20º. DOMINGO COMUM

ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

20/08/2023

(Para as dioceses em que a festa da Assunção foi comemorada no dia 15, por favor, veja os textos após este)

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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO

TODOS OS VÍDEOS DE DOM JÚLIO


1ª Leitura Apocalipse 11,19a; 12,1-6a.10ab

Salmo 44(45) R- À vossa direita se encontra a rainha, com veste esplendente de ouro de Ofir

Segunda Leitura: 1 Coríntios 15,20-27a

Evangelho Lucas 1,39-56 (Cântico de Maria). 

Proclamação do evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naqueles dias, 39Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judeia. 40Entrou na casa de Zacarias e cumprimentou Isabel. 41Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou no seu ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. 42Com um grande grito, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! 43Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? 44Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança pulou de alegria no meu ventre. 45Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu”.46Então Maria disse: “A minha alma engrandece o Senhor, 47e o meu espírito se alegra em Deus, meu salvador, 48porque olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada, 49porque o Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor. O seu nome é santo, 50e sua misericórdia se estende, de geração em geração, a todos os que o respeitam. 51Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os soberbos de coração. 52Derrubou do trono os poderosos e elevou os humildes. 53Encheu de bens os famintos e despediu os ricos de mãos vazias. 54Socorreu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, 55conforme prometera aos nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre”. 56Maria ficou três meses com Isabel; depois voltou para casa. – Palavra da salvação.


Meu irmão, minha irmã!

Lc 1,39-56

Hoje nós nos unimos para cantar com Maria: “todas as gerações me chamarão bem-aventurada, porque o Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor”. O que nos ensina a exaltação da serva Maria?

1. A assunção é um privilégio. Um privilégio que nos ensina e nos revela o desígnio de Deus em relação a todos nós. 

O privilégio da assunção consiste na união admirável de Maria com Cristo, uma união de corpo e de alma que começou na Anunciação, mas que cresceu sempre mais ao longo dos anos e da vida de Maria e que alcança a plenitude na assunção.

2. Toda a vida de Maria foi um caminhar na fé. O evangelho que acabamos de ouvir nos mostra como essa união com Cristo (sua concepção virginal) se desdobra no anúncio e no serviço. “Ela foi apressadamente...”.

Este breve relato mostra quais são as características da ação da jovem Maria: ela é capaz de um amor atento, concreto, alegre e terno. 

Seu amor é atento: Maria não precisa de pedidos para compreender a necessidade da prima Isabel, de idade madura e à espera de um filho. Intui a necessidade e corre ao seu encontro: seu olhar, nutrido de amor, compreendeu o que se devia fazer muito além de qualquer comunicação verbal. “Ubi amor, ibi oculus”: onde existe o amor, o olho vê aquilo que um olhar sem amor não sabe ver.

À atenção, Maria une a concretude: não perde tempo sonhando com boas intenções. Age com prontidão. A expressão “apressadamente” (v. 39) fala da solicitude e da urgência com que concretiza a decisão de ir ajudar a Mãe de João. Santo Ambrósio comenta: “A graça do Espírito Santo não tolera delongas” (Expositio in Evangelium secundum Lucam, 2,19)! 

Depois, o amor de Maria é perpassado de alegria: ela não realiza seus atos como cumprimento pesado de um dever ou como obediência a uma obrigação imposta pelas circunstâncias. Nela tudo é gratuidade, bem que se difunde, generosidade vivida sem cálculo ou constrangimentos. A sua alegria (evangelii gaudium) consiste em se sentir tão amada que percebe a obrigação de amar como um corresponder ao amor recebido.

Exatamente por isso, tudo em Maria se vive em plenitude a ternura, isto é, o amor que gera alegria, que não cria distâncias nem cria dependência. O amor de Maria não é somente alegre, o seu amor enche o outro de alegria, enche o outro com o espanto e a beleza de se descobrir objeto de puro dom. “Como mereço que a mãe do meu Senhor venha me visitar? Logo que a tua saudação ressoou nos meus ouvidos, o menino pulou de alegria no meu ventre” (v. 43s). Ternura é dar despertando alegria no amado: quem não ama com ternura, cria dependências ou mantém distâncias nas quais é impossível desencadear a alegria.

Nisso tudo, a fé de Maria, que se irradia na caridade, é um modelo para nós, especialmente nas relações familiares e comunitárias. 

