DOMINGO-30TC

30º DOMINGO DO TEMPO COMUM -  ano B

27/10/2024

LINKS AUXILIARES:

 

1ª Leitura: Jeremias 31, 7-9

Salmo Responsorial 125(126)R- Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!

2ª Leitura: Hebreus 5,1-6

Evangelho de Marcos 10,46-52         

Chegaram a Jericó. Quando Jesus estava saindo da cidade, acompanhavam-no os discípulos e uma grande multidão. O mendigo cego, Bartimeu, filho de Timeu, estava sentado à beira do caminho. 47 Ouvindo que era Jesus Nazareno, começou a gritar: “Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim”. 48  Muitos o repreendiam para que se calasse. Mas ele gritava ainda mais alto: “Filho de Davi, tem compaixão de mim”. 49          Jesus parou e disse: “Chamai- o!” Eles o chamaram, dizendo: “Coragem, levanta-te! Ele te chama!” 50 O cego jogou o manto fora, deu um pulo e se aproximou de Jesus. 51       Este lhe perguntou: “Que queres que eu te faça?” O cego respondeu: “Rabûni, que eu veja”. 52         Jesus disse: “Vai, tua fé te salvou”. No mesmo instante, ele recuperou a vista e foi seguindo Jesus pelo caminho. 


Prezados irmãos e irmãs!

Há uma canção de Roberto e Erasmo Carlos que eu vivia cantarolando nos meus tempos de jovem, quando tomado por alguma tristeza ou decepção, em que o poeta compositor da letra fala de alguém que, por conta de uma decepção amorosa, desistiu de viver e ficou sentado à beira do caminho, onde até a poeira é triste.

A dinâmica da vida nos impele a caminhar! Quem não se deixa contagiar por esse dinamismo, acaba ficando fora do processo! A letra da canção mostra bem esse sentimento de que não existimos, quando a pessoa a quem amamos permanece indiferente: "Preciso lembrar que eu existo....". 

Quem é esse cego Bartimeu, mendigando amor à beira de um caminho, senão o próprio homem, que não conhecendo a Deus revelado em Jesus, lhe permanece indiferente? A pós-modernidade oferece ao homem muitas "luzes" na ciência, na tecnologia, no avanço das pesquisas; acontece que o ser humano, apropriando-se desses bens, que são dons de Deus, julga ver tudo, compreender tudo, e sentindo-se senhor absoluto da situação, pensa e faz o que quer, usa sua liberdade da pior maneira possível e fazendo coro ao racionalismo dos intelectuais, decreta a morte de Deus. 

Entretanto, um belo dia este homem prepotente e arrogante, irá descobrir-se como este cego de Jericó. Tem tudo, mas não tem a graça de Deus, que Jesus trouxe com a Salvação. Nesse sentido não se conhece, porque não conhece a Jesus, é cego, porque não viu em sua vida a luz da verdade, está à margem da verdadeira vida, é um milionário mendigando um pouco de amor àquele que é amor.


É de um coração e uma alma ferida pela descrença, agonizante de vida e esperança, é que sai esse grito de Bartimeu, ao saber que Jesus de Nazaré passava por ali, bem ao lado de onde ele expunha, aos que passavam, a sua miséria vergonhosa. "Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!". Foi assim que Jesus, o Verbo Encarnado de Deus, encontrou o homem, morto pelo pecado, andarilho e mendigo à beira da estrada da vida, sem forças para caminhar, em sua cegueira tenebrosa. No canto da Verônica, no caminho do calvário, inverte-se esse quadro e Jesus ocupa o lugar que é do homem: "Oh Vós todos que passais, vinde ver se há uma dor igual a minha..."


Na verdade, é a humanidade toda que estava à beira do caminho, sucumbida em sua miséria. Quem passa é Jesus, que não fica indiferente às nossas chagas e feridas, como o Sacerdote e o Levita, na parábola do Bom Samaritano, que ouviram, por certo, os gemidos daquele homem caído à beira do caminho. Jesus também ouve nossos lamentos e queixumes, o grito desesperado de quem perdeu quase toda a esperança, "Senhor, tende compaixão".


Sempre haverá vozes contrárias, tentando abafar esse grito de quem já não encontra mais razão para viver. Há aqueles que, como esse grupo numeroso que segue a Jesus, querem dele se apossar, fecham o anúncio e a graça em suas "Igrejinhas particulares", idealizam um Jesus exclusivo que só atende a eles, os santos, justos e perfeitos, como o grito dos casais em segunda união, talvez seja o grito de tantas jovens mães solteiras, ou o de drogados e prostituídos, de pessoas rotuladas como irrecuperáveis, banidos de nossas relações, explorados pelo sistema pecaminoso, e oprimidos muitas vezes pelo próprio poder religioso, de tantas igrejas que se intitulam de "Cristãs".


O grito de desespero não passa despercebido por Jesus. Quando o seu povo gemia sob o chicote dos faraós do Egito, Deus ouviu, viu e desceu para libertá-los. A Igreja de Cristo não pode tapar os ouvidos diante de tantos que gritam, às vezes dentro da própria comunidade. A Igreja de Cristo não pode abafar o clamor dos pequenos que perderam a esperança e a ela recorrem, deve ser aquela que chama o cego, o acolhe em seu meio, coloca as pastorais à disposição para lhe curar as feridas, e mais ainda, o encoraja a fazer esse encontro pessoal com aquele que é a Vida, a Verdade, o caminho .

Coragem! Levanta-te, Ele te chama! Jesus chama esse homem cego, morto, como um dia chamou a Lázaro, inerte no fundo de uma sepultura. O chamado de Jesus é para a Vida, para desencostarmos do barranco do comodismo, e de olhos bem abertos, na visão da Fé, abraçar o discipulado com coragem e desprendimento.