferentes, superando as imagináveis dificuldades: de fato, o motivo de coesão era o próprio Jesus, que a todos unia. Isto constitui claramente uma lição para nós, com a nossa frequente propensão para sublinhar as diferenças, esquecendo que em Jesus Cristo nos é dada força para superar os nossos conflitos. Tenhamos também presente que o grupo dos Doze é a prefiguração da Igreja, na qual devem ter lugar todos os carismas, povos e raças, todas as qualidades humanas, que encontram a sua conciliação e a sua unidade na comunhão com Jesus.

No que se refere a Judas Tadeu, ele é chamado assim pela tradição, unindo ao mesmo tempo dois nomes diferentes: enquanto Mateus e Marcos lhe chamam simplesmente “Tadeu” (Mt 10,3; Mc 3,18), Lucas chama-lhe “Judas, filho de Tiago” (Lc 6,16; At 1,13). O sobrenome Tadeu é explicado como sendo proveniente do aramaico taddà’, que significa “peito” e, por conseguinte, significaria “magnânimo”, ou como abreviatura de um nome grego como “Teodoro, Teódoto”. Dele, poucas coisas chegaram até nós. Só João assinala uma sua pergunta feita a Jesus durante a Última Ceia. Diz Tadeu ao Senhor: “Senhor, como é possível que Te devas manifestar a nós e não ao mundo?” É uma pergunta de grande atualidade, que também nós fazemos ao Senhor: por que razão o Ressuscitado não Se manifestou em toda a sua glória aos seus adversários para mostrar que o vencedor é Deus? Por que razão Se manifestou apenas aos Discípulos? 

A resposta de Jesus é profunda. O Senhor diz: “Se alguém Me tem amor, guardará a minha palavra; o meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos morada” (Jo 14,22-23). Isso significa que o Ressuscitado deve ser visto também com o coração, de modo que Deus possa fazer morada em nós. O Senhor não aparece como um objeto. Ele quer entrar na nossa vida e, por isso, a sua manifestação é uma manifestação que implica e pressupõe o coração aberto. Só assim vemos o Ressuscitado.

Foi atribuída a Judas Tadeu a paternidade de uma das cartas do Novo Testamento, que são chamadas “católicas” porque não se destinam a uma determinada Igreja local, mas a um círculo muito amplo de destinatários. De fato, ele dirige-se “aos eleitos que são amados por Deus Pai e guardados por Jesus Cristo” (v. 1). A preocupação central deste escrito é pôr de sobreaviso os cristãos contra todos os que, com o pretexto da graça de Deus, desculpam a própria devassidão e desviam outros irmãos com ensinamentos inaceitáveis, introduzindo divisões dentro da Igreja “deixando-se levar pelo seu delírio” (v. 8, ou seja, doutrinas e ideias erradas que são ensinadas para justificar o pecado). Ele compara esses pecadores que “seguiram pelo caminho de Caim” (v. 11) aos anjos caídos. Ele classifica esses propagadores de falsas doutrinas de “nuvens sem água que os ventos levam; árvores de outono sem fruto, duas vezes mortas, desenraizadas; ondas furiosas do mar que repelem a espuma da sua torpeza; estrelas errantes condenadas à negrura das trevas eternas” (vv. 12-13). 

Vê-se bem que o autor destas frases vive plenamente a própria fé com integridade moral, alegria, confiança e louvor, sendo tudo isto motivado apenas pela bondade de Deus e pela misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo.

Tanto Simão, o Cananeu, como Judas Tadeu nos ajudam a redescobrir cada vez mais e a viver incansavelmente a beleza da fé́ cristã, sabendo dar um testemunho forte e simultaneamente sereno da mesma.


DOM JULIO ENDI AKAMINE 

Arcebispo Metropolitano de Sorocaba 

Créditos do áudio: Rádio Uniso