3. É esse o mistério que a liturgia de hoje proclama: “Aurora e esplendor da Igreja, ela é consolo e esperança para o vosso povo ainda em caminho, pois preservastes da corrupção da morte aquela que gerou vosso Filho feito homem”. 

Notem que a liturgia fala da Assunção como nosso consolo e esperança. A assunção de Maria revela qual é a vontade de Deus, qual é o seu desígnio, qual é o seu desejo em relação a nós: é a nossa glorificação em corpo e alma, de todo nosso ser, não somente de uma parte de nós. O que exaltamos em Maria é, ao mesmo tempo, a expressão de nossa esperança no desígnio de Deus. A Assunção é confirmação e realização antecipada do nosso destino de salvação. Deus revela não só com palavras, mas também com fatos a sua vontade.

4. A Assunção confirma a unidade do ser humano (corpo e alma) e nos confirma que devemos glorificar e servir a Deus com todos o nosso ser (corpo e alma).

Servi-lo só com o corpo é escravidão. Servi-lo só com a alma é dedicar-lhe um amor distante e irreal. 

Viver neste mundo servindo e amando Deus, viver unido com Jesus Cristo, viver como Maria viveu nos levará a sermos glorificados em corpo e alma como aconteceu com Cristo e como aconteceu com Maria.

Perguntemo-nos: Qual é meu estilo de vida? Como Maria, sou atento ao outro, às suas necessidades evidentes e também as ocultas? Sei ser concreto no meu modo de amar? Meu amor é terno como o de Maria, gerando alegria e a paz no coração do outro? Procuro manifestar atenção e solidariedade com quem sofre?

Ó Maria, Nossa Senhora da Ponte! Logo depois que o anjo te anunciou que serias a “Mãe do meu Senhor”, te dirigiste apressadamente à casa de Zacarias e de Isabel. Foste para a “região montanhosa”; subiste colinas e montes; atravessaste vales com teus passos rápidos e decididos.

Em ti e por meio de ti, Jesus se tornou itinerante antes mesmo de nascer. Em ti e por ti, Jesus colocou em prática o que Ele próprio ensinaria aos discípulos: “não leveis bolsa, nem duas túnicas, não saudeis ninguém pelo caminho; em qualquer casa que entrardes dizei: ‘a paz esteja nesta casa’”.

Como correste, ó Maria! Desejo também te acompanhar para levar Jesus aos outros. “Como são belos os pés de quem anuncia a paz”. Prometo me esforçar em seguir teus pés velozes. Peço que tenhas paciência comigo se me atraso por causa de meus pecados.

Olha com benevolência quem te admira e te ama.


DOM JULIO ENDI AKAMINE 

Arcebispo Metropolitano de Sorocaba 

https://pt-br.facebook.com/domjulioendi.akamine

Créditos do áudio: Rádio Uniso 

20º DOMINGO DO TEMPO COMUM -ANO A

20/08/2023

(Para os lugares em que a Assunção é comemorada no dia 15). 

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AS LEITURAS DESTA PÁGINA E DO MÊS TODO

 

TODOS OS VÍDEOS DE DOM JÚLIO

 

1ª Leitura: Isaías 56,1.6-7 

Salmo Responsorial 66(67) R- Que as nações vos glorifiquem, ó Senhor, que todas as nações vos glorifiquem! 

2ª Leitura: Romanos 11,13-15.29-32 

Evangelho de Mateus 15,21-28 

Partindo dali, Jesus foi para a região de Tiro e Sidônia. 

22 Uma mulher Cananéia, vinda daquela região, pôs-se a gritar: “Senhor, filho de Davi, tem compaixão de mim: minha filha é cruelmente atormentada por um demônio!” 23 Ele não lhe respondeu palavra alguma. Seus discípulos aproximaram-se e lhe pediram: “Manda embora essa mulher, pois ela vem gritando atrás de nós”. 24 Ele tomou a palavra: “Eu fui enviado somente às ovelhas perdidas da casa de Israel”. 25 Mas a mulher veio prostrar-se diante de Jesus e começou a implorar: “Senhor, socorre- me!” 26 Ele lhe disse: “Não fica bem tirar o pão dos filhos para jogá-lo aos cachorrinhos”. 27 Ela insistiu: “É verdade, Senhor; mas os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa de seus donos!” 28 Diante disso, Jesus respondeu: “Mulher, grande é tua fé! Como queres, te seja feito!” E a partir daquela hora, sua filha ficou curada. 


Meus irmãos, minhas irmãs! 


Mt 15,21-28

A cena da mulher cananéia é uma das mais tocantes do Evangelho. 

A fé dessa mulher e a fé do centurião romano estão em contraste com as resistências dos fariseus e dos doutores da lei, com a falta fé dos conterrâneos de Nazaré e com a pouca fé dos discípulos de Jesus.

A fé da mulher cananéia está aí para nos dizer que nós não temos direito à graça de Deus, que Deus é indisponível, que não somos nós a dispor de Deus para nossos interesses. A mulher cananéia nos ensina que só a fé dá acesso ao pão dos filhos.

O episódio de hoje mostra os limites da missão histórica de Jesus e a sua superação. A mulher cananéia é a antecipação profética da superação dos limites da missão e da evangelização. A fé em Cristo superou os limites e os muros de separação entre puros e impuros, entre judeus e gentios.

A fé abate as fronteiras que opõe os cães e os filhos. Nas palavras de Jesus, o pão são os bens que são próprios do povo de Israel, por sua vocação e pelas promessas de Deus. Através da fé, a cananéia participa da promessa feita a Abraão e à sua descendência. Os dons de Deus são sem arrependimento: a precedência do povo eleito não é negada nem retirada, mas dela participamos se, como a cananéia, pedimos com humildade e confiança. 

Temos que reconhecer que, no plano de Deus, primeiro vêm os direitos e as necessidades do povo eleito. Com esse tocante episódio, reconhecemos, porém, que a fé da mulher pagã e a bondade de Jesus superam qualquer privilégio. 

O silêncio de Jesus põe à prova e purifica a fé da cananéia. A comparação com os cachorrinhos revela a posição de Jesus que age por exclusão. Jesus argumenta que não fica bem tirar o pão dos filhos para dar aos cachorrinhos. Assim dar a uns significa excluir outros.

A mulher aceita humildemente o papel de “cachorrinho”, mas devolve o argumento de modo a “vencer” a lógica excludente de Jesus. Ela pensa com uma lógica diferente: umas migalhas da mesa de Jesus são também o pão, e com essas migalhas a mulher se contenta, porque as migalhas equivalem ao mesmo pão que está na mesa dos filhos.

A conversão para uma nova pastoral urbana inclui necessariamente o movimento missionário da Igreja em direção de todas as periferias humanas e sociais. Ir para as periferias existenciais para escutar os apelos das periferias: nelas a cananéia de hoje clama por socorro. Mais ainda a cananéia que nós encontramos nos mostra que o abismo que há entre os cachorrinhos e os filhos é superado pelo pão que alimenta tanto uns quanto os outros.

Um critério para a pastoral em nossa Arquidiocese é o movimento permanente de ir ao encontro da cananéia que está na periferia para escutá-la e deixar nos converter reconhecendo que o que coloca em comunhão os filhos e os cachorrinhos é o Senhor, o pão descido dos céus. As migalhas com as quais a cananéia se contenta é um protesto e, ao mesmo tempo, uma profecia. Protesto porque aos pobres não se deve reservar somente as migalhas, porque as migalhas revelam a existência de barreiras que separam os filhos dos cachorrinhos. Profecia porque, no fim das contas, as migalhas são também o pão que desceu do céu para dar a Vida ao mundo, porque o pão é mesmo tanto para os cachorrinhos quanto para os filhos. É o pão que nos torna todos comensais da mesma mesa e dos mesmos dons.

Rezemos pedindo ao Senhor que nos envie e que nos atraia para as periferias existenciais de nossa Arquidiocese.

Supliquemos ao Senhor que nos ajude a ouvir os clamores que vêm das periferias existenciais. É um clamor que pede o pão dos filhos, que nos faz ver que somos alimentados pelo mesmo pão de Vida. É um clamor que nos faz ver que as migalhas são preciosas, mas não devem permanecer migalhas, que mesmo que deixem de ser migalhas não deixam de ser o pão que desce dos céus.



DOM JULIO ENDI AKAMINE 

Arcebispo Metropolitano de Sorocaba 

Créditos do áudio: Rádio Uniso